sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Brasil pode reduzir compra de gás boliviano


Única produtora e importadora de gás do país, controlando um parque gerador de 5.897 MW, que chegará a 7.200 MW em 2010, a Petrobras tem um plano B para a contingência de uma redução do consumo de gás, uma possibilidade que não pode ser descartada no caso de queda brusca do mercado de energia elétrica, somada a um bom regime hidrológico. A diretora de Gás e Energia, Maria das Graças Foster, diz que a estatal poderá até reduzir importações da Bolívia, algo impensável há menos de um ano, e de Gás Natural Liquefeito (GNL), se o insumo não for necessário para geração de energia elétrica.

A executiva diz que a Petrobras estará preparada para qualquer cenário. O terminal de regaseificação de GNL em Pecém, no Ceará, está pronto desde 30 de outubro, mas a Petrobras está aproveitando a "folga" no setor elétrico para concluir com calma a fase de testes (comissionamento). Segundo ela, o comissionamento do terminal do Rio de Janeiro começa este mês para estar pronto para funcionar em julho. Nas contas da diretora da empresa, o GNL só será necessário, "muito provavelmente", em agosto deste ano.


Mas a executiva admite que poderá usar o gás importado em navios antes, para aproveitar preços favoráveis. Em meados do mês passado, o preço do gás referenciado no mercado americano estava custando US$ 5,49 por barril (sem frete), diante de US$ 8,80 do preço do gás boliviano, do qual o Brasil importa 30 milhões de metros cúbicos por dia. Como o compromisso de pagar bombeando ou não ("take or pay" no jargão do mercado) à Bolívia é de 24 milhões de metros cúbicos, ela admite que em determinado momento pode ser vantagem deixar de lado 6 milhões de metros cúbicos diários de gás boliviano. "E aí eu vou atrás de outro gás no mercado spot", explica Maria das Graças.


A Petrobras conta ainda com um aumento da oferta interna em 18 milhões de metros cúbicos entre janeiro e junho de 2009, proveniente de novos poços perfurados nos campos de Lagosta, Camarupim e Marlim Leste, entre outros.


Hoje, o gás representa cerca de 9,5% na matriz energética brasileira. No começo dos anos 90, era menos de 2%. Maria das Graças, braço direito e esquerdo da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), possível candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, entende que não há propriamente uma participação ideal do gás nessa matriz. "O justo em energia é ter equilíbrio entre as fontes", diz. "O gás é flexibilidade, poder fazer movimentação de cargas, passar de um cliente para o outro, ter lastro de fato, não só papel e contrato. É administrar o excesso e a oferta muito próxima da demanda."


A diretora da Petrobras acha, por exemplo, que o Brasil nunca chegará a ser um consumidor do porte da Rússia que, no inverno, absorve incríveis 1,8 bilhão de metros cúbicos por dia. A média brasileira de 2008 será de aproximadamente 60 milhões de metros cúbicos/dia. Sendo um país tropical, o país não precisa queimar quantidades enormes de gás para aquecimento humano, pondera. Além disso, Maria das Graças admite que muito dificilmente o Brasil terá reservas de gás em quantidades próximas às que a Rússia tem na Sibéria, por exemplo.


"O governo tem é que fazer a administração dos insumos e acompanhar a economia. Qual a energia elétrica mais barata? É a água. Então, é pela água que precisamos trabalhar. Precisamos atuar no mundo ambiental, nessa complexidade ambiental para termos mais usinas hidrelétricas, mais PCHs (pequenas centrais hidrelétricas)", receita a diretora para, em seguida, dar a sua versão do que seja o papel do gás nesse quadro.


"O gás é o pulmão de São Pedro, é a bombinha de oxigênio para fazer a nebulização que complementa", define. Maria das Graças considera, por exemplo, que para girar as máquinas industriais, "o gás é, no mínimo o combustível tecnologicamente mais correto, mais eficiente". Não precisa, segundo ela, nem ressaltar as vantagens ambientais.


Ela elogia a Lei do Gás, que ainda depende de regulamentação do Ministério de Minas e Energia, dizendo que era necessária, porque disciplina o investidor e o mercado. Acha importante que ela delegue ao governo federal o planejamento da estrutura do setor de gás do país, seguindo o modelo das linhas de transmissão de energia. Mas acha que a lei não é suficiente para fazer com que a oferta de gás cresça. "Porque não é gasoduto que chega ao mercado, o que chega é o gás."


Maria das Graças também explica que o gás não vai chegar a todos os recantos do país. "Somos um país com grandes dimensões geográficas e a nossa economia está bem próxima do mar. Felizmente a economia vem crescendo, mas imaginar que o gás vai estar em todos os lugares é economicamente impossível", adverte.


A diretora lembra que, ao longo das últimas décadas, a atividade exploratória brasileira comprovou a existência de gás no mar. E segundo ela, imaginar que será criada uma rede de gasodutos para levar gás para o interior "é um pouquinho demais", até por causa do clima quente.

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