sexta-feira, 25 de abril de 2008

PF paulista prende quadrilha acusada de fraudar o BNDES


A Superintendência da Polícia Federal de São Paulo deflagrou ontem a Operação Santa Teresa, que investiga crimes como fraude na concessão de empréstimos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), lavagem de dinheiro, exploração de prostituição e tráfico local e internacional de mulheres. No mesmo dia, dez pessoas foram presas, entre elas o advogado Ricardo Tosto, que é membro do Conselho de Administração do BNDES e já teve como cliente o deputado federal Paulo Maluf. Também foi detido ontem o executivo Boris Timoner, ligado à Lojas Marisa.

Segundo o delegado da operação, Rodrigo Levin, diversos financiamentos feitos pelo BNDES estão sendo investigados, mas com relação a dois deles o desvio está comprovado. Seria um financiamento de R$ 220 milhões para uma loja de rede de varejo - supostamente a Lojas Marisa - e outro para uma prefeitura paulista, de R$ 130 milhões.

O delegado explicou que dois ou três membros da quadrilha usaram a influência que têm com políticos de Brasília para conseguir a liberação dos empréstimos. "Cerca de 3% a 4% do empréstimo são desviados", afirmou Levin em coletiva à imprensa. Considerando o projeto de R$ 220 milhões, isso significa um desvio de R$ 8, 8 milhões.

O delegado descreveu que a empresa procurava um grupo de consultores do BNDES, que indicava qual escritório poderia fazer o projeto de pedido de empréstimo. Levin disse que o escritório fazia o projeto e recebia o pagamento já com uma porcentagem a ser desviada para o grupo de consultores. "De cada parcela mensal do empréstimo do banco, parte era desviada", disse o delegado da operação.

O empréstimo realizado à loja varejista seria para a expansão de lojas, segundo o delegado. Levin disse ainda que a rede varejista já havia tomado empréstimo do BNDES no valor de R$ 174 milhões, em 2007, consumado no ano passado mesmo. Por nota, o BNDES disse que já se colocou à disposição da PF para colaborar com as investigações e tem o máximo interesse no rápido esclarecimento dos fatos. Disse ainda que aguardava a divulgação das operações envolvidas para tomar atitudes práticas.

"O BNDES aguarda a divulgação pela PF das operações do Banco que possam ter sido objeto de ação supostamente criminosa para, a partir daí, providenciar a suspensão imediata dos desembolsos dos financiamentos que estiverem sob investigação, bem como adotar medidas legais que possam ser necessárias", diz a nota.

Lavagem de dinheiro

A investigação começou em dezembro de 2007. O chefe da delegacia de combate a crimes financeiros, Ricardo Saadi afirma que estava sendo realizada uma investigação sobre tráfico internacional de drogas e acabou sendo descoberto tráfico de mulheres e uma casa de prostituição. "Essa casa era usada para a lavagem do dinheiro, que era o desvio dos financiamentos do BNDES", detalhou na coletiva.

Levin afirmou que o dono majoritário da casa de prostituição, que segundo a PF fica na Capital paulista, é também proprietário de uma construtora que realizou obras para uma prefeitura do estado de São Paulo. "Investigamos inclusive se houve licitação para esta obra", afirmou o delegado.

Os demais detidos são empresários, empreiteiros e servidores públicos. "Todos os que foram presos estavam participando ativamente do processo de liberação e distribuição de verbas", afirmou o superintendente regional da PF-SP, Jader Saadi.

O escritório de advocacia Leite, Tosto e Barros divulgou nota contestando a acusação feita contra Tosto. Disse que as operações envolvidas na operação da PF aconteceram antes de o advogado integrar o conselho do banco. "É de se esclarecer ainda que conselheiros do BNDES não têm qualquer função executiva na instituição. Seu papel é consultivo. Sua função é a de debater a política institucional da agência de financiamentos", diz a nota. As prisões efetuadas são temporárias (de cinco dias, renováveis por mais cinco), mas podem ser pedidas prisões preventivas.

Também foram expedidas na operação 18 ordens de busca e apreensão. De acordo com Levin, foi apreendido US$ 220 mil na casa do dono da construtora e foram recolhidos diversos veículos e cheques de valor que ultrapassavam R$ 1 milhão.

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