sexta-feira, 9 de maio de 2008

Cofre vázio


As bancadas do PSDB da Câmara e do Senado marcaram uma manifestação em São Paulo, na próxima quinta-feira 15, em apoio a candidatura a prefeito do ex-governador Geraldo Alckmin. Pelo menos 30 dos 57 deputados já confirmaram presença. Do Senado, são esperados tucanos de primeira linha como o líder Arthur Virgílio e Tasso Jereissati. É para ser uma demonstração de unidade, mas, como outras manifestações tucanas recentes, caminha para se transformar em mais uma expressão pública de divisão. A cinco meses da eleição municipal e a cerca de dois anos e meio da eleição presidencial, o partido está irremediavelmente dividido em dois PSDB.

É a eleição de 2010 que acelera a cisão entre os tucanos, hoje acantonados nas duas candidaturas do partido com viabilidade eleitoral, a do governador de São Paulo, José Serra, e a do governador de Minas Gerais, Aécio Neves. O senador Arthur Virgílio também é pré-candidato, mas no partido seu movimento é visto mais como um esforço para animar sua candidatura à reeleição no Amazonas. É entre Serra e Aécio que a disputa se desenrola, muito embora um e outro ainda devam muitas vezes repetir, publicamente, que ainda não decidiram se serão candidatos.

O governador Aécio Neves, por exemplo, já comunicou os líderes tucanos, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é candidato porque esse é o desejo manifesto de Minas Gerais. Discurso tipicamente mineiro, mas que traduz com fidelidade todas as pesquisas de opinião feitas no Estado. A maioria dos eleitores não sõ afirma querer Aécio candidato, como afirma acreditar piamente que ele estará na disputa pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. FHC, segundo apurou o Valor, foi elegante com Aécio, mas ressaltou acreditar em fila na política e que na fila do PSDB, atualmente, Serra é o primeiro.

Há poucos dias, Fernando Henrique declarou aos jornais apoio à candidatura de Geraldo Alckmin a prefeito. Como tucano, FHC não poderia dizer outra coisa, mas por trás das palavras do ex-presidente havia também a intenção de não dar um discurso de "vítima" ao ex-governador de São Paulo. Tem-se como certo no PSDB que se Alckmin disputar e perder a eleição, dirá que perdeu por causa do Serra, e, se ganhar, que venceu apesar da falta de apoio do governador. O núcleo tucano paulista mais ligado a Serra também não tem dúvidas: na prefeitura, Alckmin será mais um empecilho à sagração de Serra como candidato do PSDB.

A bordo do vôo que trouxe tucanos para a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, a eleição de São Paulo e a sucessão de Lula foram assuntos centrais. Para FHC, segundo amigos do ex-presidente, Aécio será candidato a presidente de qualquer jeito. A hipótese dele adiar seu projeto presidencial para 2014 esbarra na possibilidade de Lula disputar um novo mandato. O governador é próximo de parte do PT mineiro, conta com a eventualidade de Lula apoiar duas ou até três candidaturas e, não sendo o primeiro da fila do PSDB, trata de aprofundar entendimentos com o PMDB, ao qual já foi filiado.

Entre os organizadores da manifestação da próxima semana ainda há expectativa em torno de um entendimento entre Alckmin, Serra e Kassab. A avaliação é que Serra não tem outra saída, pois, do contrário, estaria comprometendo sua candidatura presidencial "por um acerto de contas" - em 2006, com Serra na liderança das pesquisas de opinião, Alckmin impôs sua candidatura presidencial aos tucanos. Serra preferiu não entrar numa disputa com o PSDB rachado ao meio, como aconteceu com ele em 2002, e com Lula já dando sinais de que se recuperaria da crise que abalou o PT, em 2005.

Candidato a prefeito em 2008, Alckmin corre o risco de repetir o Serra de 2002, na campanha presidencial, quando foi literalmente "cristianizado" pelo PSDB. O ex-governador, no entanto, insiste que será candidato, convencido de que será vitorioso em outubro. Seus aliados dizem que com mais dois anos sem um cargo público como a prefeitura Alckmin estará morto politicamente.

Eles só vislumbram uma hipótese de Geraldo Alckmin não concorrer: se o ex-governador concluir que não terá financiamento suficiente para enfrentar um provável crescimento, nas pesquisas, do prefeito Gilberto Kassab, no meio da campanha. Esse seria o único contratempo - real, para quem está sem caneta - capaz de evitar um segundo turno entre ele e a provável candidata do PT, Marta Suplicy, quando então acredita que ganharia os votos do antipetismo paulistano contra Marta.

No vôo entre São Paulo e Brasília para a posse de Gilmar, o governador Serra foi advertido de que não há hipótese de Alckmin desistir. Serra concorda com as expectativas dos tucanos aliados, mas não impede as tentativas de um entendimento para a eleição. Isso por um único motivo: para atender o prefeito Gilberto Kassab, que é o mais empenhado numa tentativa de composição em torno de sua candidatura. É um problema para o governador, segundo seus amigos, porque ele não gosta de dizer não a Kassab, com quem mantém hoje uma relação que talvez não tenha no PSDB. Enquanto isso, trata de pavimentar a própria trilha, como o flanco que abriu no PMDB, partido que até bem pouco tempo era visto como estuário natural para a candidatura de Aécio Neves.

Desde a fundação, em 1988, o PSDB sempre teve candidato a prefeito em São Paulo, primeiro com o próprio Serra, em 1992 com Fábio Feldman, em 1996 outra vez com Serra e, em 2000, com Geraldo Alckmin. Em geral os tucanos costumam - e são acusados por isso - a acertar suas diferenças na cúpula. No ritmo atual, a decisão de ter ou não um candidato em São Paulo pode ficar para a convenção arbitrar entre os dois PSDB.

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