sexta-feira, 6 de junho de 2008

Dilma, alvo da oposição, e do 'fogo amigo'


A acusação de que fez tráfico de influência na venda da Varig atinge a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, num momento em que ela sai do alcance da CPI dos Cartões, definitivamente, e que sua candidatura em 2010 se consolida entre os ministros mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma foi inclusive escalada para aparecer no programa partidário do PT, veiculado ontem, como a principal gerente do PAC.

No núcleo do governo as acusações contra Dilma são vistas como parte do jogo eleitoral. O atestado da ministra é de bons antecedentes, até por seu relacionamento com os personagens envolvidos na venda da Varig. Mas ficou claro no Planalto que sua candidatura preferencial, como Lula tem deixado explícito, transformou Dilma num alvo fixo da oposição e fogo amigo do PT. Neste caso, o que mais preocupa são os questionamentos do ministro Tarso Genro (Justiça).

Anteontem, Genro disse ao Valor que é errada a interpretação de que se formou no governo uma frente de ministros para impedir a consolidação da candidatura da ministra Dilma. O ministro admitiu que essa interpretação ganhou curso talvez devido a erros no seu próprio enunciado, mas manteve os conceitos que emitiu sobre a sucessão, numa entrevista concedida há duas semanas ao jornal "Zero Hora", de Porto Alegre. Na entrevista ao jornal gaúcho, Genro citou, além dele próprio, os ministros Luiz Dulci (Secretário Geral), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), os governadores Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Déda (Sergipe), além do assessor para assuntos internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia.

"Nós jamais nos reunimos para discutir a sucessão presidencial e sequer a candidatura Dilma", afirmou Genro. Por dois motivos, segundo explicou a seguir: "Primeiro, porque isso não é um tema partidário ainda; e segundo, porque a candidatura da Dilma não foi proposta. Nem dentro do governo e nem dentro do partido". Para Tarso Genro, "ela é apenas - e é um nome importante - um nome forte, que tem enorme respeito e acolhimento de vários dirigentes partidários, mas que não é um nome em discussão". Mas Genro faz uma ressalva: "Ela está lá merecidamente. Ela coordena o PAC".

Quando Tarso Genro expôs o problema, a reação inicial entre ministros citados foi negar publicamente a existência do grupo, o que, na prática, significava desmentir o ministro da Justiça e amplificar o que estava restrito ao Rio Grande do Sul. Luiz Dulci, por exemplo, ficou esperando que o próprio Genro tomasse a iniciativa. Genro estava em férias, mas na terça-feira e na quarta-feira esteve no ministério, em mangas de camisa, onde conversou com jornalistas sobre sua posição, que ele, aliás, não considera diferente do que vem sendo defendido pelo presidente Lula - "o PT deve ter um candidato que consiga somar sua respeitabilidade pública com vínculo partidário", condições que hoje só Lula reúne ao mesmo tempo, no partido.

Localizado em El Salvador, o ministro Patrus Ananias foi o primeiro a dizer que discutia assuntos partidários e programáticos - o desenvolvimento social e o crescimento econômico, por exemplo -, mas que ainda não abrira a temporada de discussão sobre a sucessão presidencial. Responsável pelo programa Bolsa Família, um dos carros-chefe do governo, Patrus costuma ser citado no PT como presidenciável em potencial. E mineiro como o ministro Luiz Dulci, que tem uma opinião muito clara sobre a candidatura do PT: "Não havendo nenhum candidato natural, eu prefiro uma pessoa com perfil novo", costuma dizer o secretário-geral da Presidência da República, sob o argumento de que essa é a leitura que ele tem da política. "Eu sou muito amigo do Patrus, trabalhei no governo dele (nos anos noventa, quando o ministro foi prefeito de Belo Horizonte), sou amigo do Jaques Wagner (governador da Bahia), mas acho que a Dilma tem um componente de perfil que estabelece a diferença: a dimensão técnico-gerencial". Dilma é criticada no PT por não ser uma militante partidária nem ter uma carreira eleitoral.

A exemplo de Dulci, outro remanescente do grupo próximo que Lula levou para o governo também defende a candidatura Dilma. É Marco Aurélio Garcia, o assessor para assuntos internacionais de Lula e - atualmente - único dirigente do PT com assento no Palácio do do Planalto. "Acho o nome mais consistente que nós temos", disse Marco Aurélio ao Valor, depois de conversar com Genro e ter situado as inquietações intelectuais do ministro da Justiça dentro de um "clima novo" que estaria sendo vivido pelo PT, "que tem implicado num espectro muito grande de forças políticas - agora, tentar a partir dai deduzir coisas (a existência da frente contra Dilma) não me parece refletir a realidade".

O assessor do presidente Lula diz não querer projetar suas expectativas, mas acha Dilma Rousseff "um excelente nome para consolidar o programa atual". Marco Aurélio adverte para o fato de que há uma coalizão de governo, mas que ainda é "uma coalizão muito tímida, muito restrita". Ele considera que é preciso "coesão em torno de um programa que ainda não está claro para todas as forças políticas", disse. "Nessas circunstâncias, a ministra Dilma é um nome altamente qualificado". Marco Aurélio diz que o que o PT precisa "é acertar na política, entender que somos um partido de governo, definir qual é a relação que nós vamos ter como tal - temos um projeto nacional e precisamos assumi-lo e tirar conseqüências disso".

Muito embora Marco Aurélio Garcia não tenha se sentido incomodado com as elucubrações de Genro, no PT lulista há quem diga que é ele quem mais preocupa o governo. Isso porque se o PAC "afundar", a candidatura Dilma "afunda junto" e terá em Tarso Genro um eventual candidato ajudando a puxar o barco para o fundo. Tarso Genro não vê condições objetivas para que venha a ser candidato. Por três motivos: é líder de um movimento dentro do partido (a corrente Mensagem) que teria dificuldade para fazer um acordo majoritário em torno de seu nome; o ministro que ocupa, o da Justiça, não lhe oferece "capilaridade" política e ele mesmo "jamais permitiria" que seu nome circulasse no partido sem o aval de Lula. "E o presidente Lula não deu até hoje a ninguém, ao que eu saiba, permissão para para fazer essa articulação - se o fez de maneira reservada, é um direito dele. Para mim, pelo menos, não fez".


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