quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Apagão é alerta para o crescimento do país

O apagão que tomou conta de boa parte do Brasil durante a noite de terça-feira e a madrugada de ontem pegou as pessoas de surpresa. Algumas ainda estavam no trabalho, outras no trânsito e muitas em casa, acabando de assistir a novela do horário nobre da Globo. Já os investidores não se surpreenderam e nem se assustaram com o enorme contratempo. Pelo menos é isso que o comportamento da bolsa ontem revelou. Aqueles que esperavam quedas significativas das ações de energia elétrica se depararam com oscilações muito comportadas. Algumas caindo um pouco, outras subindo, mas nada comparado ao tamanho do problema na noite do dia anterior.

Para os analistas, o mercado praticamente ignorou o apagão, já que o fato é decorrência de uma fatalidade meteorológica e não da falta de estrutura do sistema elétrico brasileiro. "Não podemos dizer que existe um problema associado à sustentabilidade do suprimento de energia já que os reservatórios se mantêm em níveis elevados, sem maiores problemas com relação ao fluxo hidrológico", diz o analista da Ativa Corretora Ricardo Corrêa.

Esses mesmos profissionais, no entanto, acreditam que o problema pode servir de alerta sobre a dificuldade que o atual sistema elétrico terá para suprir a demanda adicional que vai surgir com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescendo em torno de 5% e 5,5% ao ano de forma sustentada pelos próximos anos. "É importante haver uma discussão sobre a infraestrutura do setor elétrico no longo prazo", diz o analista da Itaú Corretora Marcos Severine. "Se não forem feitos investimentos, especialmente em geração, a oferta atual de energia não é suficiente para abastecer um país crescendo a taxas de 5,5% ao ano", afirma ele.

As contas do analista deixam claro o tamanho desses investimentos. Para cada 0,5 ponto percentual a mais no PIB, existe uma necessidade de 1 gigawatt (GW) médio a mais por ano, o que significa entre R$ 8 a R$ 9 bilhões de novos investimentos. Se o crescimento do PIB pular de 4% para 5,5%, serão necessários 3 gigawatts (GW) a mais, algo como R$ 24 a R$ 27 bilhões de investimentos extras, explica Severine.

A partir do momento que as companhias começarem a fazer esses investimentos de forma mais intensiva, o setor deixará de ser considerado financeiramente previsível e um bom pagador de dividendos. "As elétricas passarão a ser vistas como empresas de alto crescimento, de capital intensivo e com a perspectiva de retornos crescentes", diz o analista da Itaú Corretora.

Para todos os gostos

Houve desempenhos das ações de energia para todos os gostos. As preferenciais (PN, sem direito a voto) série B da Celesc, por exemplo, caíram 1,93%, enquanto as PNB da Cesp subiram 2,76%. Os papéis do setor vinham sendo positivamente influenciados pela divulgação dos resultados do terceiro trimestre que, de forma geral, vieram acima das expectativas. Para os analistas, as ações da Eletrobrás seriam as mais afetadas por um possível impacto do apagão. Mesmo assim, eles acreditam que isso parece pouco provável, diz Ricardo Corrêa, da Ativa Corretora, em relatório. As PNB da estatal subiram 0,04% e as ordinárias (ON, com voto) caíram 0,28%.

O mercado ontem teve um pregão volátil, com o Índice Bovespa oscilando entre o campo positivo e o negativo. O indicador fechou o dia em leve alta de 0,19%, aos 66.431 pontos, caminhando a passos largos para alcançar a pontuação máxima deste ano, de 67.239 pontos, registrada em 19 de outubro. O mercado continuou na linha otimista ontem depois que dados da China mostraram recuperação econômica.

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