segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Com 49% do Votorantim, BB terá que elevar capital


A aquisição de metade do Banco Votorantim, anunciada na sexta-feira, irá obrigar o Banco do Brasil a emitir dívida no mercado financeiro para restabelecer um patamar confortável de capital que dê suporte à expansão de sua carteira de crédito. Para o BB, o Votorantim é uma chance de ampliar o crédito a empresas e pessoas físicas, sobretudo financiamentos de veículos. Mas provocará queda de um ponto percentual no chamado índice de Basiléia, que encerra dezembro em 12,5%, próximo ao mínimo legal, fixado em 11%.

Fontes do BB reconhecem que, nesse patamar, o índice de Basiléia tem pouca margem para alavancar crédito. Mas dizem que já estão tomando medidas. A opção será captar recursos pela emissão de dívida subordinada, que compõe o chamado capital nível 2 do patrimônio de referência. A expectativa é que, em março, o índice fique em torno de 13%, já contando com a expansão de crédito esperada para o período. Na sexta-feira, o BB anunciou a compra de metade do Votorantim, sétimo maior banco em volume de ativos e terceiro maior banco privado nacional. O banco federal ficará com 49,99% do capital votante e 50,01% das ações preferenciais, num negócio que envolve R$ 4,2 bilhões.

A operação terá três etapas. Primeiro, o Votorantim distribuirá R$ 750 milhões em dividendos para a Votorantim Finanças, holding que detém o capital do banco. Em seguida, o BB pagará à Votorantim Finanças R$ 3 bilhões por 45% do capital do Banco Votorantim. Por último, o BB fará um aporte de R$ 1,2 bilhão no Banco Votorantim, por meio da emissão de ações. Assim, terá uma participação total de 50%.


A distribuição de dividendos, de parte dos lucros acumulados pelo banco, permitirá que o grupo Votorantim embolse essa fatia do dinheiro sem a tributação que incidirá sobre o pagamento de R$ 3 bilhões à Votorantim Finanças.

O presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, será o presidente do conselho de administração. O atual presidente executivo do Banco Votorantim, José Ermírio de Moraes Neto, passará a ser o vice-presidente do conselho. Haverá ainda três membros indicados pela Votorantim e três pelo BB. O banco passa a ser presidido por Wilson Massao Kuzuhara, atual vice-presidente, e toda a diretoria será mantida.


"A gestão será compartilhada", disse Lima Neto. "Todas as decisões serão tomadas por consenso e não haverá voto de qualidade." Ermírio de Moraes Neto diz que não haverá ingerência nas nomeações de executivos. "O Banco Votorantim é uma meritocracia." O vice-presidente de finanças do BB, Aldo Mendes, explicou que o grande ganho com a operação é a financeira do Votorantim, a BV Financeira, a quarta maior no financiamento de veículos, com uma carteira de R$ 16,8 bilhões e uma participação de 12% no mercado.

O BB montou nos últimos anos uma operação de financiamento de veículos em suas agências, que permitiu chegar a 4% do mercado. O modelo tem limitações. O BB tem pouca presença nas concessionárias, onde é fechada a maior parte dos negócios. A operação em um banco de varejo tem custos fixos altos, como agências e funcionários. A financeira tem basicamente custos variáveis, como comissões dos agentes.

"Os bancos privados já compraram suas financeiras", disse Mendes. Antes da operação, o crédito de veículos representava apenas 10,9% do crédito a pessoas físicas do BB. Junto com o Votorantim, esse percentual sobe a 30,6%. Mendes acha que o BB pode crescer porque o percentual está abaixo do Itaú e Unibanco (50,9%) e Bradesco (49%).


O BB tinha anunciado, no ano passado, parceria com o banco sul-africano First Rand para criar uma financeira para atuar em veículos. Nesse negócio, o BB teria 75% de participação e, portanto, fatia maior nos lucros. A crise financeira fez os sul-africanos desistirem do negócio. No negócio com o Votorantim, os resultados serão divididos meio a meio. "No caso do First Rand, era uma operação nova, com maior risco", disse Lima Neto. "O Votorantim é uma operação já consolidada."

Ermírio de Moraes Neto negou que a venda de metade do banco tenha a ver com a crise financeira. "Não somos um banco pequeno ou médio e continuamos a operar normalmente." O objetivo, diz, foi buscar recursos para alavancar operações. "Temos uma máquina com capacidade para fazer negócios, que vai receber mais combustível."

Ele negou ainda que nos últimos meses tivesse negociado com o Bradesco. Segundo Ermírio de Moraes Neto, os recursos da venda serão aplicados apenas na área financeira do grupo, sem direcionar dinheiro para a área industrial. Lima Neto disse que, mesmo antes da crise, os dois bancos chegaram a iniciar negociações, não levadas adiante.

Será feito um estudo para, em 120 dias, decidir o que acontecerá com a marca do Banco Votorantim - se, por exemplo, será associada ao logotipo do BB. Com a operação, o BB passa a administrar R$ 553 bilhões em ativos, ficando R$ 22 bilhões atrás da soma de Itaú e Unibanco.


Mendes lembrou que o Votorantim controla uma corretora, tipo de empresa financeira que o BB não possui. "Poderemos oferecer serviços de corretagem a nossa base de clientes, aproveitando a popularização do mercado acionário", explicou. O Votorantim também tem atuação forte no crédito a empresas grandes e de médio porte. (Colaborou Vanessa Adachi, de São Paulo)

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