A declaração do prefeito eleito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), sobre suposta interferência de "correntes políticas de São Paulo" na campanha eleitoral mineira para favorecer o candidato do PMDB, Leonardo Quintão, serviu como um alerta para a cúpula tucana. Setores do PSDB viram no gesto sinal de uma campanha de bastidor para enfraquecer a pré-candidatura do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), à Presidência da República.
Lacerda, em entrevista ao "Estado de S.Paulo", afirmou ter notícias de que a campanha do seu adversário teve "apoio financeiro muito forte de São Paulo" e de "correntes que não queriam o sucesso" do governador Aécio Neves (PSDB), de Minais Gerais. Serra e Aécio são os dois nomes do PSDB cotados para encabeçar a disputa presidencial de 2010. Lacerda foi apoiado por Aécio e pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT).
Lacerda disse, ainda, que Aécio e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) - seu padrinho político - não têm "aquela fome de ser presidente que Serra tem". Setores do PSDB preferem achar que Ciro Gomes - e não Aécio - está por trás das acusações de Lacerda. Querem evitar uma crise interna no PSDB. O prefeito eleito foi secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional em 2003, na gestão de Ciro.
"Pato novo, quando mergulha fundo, corre perigo", afirmou ontem o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), referindo-se às declarações de Lacerda, vistas como tentativa de atingir Serra. "É bom ele (Lacerda) se preocupar com seu partido e não opinar sobre o meu. Se quiser, que o faça. Mas sem torcer os fatos. O governador Serra não se intrometeu na eleição de Minas. Disse, apenas, que o modelo adotado em Belo Horizonte (aliança do PT com o PSDB) não é fácil repetir", disse Virgílio.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), foi o primeiro a reagir ao que considerou "insinuações" do prefeito eleito, negando que Serra tenha atuado durante a campanha a favor da candidatura de Quintão. Em São Paulo, o candidato de Serra - o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que foi reeleito - disputou em aliança com o PMDB.
"A atuação dos dois governadores, Serra e Aécio, foi coordenada pelo partido", disse Guerra. Segundo ele, "não há nenhuma chance" de Serra ter interferido na campanha de Belo Horizonte para prejudicar o candidato de Aécio. Assim como, segundo ele, o governador mineiro não atuou em São Paulo sem o conhecimento do partido. Guerra lembrou que o apoio de Aécio à candidatura de Lacerda, numa aliança com o PT, foi aprovada por unanimidade pela Executiva Nacional do PSDB - o que não ocorreu no PT.
O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), não viu problemas na declaração de Lacerda - a não ser para o PSDB. "Se a colaboração financeira (para a campanha de Quintão) foi legal, lícita, não vejo problema nenhum, a não ser a repercussão política das relações internas do PSDB", disse. O que chamou a atenção de Casagrande, na entrevista, foi a definição que Lacerda fez da aliança ocorrida em Belo Horizonte - "de centro-esquerda" - e a de São Paulo - "centro-direita". Para Casagrande, o prefeito eleito tem razão, porque a aliança feita em São Paulo é de "direita, conservadora".
Ele considerou natural que Lacerda se posicione claramente com relação aos projetos colocados para o Brasil hoje. Segundo o líder, o projeto do PSB é fortalecer a candidatura de Ciro Gomes em 2010.