quinta-feira, 6 de novembro de 2008

PF faz busca e apreensão e leva laptop do delegado Protógenes


Mentor da missão que investiga Dantas é alvo de inquérito sobre vazamento de informações sigilosas
Mentor da Operação Satiagraha, missão federal que investiga o banqueiro Daniel Dantas em suposto esquema de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes fiscais, o delegado Protógenes Queiroz tornou-se ontem alvo da Polícia Federal, corporação que integra há quase dez anos. Pouco depois das 5 horas da manhã, ele foi abruptamente despertado por uma equipe de agentes e delegados federais, munidos de mandado de busca e apreensão expedido pelo juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Os policiais vasculharam o apartamento 2508, no 25º andar do Shelton Hotel, no centro da capital - endereço que Protógenes, que reside em Brasília, ocupa quando se desloca para São Paulo. Ele chegou à capital paulista na noite de terça-feira para ministrar uma palestra sobre corrupção para alunos da PUC-SP.

Os federais levaram o notebook do delegado - que prendeu Dantas no dia 9 de julho, na polêmica Operação Satiagraha. Também foram recolhidos o rádio e o celular de Protógenes. A ele não foi exibida a ordem judicial. "Em toda minha vida profissional, nunca havia sido submetido a tamanha humilhação e constrangimento", reagiu.

Protógenes atribui a ação policial a Dantas e suas influências. "Não tenho dúvidas e isso mais tarde vai ser revelado", disse o delegado, que qualificou de "trama" a busca no apartamento em que se hospeda. Para ele, a ação está relacionada ao julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do mérito dos habeas corpus que libertaram Dantas da prisão. O julgamento está marcado para hoje. Protógenes, no entanto, acredita que algum ministro vá pedir vista e adiar a decisão.

E insistiu na tese de que é alvo de uma armação. "Os próprios fatos dizem. Isso ocorre mais uma vez para desfocar o trabalho principal da PF. O alvo principal é Daniel Dantas, que está sendo inclusive processado criminalmente por corrupção. Não tenho dúvidas de que ele será condenado à altura do que a sociedade merece. Lugar de bandido é na cadeia", declarou.

Referindo-se ao banqueiro, foi enfático: "A ditadura da corrupção implantada no País vai acabar. No País não tem mais analfabeto. Pode ter analfabeto de letras, de assinar o nome; agora, analfabeto político, de saber o que é certo e o que é errado, não existe mais. Vai chegar o momento em que a população vai cobrar a punição para esses criminosos, a segregação para esses criminosos."

"O que mais me deixa indignado é que, a pretexto de apreender coisas na casa do Protógenes, tiveram um intuito maior, o de ferir uma organização familiar estruturada, que sofreu muito", acrescentou, citando o trauma sofrido por seu filho de sete anos, Juan, que se submete a tratamento psicopedagógico. "Eu consigo superar todas as adversidades. Nada me abate. Não vou recuar." Ele supõe, no entanto, que essa investigação coberta de sigilo visa a "criar provas para o bandido".

AÇÃO COORDENADA

Outras equipes da PF, simultaneamente, fizeram blitze em outros dois endereços de Protógenes, em Brasília e no Rio - onde mora seu filho Felipe, de 22 anos. Também nesses locais foram recolhidos pertences e equipamentos do delegado, alvo de inquérito que investiga vazamento de informações sigilosas da Operação Satiagraha.

O inquérito, presidido pelo delegado Amaro Vieira Ferreira, da Delegacia de Polícia Fazendária da PF em São Paulo, apura ainda suspeita de grampos ilegais. Além de Protógenes, são investigados agentes de sua equipe, que também sofreram busca e apreensão por ordem judicial.

A devassa nos endereços de Protógenes foi requisitada formalmente pela PF, mas o procurador da República Roberto Diana manifestou-se contra a inspeção e a apreensão de seus bens.

Ontem, o delegado protestou contra o que chamou de "falta de critério" para as apreensões, que incluíram fotos, arquivos da palestra e até a monografia do Curso Superior de Polícia, sobre inquérito policial, que terá de apresentar até o dia 18.

No fim da tarde, revoltado, Protógenes declarou ser vítima de uma retaliação da própria instituição por ter, no auge da Satiagraha, denunciado à Procuradoria da República suposto boicote de superiores às investigações. O delegado acabou afastado da condução do inquérito Satiagraha e ficou marginalizado na instituição. Com base na denúncia de Protógenes, o procurador Roberto Diana abriu procedimento para apurar a conduta da cúpula da PF.

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