terça-feira, 20 de janeiro de 2009

General Félix na mira de Jobim


O ministro da Defesa, Nelson Jobim, negocia nos bastidores a derrubada do general Jorge Armando Félix da chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ministério ao qual a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está vinculada. A operação, costurada desde a queda de Paulo Lacerda da direção-geral da Abin, conta com o apoio de parte da cúpula do Exército e de setores do serviço secreto insatisfeitos com Félix. A negociação deve ser deflagrada nos próximos meses, aproveitando uma eventual acomodação política que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faria para terminar o mandato.

Jobim já escolheu seu candidato a ministro do GSI. Trata-se do general-de-exército Darke Nunes de Figueiredo, de 65 anos. Darke tem trânsito no Palácio do Planalto, já tendo ocupado a chefia da segurança pessoal do ex-presidente Fernando Collor. Ele tem experiência na área de inteligência e de segurança. Atualmente, ocupa a chefia do Estado Maior do Exército, segundo cargo mais importante da hierarquia da Força.

Desde setembro, o ministro da Defesa está em rota de colisão com o chefe da Segurança Institucional. Quando surgiu o grampo da conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, foi Jobim quem levou ao presidente Lula o pedido de afastamento de Paulo Lacerda da direção da Abin. A agência virou alvo porque se atribuiu a ela o grampo contra Mendes. Com essa manifestação, o ministro da Defesa, que é ex-presidente do STF, vocalizou o desejo dos colegas de toga. Durante reunião no Palácio do Planalto, Jobim disse a Lula, na frente de Félix, que a Abin tinha equipamentos para fazer grampos. Essa informação foi decisiva para que Lula retirasse Lacerda da Abin, o que irritou o ministro do GSI.

Depois disso, os dois ministros trocaram acusações públicas sobre qual órgão, de fato, possui aparelhos capazes de realizar interceptações telefônicas. A Abin, vinculada a Félix, acusou o Exército, ligado a Jobim, de comprar, nos Estados Unidos, equipamentos que fazem grampos. Jobim contra-atacou. Enviou à CPI dos Grampos um laudo do Exército segundo o qual a agência é quem tinha aparelhos para grampear.

Cartada
Se bem sucedido, o movimento de Jobim resolveria dois problemas numa só cartada. O ministro da Defesa derrubaria Félix, que se tornou seu desafeto. Com a eventual nomeação de Darke Nunes para a Segurança Institucional, Jobim agradaria um grupo na cúpula da caserna porque abriria mais uma vaga de general-de-Exército, com quatro estrelas. Até o meio do ano, três dos 16 generais-de-exército devem ser reformados. Com Darke, seriam 25% de renovação no topo da carreira dos generais. Isso provocaria efeito cascata nas promoções, beneficiando militares de patentes mais baixas, que teriam maiores chances de serem promovidos. De quebra, haveria um ministro aliado no Palácio do Planalto acostumado ao jogo político, talento que Félix não tem.

Remanescente do começo do governo Lula, em 2003, Félix chegou ao cargo por indicação do general Oswaldo Muniz Oliva, pai do senador Aloísio Mercadante (PT-SP). Ao colocá-lo no GSI, Lula fugiu à tradição dos “alemães do Exército”, que fez fama nas ditaduras de Emílio Garrastazu Médici (1969-74) e Ernesto Geisel (1974-79). O pai do ministro do GSI é de origem libanesa.

Mas a avaliação de ministros palacianos é que Félix se enfraqueceu na crise dos grampos e coleciona um histórico de erros à frente da pasta É nesse vácuo político que Jobim costura o nome de Darke. O ministro da Defesa, entretanto, corre contra o tempo. O chefe do Estado Maior vai para a reserva em dezembro, quando completará 66 anos. Jobim, segundo militares que conversaram com ele nas últimas semanas, deseja nomeá-lo nos próximos meses, quando três generais-de-exército vão para a reserva. A palavra final, não custa lembrar, é do presidente Lula, avesso a empreender mudanças no governo, ainda mais no final do mandato.(Correio Braziliense)

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