quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Escândalo em Brasília vira piada...Tragicomédia dos bastidores do poder



A indústria do panetone deve se preparar. Começou a circular pela internet uma grande campanha de boicote ao produto no Distrito Federal. A iniciativa é uma sátira à afirmação do governador José Roberto Arruda (DEM) de que os R$ 50 mil que recebeu de um suposto esquema de pagamento a integrantes do Governo do Distrito Federal era para comprar panetones. O dinheiro seria suficiente para abastecer o Varjão, uma das regiões administrativas mais carentes do DF, com mais de 12 mil panetones, iguaria originária do Norte da Itália e tradicionalmente consumida no Natal brasileiro. Pedacinhos do pão natalino são oferecidos desde segunda-feira por manifestantes vestidos de palhaços em frente à residência oficial do governo.

A hotelaria brasiliense também deve se preparar: um parlamentar já comentou nos corredores do Congresso Nacional que militantes aliados de Joaquim Roriz, ex-governador do DF, planejam se hospedar em alguns dos hotéis do vice-governador do DF, Paulo Octávio, também citado no suposto esquema, e sair sem pagar a conta. Pelo menos três hotéis estão no alvo. Todas as reações seriam cômicas, não fossem reais, trágicas e resultado de um dos mais viscerais e bem documentados escândalos da política nacional.

O esquema, desbaratado pela Polícia Federal na última sexta-feira, está registrado em mais de 30 vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais do DF, Durval Barbosa, beneficiado pela delação premiada. A cada dia novos vídeos da investigação são postados na web. Nas imagens, maços de dinheiro são recebidos e guardados nos lugares mais inusitados, como meias e cuecas. Nem tão inusitados assim. De novidade, só as meias. Afinal, a moda da cueca-cofre foi lançada há quatro anos por um dos envolvidos no mensalão do PT, José Adalberto Vieira da Silva, preso no aeroporto de Congonhas com R$ 200 mil e US$ 100 mil na cueca.

Quase tão pitorescas quanto os vídeos são as explicações, que não param nos panetones. O presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), explicou em coletiva que colocou o dinheiro na meia porque não tinha pasta. O fato de que era, segundo ele mesmo, recursos não contabilizados para o financiamento de despesas eleitorais, o famoso caixa-dois, virou detalhe.

Gratidão

“Pai, somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de benção para nossas vidas, para esta cidade. Nós precisamos da tua cobertura e dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham, senhor, armas para nos ajudar nesta guerra”. Este é apenas um trecho da oração de agradecimento feita pelo deputado distrital Rubens César Brunelli (PSC), e por Prudente, ao serem “abençoados” por Durval, o delator, com promessas.

O vídeo, que beira o surrealismo, como destaca o deputado federal do PSOL, Chico Alencar, já virou piada. O próprio Alencar, inspirado pelas imagens pitorescas, criou uma paródia do “Pai nosso” para os corruptos, e foi com ela que abriu terça-feira, em Brasília, a reunião da campanha Ficha Limpa, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB):

“Venha a nós o vosso dinheiro. Seja feita a nossa vontade assim no público como no privado. A propina nossa de cada dia nos dai hoje. Perdoai os nossos desfalques e não nos deixei cair na tentação da honestidade. Nos livrai do flagrante e da verdade, amém”.

– É o espírito brasileiro de brincar. Mas os fatos são dramáticos. Uma corrupção exaustivamente documentada – detona Alencar.

Imagens

Cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto acredita que, independentemente de futuras ações judiciais, Arruda e seus aliados já foram julgados, porque o que vale são as imagens, “fruto do amadorismo dessa gangue que se apoderou do DF”. Nem todos, no entanto, são adeptos do provérbio chinês que uma imagem vale mais do que mil palavras, como Barreto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ser um desses. Orações, meias e cuecas não surpreenderam o presidente, para quem “as imagens não valem por si só”.

Partidos aliados já abandonaram o governo Arruda, pedidos de impeachment já foram protocolados, mas a declaração do presidente Lula e o recuo do DEM, que deu oito dias para o governador explicar a situação, sinalizam que, mais uma vez, um escândalo político pode terminar em pizza. Ou melhor, em panetone. E viva a Itália!

3 Comentários em “Escândalo em Brasília vira piada...Tragicomédia dos bastidores do poder”

  • quarta-feira, 02 dezembro, 2009
    Anônimo Disse:

    isto e uma vergonha,e depois o nosso querido presidente fala que nao sabia de nada!!!como ele nao sabe!!!!isto tudo vai acaba em pizza..em pizza nao,,,em panetone....isto tudo e uma vergonha...saldades do nosso fernando henrique cardoso... joao edson ribeiro girao

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  • segunda-feira, 07 dezembro, 2009
    Anônimo Disse:

    Enquanto esses ladrões estão metendo a mão no dinheiro público, a saúde de nosso país está em miséria.pessoas morrendo nas portas de hospitais, infelizmente não existe cadeia parra esses bandidos de colarinho branco. Más se fosse um pai de familia que tivesse roubado uma galinha para matar a fome de seu filho já estaria preso.

    Nosso país é uma vergonha para o mundo!

    JPS- de UNA na Bahia

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  • quarta-feira, 09 dezembro, 2009
    Anônimo Disse:

    Sem comentários, mas o seguinte texto deveria tornar-se a oração dos brasileiros honestos, principalmente dos de Brasília-DF.

    Política e politicalha
    Rui Barbosa

    A política afina o espírito humano, educa os povos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.

    Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida de que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.

    Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis.

    A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou um conjunto de funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.

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