terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um momento ruim para os planos do ex-PF

A direção do DEM desde ontem está às voltas com que decisão tomar em relação ao único governador eleito pelo partido em 2006. José Roberto Arruda, governador do DF e candidato à reeleição, era apresentado como o modelo de gestão do ex-PFL até que fosse alvejado por um de seus auxiliares mais diretos. O seu ex-secretário de Assuntos Institucionais Durval Barbosa, que ficou o cargo até sexta-feira, quando se tornou público o inquérito Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, revelou para o Ministério Público Federal, em detalhes, um suposto esquema de propinas que funcionaria no governo do Distrito Federal desde a administração passada, de Joaquim Roriz, que teria financiado a campanha de Arruda em 2006 e prosseguido com uma suposta e "democrática" distribuição de mesadas a secretários de governo, deputados distritais da base de apoio governista e até um conselheiro do Tribunal de Contas do DF. O cálculo é que a distribuição tenha envolvido R$ 600 mil mensais em mesadas, no que está sendo chamado de "mensalão do DEM".

O estrago promete ser grande. O DEM tinha no bolso um projeto para tentar recuperar eleitores, bancadas e número de governadores em 2010 que pode ter sido comprometido. A agremiação investiu pesadamente na imagem de guardião da moralidade, foi o responsável pelos mais agressivos ataques verbais aos partidos governistas que se beneficiaram pelo chamado "Escândalo do Mensalão", em 2005, no qual estava envolvido o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e está diante de um mensalão que, no mínimo, foi muito melhor documentado que o de seus adversários que ocupam hoje o governo federal. Uma profusão de imagens de entrega de propinas em dinheiro ao governador, a seus secretários e a deputados distritais toma a mídia desde sexta-feira.

Segundo divulgou-se nos últimos dias, Barbosa sentiu-se ameaçado pelo grupo do governador do DF e passou a gravar a distribuição de propina. Procurou o Ministério Público Federal já com um acervo próprio. Beneficiado pelo instituto da delação premiada, passou a gravar com a ajuda e aparelhos de espionagem da Polícia Federal a entrega de propinas a pessoas do governo e à base aliada. O governador é uma das estrelas desses filmes.

Nos escândalos anteriores que envolveram integrantes seus, o DEM agiu rapidamente, expulsando os acusados. No caso do governador do DF, no entanto, uma ação rápida dificilmente vai neutralizar completamente o prejuízo eleitoral desse episódio. Arruda foi o único governador eleito pelo DEM em 2006 e foi fartamente apresentado pelo partido como aquele que fez uma gestão modelo - que o DEM repetiria onde fosse eleito em 2010 - e agora o que se apresenta ao público são vídeos onde toda a cúpula do governo do DF é flagrada em situações comprometedoras. Por fim, até a forma de corrupção jogou por terra um discurso de oposição construído em torno de um suposto esquema de mensalão feito pelo PT para favorecer seus aliados e que é agora esvaziado por um suposto esquema de mensalão gravado em imagem e som por um ex-auxiliar de Arruda.

A expulsão do governador do DF, se acontecer, pode se uma dupla punição: será o reconhecimento público do partido da culpa de seu filiado antes incensado como modelo e um impedimento para sua candidatura à reeleição, mesmo sem condenação formal da justiça. A lei exige um ano de filiação e, se mudar de legenda agora, o governador não terá tempo suficiente de filiação para se candidatar. Ainda assim, o DEM se expôs excessivamente no apoio a Arruda para não sair arranhado do escândalo.

Por fim, a justificativa do governador para os R$ 50 mil em nota de R$ 100 que recebe de Durval ainda no governo Roriz, quando Batista era dirigente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) - num esquema montado para a sua campanha a governador - dá chances a piadas. Arruda disse que pegou esse dinheiro para comprar panetones para comunidades carentes. Nenhum partido sonha com uma anedota dessa em véspera de eleição, muito menos quando precisa melhorar muito sua performance para manter importância no cenário político. A legenda tem perdido bancada desde que deixou de ser aliado ao governo: em 1998 era a primeira bancada na Câmara, com 105 deputados; em 2006 elegeu só 65. No Senado, é a terceira bancada.

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