segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

‘Deslogando’ do prefeito Cesar Maia


Encerrando um ciclo de 16 anos à frente dos assuntos do município, Cesar Maia passa à memória política dos cariocas como um prefeito diferente. É aquele que foi, sem quase ter sido. Cesar foi o alcaide que preparou a cidade para os jogos Pan- Americanos, mas a deixou à mercê do Aedes aegypti. Também foi o dirigente de dezenas de medidas de alto impacto e realização duvidosa, como o anúncio da licitação de mais de 400 linhas de ônibus, porém também elegeu a invisibilidade digital como um escudo contra as críticas à demora e ao oportunismo de lançar-se em tal aventura quando sua candidata à sucessão nadava de braçadas rumo à derrota nas eleições de outubro. Quem acompanhou a administração nesse longo período percebeu claramente que o município não teve dificuldades econômicas na mesma proporção de outros, só que não entende como se pode deixar de aplicar verbas carimbadas que melhorariam o Índice de Desenvolvimento Humano. Levantamentos do Jornal do Brasil mostram que a prefeitura deixou de aproveitar em torno de R$ 1,7 bilhão em repasses da União. O Cesar digital, que respondia a todos os e-mails que lhe eram endereçados, não foi capaz de transformar esse dinheiro em hospitais melhores, ou mais bem administrados.

Uma cientista política de renome definiu o atual alcaide como um personagem que sonhava em ter uma dimensão nacional e se viu confinado ao papel de síndico de um prédio no qual os condôminos gostariam de um sopro de renovação mas dariam mais um crédito de confiança a um administrador competente. Pode ser, a psiquê reage de formas impensáveis de indivíduo para indivíduo; o desencanto com a falta de caminhos ascendentes para enriquecer a biografia refletiu-se no recolhimento à segurança da introspecção virtual. E o gerente eficiente desistiu de sua principal característica.

Para muita gente, o melhor legado de um bom administrador público é a boa aplicação dos impostos tanto locais quanto estaduais e federais. Pereira Passos, por exemplo, entrou para a história por ter sido o alcaide que transformou o Centro do Rio em um ambiente urbanisticamente melhorado, mudando a própria noção de cidadania no início do século 20. Cesar teve lá seus arroubos, criando e implantando programas como o Rio Cidade – o do Leblon, hoje desgastado, chegou a receber prêmios de arquitetura. Mas esqueceu-se de que a reforma não deve se concentrar apenas na sala de estar. Escolas, postos de saúde e hospitais deveriam ter recebido maior atenção do gestor.

Não tiveram, e por uma razão que o emocional explica. Todo político quer deixar sua marca. Cesar sonhou com um museu Guggenheim no Cais do Porto. O projeto, ousado, desprezou o talento dos criadores locais em nome de uma grife capaz de atrair milhares de turistas. Bloqueado pela fragilidade da sustentação técnica da proposta, voltou-se para um devaneio ainda maior, a Cidade da Música. Obra faraônica até para os padrões de municípios mais ricos, o gigantesco conjunto de salas de espetáculos ocupou a fórceps uma área de lazer subaproveitada na Barra da Tijuca. Fato consumado, estabelece a forma como Maia quer ser lembrado. Infelizmente. Ao cidadão que desejava melhor destino para seus impostos, resta apenas usar a mesma simbologia que marcou toda a parte final do mandato: é hora de "deslogar-se" desse conjunto de expectativas jamais concretizadas. E torcer por síndicos mais responsáveis.Jornal do Brasil

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