quarta-feira, 21 de maio de 2008

Em público, Serra afaga Lula. Por trás, manda bater


Em meio a afagos e intensa troca de elogios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador José Serra (PSDB) anunciaram ontem, em Santos, durante festa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Associação dos Portuários, “um novo jeito de fazer política”. Eles defenderam “harmonia entre os Poderes, independentemente da cor da camisa”.

Serra condenou individualismos políticos e agradeceu a Lula o apoio a projetos paulistas. “São exemplos de cooperação e de coordenação que nem têm necessariamente um faturamento político individual, mas quem ganha é a população. Na administração pública temos que trabalhar para todos e para todas, não para partido, não segundo a cor da camisa de cada político. Na eleição a gente disputa, tem rivalidade, choques, mas no governo a gente soma esforços, município, Estado e governo federal.”

O tucano enalteceu a disposição de Lula de repassar cerca de R$ 100 milhões a fundo perdido para projeto habitacional na Baixada Santista. “É o tipo do exemplo da complementação. Permitiu a gente andar mais depressa. E permite sermos cobrados. A administração pública, se não tiver cobrança, não funciona. Porque às vezes ela está preparada para não fazer, diante de todas as exigências e da inércia burocrática.”

Lula devolveu: “Estamos perto de uma época eleitoral. Cada manifestação nossa poderia ser eminentemente partidária, em que cada um brigasse para trazer mais gente, um para vaiar o outro, quando na verdade a sociedade está nos ensinando que tem um momento de fazer a disputa, o momento da eleição, e quando a gente ganha é aquilo que disse o Serra: depois das eleições a gente tem que governar. E deixar a briga para as próximas eleições.”

O presidente declarou intenção de apresentar ao Brasil um novo jeito de fazer política, em parceria com o tucano. “Eu queria dizer a você, Serra, que depois dessa nossa gestão eu penso que nós contribuímos não apenas com as obras, mas com o jeito de fazer política, com o jeito de dizer: eu posso ser adversário do Serra, ele pode ser adversário meu. Mas o dado concreto é que ele foi eleito, eu fui eleito, os nossos eleitores merecem respeito de todos.”

BRASIL JURÍDICO

Lula condenou as amarras da burocracia e o que chamou de Brasil jurídico - modelo que, segundo ele, emperra obras públicas. Serra havia apontado para seu antecessor, Geraldo Alckmin (PSDB) - mas dele não disse o nome -, ao destacar um empreendimento na área de saneamento, anunciado ainda no governo Mário Covas, “que ficou parado por 10 anos”.

“Quando a gente pensa que está tudo resolvido tem problema ambiental. Aí aparece alguém do Ministério Público e diz: está errado. Vai para a Justiça e não temos nenhum controle. Somos obrigados a esperar o tempo da Justiça”, criticou. “Esse é o Brasil jurídico que construímos, é o país das obras paralisadas”, disse Lula que, antes do discurso, ouviu protestos de um grupo de portuários e embalou no colo Andrya Vitória, de 1 ano e meio. Neta de portuário e filha de Andréa - filiada ao PT de São Vicente -, a pequena cochilou nos seus braços.

“O defeito é coletivo”, disse o presidente sobre entraves a iniciativas do governo. “Às vezes é de uma Câmara Municipal, de uma Assembléia, da Câmara dos Deputados, do Senado, que muitas vezes aprova as coisas achando que está resolvendo e na verdade está atrapalhando.”

Mais tarde, em Santo André, em outro ato do PAC e sem Serra, Lula afirmou que vai eleger seu sucessor. “Ainda não tenho candidato nem candidata. Mas vou ter e vamos eleger nosso candidato para poder seguir a nossa política”, disse, ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, cotada como sua provável candidata em 2010. Criticou a imprensa. “Nem sempre a imprensa diz tudo o que está acontecendo no Brasil. Às vezes, se a gente quiser saber mais a gente lê a imprensa internacional, que fala bem. Nunca vi como a imprensa espanhola, alemã, americana, inglesa gosta tanto do Brasil. A nossa demora mais para enxergar.”

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