segunda-feira, 9 de junho de 2008

IPT do Serra investiga obra do Serra. Pode?


Ex-chefe do IPT diz que pagamento do Metrô afeta isenção de laudo do instituto


Embora seja "tecnicamente consistente" e esteja de "parabéns" ao apresentar informações que derrubariam a tese de fatalidade na cratera da linha 4 do metrô, a investigação do IPT sobre a tragédia tem sua isenção afetada porque foi paga pelo Metrô, cliente diretamente interessado nos resultados.
A opinião é de Milton de Abreu Campanario, 58, ex-superintendente do IPT -cargo, na época, equivalente ao de presidente- de 1995 a 1998, no governo Mário Covas (PSDB).
Ele condena a prática do instituto de receber pagamento de partes envolvidas para emitir pareceres de interesse público.
O IPT recebeu R$ 6,55 milhões para investigar a cratera. Seu relatório apontou culpa principalmente das construtoras para a tragédia, mas não isentou a estatal, cuja fiscalização considerou deficiente.
Campanario trabalhou no IPT por quase 30 anos. Foi demitido em 2007 após algumas mudanças no instituto -contestadas por ex-funcionários na Justiça sob a alegação de perseguição e denunciadas ao Ministério Público Estadual.
Leia abaixo trechos de duas entrevistas dadas à Folha por Campanario, uma antes e outra depois da divulgação do laudo do IPT. O técnico é PhD em desenvolvimento econômico pela Cornell University e professor da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP): (ROGERIO PAGNAN E ALENCAR IZIDORO)

FOLHA - Qual é avaliação do sr. sobre a investigação do IPT?
MILTON DE ABREU CAMPANARIO - O dinheiro veio do Metrô. Está no site do Metrô, é uma encomenda. Com essa operação mercantil, torna um laudo para a companhia do Metrô, e não para qualquer um. Claramente é um laudo que tem um cliente. Isso é diferente de ter como cliente a sociedade. A isenção é diferente. O tipo de fé a depositar num parecer assim é diferente.

FOLHA - O sr. então reprova que o IPT receba dinheiro dos envolvidos?
CAMPANARIO - Dentro dos manuais de qualidade, quando você faz um laudo técnico tem que ser independente. Não pode ser remunerado por quem eventualmente possa ser indicado como um provável responsável por um dano. O IPT, como um órgão de fé pública, como um órgão extremamente competente, ele teria de desenvolver esse trabalho de perícia com recursos do Tesouro, e não do Metrô, que é um órgão do Estado e que pode ser responsabilizado pelo que aconteceu.

FOLHA - Perde-se a fé pública?
CAMPANARIO - Aí é que está a questão. O [Nick] Barton, por exemplo, é um consultor conhecido no meio técnico, mas também foi contratado pelo consórcio [Via Amarela] para dar um parecer. Isso também não é um laudo técnico. É mera consultoria. Porque ele foi pago para aquilo, por interesse particular. Não estou dizendo que ele deu um parecer enviesado. Estou dizendo que a boa prática não recomenda isso. É a mesma coisa a situação do IPT.

FOLHA - Se o sr. estivesse no IPT, não aceitaria o pagamento assim?
CAMPANARIO - Eu não aceitaria de jeito nenhum. Como não aceitei em alguns casos.

FOLHA - Por que houve a demissão do sr. e de outros funcionários em 2007?
CAMPANARIO - Nós nos colocamos contra a mercantilização do IPT em todas as áreas. O IPT faz testes, faz ensaios laboratoriais para a iniciativa privada, e vende esse serviço. Só que tem um grau, depende do tipo de serviço, que precisa ser absolutamente independente. Assinante

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