sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dilma, uma boa adversária


O Presidente Lula anda eufórico. Razões não lhe faltam. Popularidade alta, governo bem avaliado, oposição buscando rumo. E, de quebra, está conseguindo emplacar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) como pré-candidata à sua sucessão, quando ela parecia abatida pelo caso do dossiê com dados sigilosos de gastos da gestão Fernando Henrique Cardoso( é o que dizem os políticos oposicionistas).

Pesquisas de intenção de voto que circulam entre governistas e oposicionistas mostram que Dilma saiu da sombra e tem conseguido um lugar ao sol entre os presidenciáveis. Quanto mais a oposição tenta responsabilizá-la pelo dossiê, mais ela é defendida publicamente por Lula. As imagens estão coladas. Como o presidente nega sistematicamente a pretensão ao terceiro mandato, seu eleitor começa a enxergar na ministra uma alternativa.

A oposição também começa a se preparar para enfrentar a ministra em 2010. Até então vista como "bode na sala", inviável pela falta de carisma e jogo de cintura, Dilma agora já é tratada na cúpula tucana como potencial opositora na campanha eleitoral - seja de José Serra, seja de Aécio Neves. Seus pontos fracos têm sido analisados. Para os tucanos, a ministra não é má adversária. Não tem empatia, tem discurso técnico e se exalta, quando confrontada.

"Nossos candidatos são melhores. Ela é uma pessoa pouco democrática, claramente autoritária. e o povo não gosta disso", afirma o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Ele está certo de que Dilma é a opção de Lula - até pela falta de outras dentro do PT. Essa não é a avaliação do presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ). Ele diz não acreditar na candidatura de Dilma.

Para ele, o PT não lançará alguém que, como a ministra, não tem história no partido. Além disso, acha que Dilma não está livre de envolvimento no caso do dossiê anti-FHC. Prevê que fatos novos podem atingi-la, tirando-a definitivamente do páreo. No Senado, a oposição continua mantendo a mira em Dilma. Por enquanto, o tiro tem saído pela culatra. Mas a busca é por digitais que a comprometam com o dossiê. Senadores do PSDB conseguiram aprovar a convocação da ministra pela Comissão de Infra-Estrutura para falar sobre o episódio. Governistas tentam anular a convocação.

Ainda falta conquistar o PMDB

O casamento da filha de Dilma, hoje, em Porto Alegre, vai ser transformado em demonstração de força da ministra. Lula estará presente, assim como oito ministros e outras autoridades e aliados. Até o senador José Sarney (PMDB-AP), que enfrentou queda-de-braço com Dilma na nomeação de ocupantes de cargos no setor elétrico, irá ao casamento. A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo, também.

Se começa a ser vista como pré-candidata por ela própria, pelo eleitor e pela oposição, Dilma, por outro lado, ainda enfrenta resistências no PT e desconfiança no PMDB, partido com tal capilaridade nacional e poder congressual que torna-se imprescindível a qualquer governo.

Formalmente, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), mantém o discurso da candidatura própria. Mas o partido não tem nomes. A preferência é por uma aliança com o governador Aécio Neves - caso ele viabilize sua candidatura no PSDB ou mude para o PMDB, sonho não abandonado por dirigentes da legenda.

Os pemedebistas não têm simpatia por uma candidatura de Dilma, que sentou em cima de indicações do partido para o setor elétrico. Ela também não faz afagos ao partido. Com a maior bancada da Câmara e do Senado, sete governadores, 1.300 prefeitos e mais de 8 mil vereadores, o PMDB assiste de camarote à definição do cenário eleitoral. Nada está previamente descartado. Se Dilma se impuser, Aécio não sair candidato e nenhum pemedebista conseguir se viabilizar, o partido vai com a ministra mesmo.

Situação difícil é a do PT. Dilma não é uma opção natural do partido para a sucessão de Lula. Mas, por enquanto, nenhum outro postulante aparece como alternativa a ela. O partido avalia quem mantém 25% do eleitorado nacional - o percentual não é desprezível, mas é insuficiente. A cúpula anda no "fio da navalha", segundo definição de um dirigente do partido, para manter a aliança com o PMDB e com o chamado bloquinho (PSB/PDT/PCdoB/PMN/PRB) em 2010.

O primeiro teste acontecerá nas definições das alianças para as eleições municipais de outubro, principalmente nas cidades de maior visibilidade. O bloquinho tem buscado se distanciar do PT, planejando lançar candidaturas próprias. O segundo teste será na escolha do próximo presidente da Câmara dos Deputados, em 2009. O PT tem compromisso público com o presidente do PMDB. Mas há movimentação no bloquinho para apoiar Ciro Nogueira (PP-PI).

Se esse cenário de disputa se confirmar, a cúpula do PT defende a opção por Temer. "Há uma lei no Brasil: ninguém governa sem o PMDB", define uma liderança petista. O PT precisará agir com habilidade para não se isolar.

Publicamente, os dirigentes partidários dizem ser precipitado falar em 2010. Mas todos só agem pensando nisso. A fase atual é de movimentação das peças em torno de Dilma. Para chegar até 2010, no entanto, ela precisará ser mais do que a preferida de Lula. Precisará de fôlego e jogo de cintura. Saindo forte do episódio dossiê, terá de neutralizar resistências do PT e seduzir o PMDB.

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