quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Banco público tem juros menor


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá se reunir hoje com dirigentes de bancos públicos - encontro que até o início da noite de ontem não estava confirmado pelo Palácio do Planalto - para discutir novamente juros e spreads (diferença entre as taxas pagas pelos bancos para captar recursos e as que cobram de seus clientes nas concessões de empréstimos) praticados pelas instituições, que, no seu entender, estão muito altos. A última pesquisa da Fundação Procon-SP, divulgada ontem e realizada em 12 de janeiro, contudo, mostra que os bancos públicos foram os que mais contribuíram para o leve decréscimo nas taxas médias de juros de empréstimo pessoal e cheque especial para pessoa física, medidas a partir dos indicadores das dez principais instituições financeiras do País - juntas elas detêm cerca de 85% das operações de crédito.


Conforme o levantamento, as taxas continuam bastante salgadas, mas cederam um pouco ante dezembro, que praticamente ficou estabilizado em relação a novembro, quando a instituição verificou a maior alta desde 2003, observa Diógenes Donizete, assistente de direção da Fundação Procon-SP. A taxa média para empréstimo pessoal nos dez bancos pesquisados pela entidade (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal - Caixa, HSBC Bank Brasil, Banco Itaú Holding Financeira, Banco Nossa Caixa, Banco Real, Banco Safra, Santander e Unibanco) foi de 6,01% ao mês, comparativamente aos 6,25% ao mês apurados em dezembro, o que representa um queda de 0,24 ponto percentual. Já a taxa média do cheque especial sofreu uma redução de 0,08 ponto percentual, passando a 9,25%, ante os 9,33% ao mês verificados anteriormente.

Segundo o Procon, as quedas no Banco do Brasil (de 23,23%, de 6,50% para 4,99% ao mês), Real (de 8,59%, de 8,15% para 7,45%), HSBC (de 4,35%, de 4,83% para 4,62%) e na Caixa (de 1,11%, de 4,49% para 4,44%) foram determinantes para a redução na taxa média de empréstimo pessoal, já que os demais bancos mantiveram inalterados os seus índices. No cheque pessoal, as quedas nas taxas do Banco do Brasil (de 7,31%, de 8,62% para 7,99% ao mês) e na Caixa Econômica Federal (de 6,14%, de 7,98% para 7,49%) foram as que impactaram o decréscimo na taxa média. As outras instituições pesquisadas também mantiveram suas taxas, exceto a Nossa Caixa, que a elevou em 3,53%, para 8,80%.

A pesquisa do Procon considera contratos de 12 meses para a taxa de empréstimo pessoal e 30 dias para o cheque especial. Os dados também referem-se a taxas máximas pré-fixadas para clientes não preferenciais, explica. Donizete lembra que a taxa média de cheque especial passa a 189,14% ao ano e no empréstimo pessoal, a 101,36% ao ano. O executivo diz que o percentual de redução, apesar de não muito significativo, já era esperado pelo Procon, pelas próprias altas consecutivas anteriormente, a partir do agravamento da crise financeira mundial, e por causa da expectativa de redução da taxa básica de juro (Selic), que será decidida hoje.

Para Donizete, apesar de pequena, a redução pode ser considerada como um sinal de mais queda no futuro, como deseja o presidente Lula, para quem as altas taxas emperram o mercado de crédito, o que contribui para desacelerar o crescimento da economia e tem como consequência o aumento do nível de desemprego. O Banco do Brasil mesmo informou ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que deverá anunciar hoje novas quedas em suas taxas, de acordo com a redução da Selic, que será repassada.

O professor do laboratório de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Keyler Carvalho Rocha, vê com razão a preocupação do presidente em relação aos juros bancários no País, exorbitantes na sua opinião. "Os bancos captam via CDB, poupança e conta corrente. Poupança tem custo baixo, conta corrente não tem custo e CDB gira em torno de 1% ao mês. Emprestam a 6%, 7%, e essa diferença é o spread, que aumenta mais ainda de acordo com o risco." Rocha acredita que os juros estão altos porque os bancos buscam liquidez em momentos de crise. "Cobram caro para emprestar menos. No mundo inteiro está assim."

Uma alternativa para o bancos abrirem mais torneiras do crédito, segundo Rocha, seria o governo diminuir a oferta de títulos públicos, opinião compartilhada pelo economista e consultor da FGV Projetos, Robson Gonçalves. "Nesse cenário atual, uma redução corajosa de um ponto na Selic levaria liquidez para o mercado e irrigaria o crédito, já que os bancos têm preferido se refugiar na compra de títulos", diz. Uma possível redução na Selic deixa o mercado de títulos menos atrativo, já que a remuneração está atrelada à taxa.

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