quarta-feira, 7 de maio de 2008

Polícia do PSDB. Violenta e corrupta:Secretário-adjunto cai 6 dias após denúncia sobre achaques de policiais


O secretário-adjunto da Segurança Pública, Lauro Malheiros Neto, pediu demissão ontem à tarde. Acuado pela denúncia de favorecimento ao investigador Augusto Pena, acusado de achacar a cúpula da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Malheiros decidiu deixar a secretaria 1 ano e 5 meses depois de tomar posse no cargo e seis dias após o caso ser divulgado pelo Estado. Ele vai cuidar de sua defesa em tempo integral.

Anteontem, a ex-mulher de Pena, Regina Célia Lemes de Carvalho, disse, em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil, que o investigador repartia com Malheiros parte do dinheiro de origem ilícita obtido pelo policial. Homem da mais absoluta confiança do secretário da Segurança, Ronaldo Bretas Marzagão, responsável pelo convite para que assumisse o cargo, Malheiros alega ser desconhecer Regina Célia.

O anúncio do pedido de demissão de Malheiros ocorreu pouco antes das 15 horas, quando o governador José Serra teria o primeiro compromisso público no Estado desde o início do escândalo das escutas telefônicas usadas para achacar a cúpula do PCC. Serra compareceria à inauguração do Hospital do Câncer, em São Paulo. No evento, o governador não se esquivou do problema. Ele disse que, para seu governo, o caso envolvendo Malheiros não era grave. “Até agora, não é grave. Houve denúncias, insinuações, mas nenhuma prova. Ele pediu para se afastar do cargo, e eu aceitei”, afirmou Serra.

Pouco antes, o secretário-chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, havia confirmado ao Estado o afastamento de Malheiros. “Ele decidiu se defender dessas acusações levianas”, disse. Aloysio e Serra disseram que o secretário-adjunto escolheu deixar o governo porque não gostaria de prejudicar a condução dos trabalhos na secretaria. Um dia antes, o secretário-adjunto havia sido chamado ao Palácio dos Bandeirantes para uma reunião de emergência. Na manhã de ontem, a cúpula da secretaria se reuniu no gabinete de Marzagão para analisar a situação.

Malheiros ainda relutava em entregar o cargo, mas acabou convencido de que não teria tempo para cuidar do dia-a-dia administrativo ao mesmo tempo em que teria de preparar sua defesa. Em sua carta de demissão, ele justificou ter razões pessoais para deixar o cargo e disse que a decisão foi tomada para se defender das acusações de envolvimento com Pena.

Pena e seu colega, o investigador José Roberto Araújo, foram presos na semana passada, em operação feita pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Guarulhos. Os dois são suspeitos de manter um esquema de escutas telefônicas em Suzano, entre 2005 e 2006, com o objetivo de achacar integrantes da cúpula do PCC. Eles são acusados ainda de seqüestrar Rodrigo Olivatto de Morais, de 28 anos, enteado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, e exigir R$ 300 mil para libertá-lo.

FAVORECIMENTO

Em depoimento ao Gaerco, o delegado Nelson Silveira Guimarães revelou que recebeu, em 2006, informações sobre o seqüestro do enteado de Marcola. Preventivamente, ele contou que determinou o afastamento de Pena e de Araújo do trabalho das ruas. Os dois deveriam permanecer em funções burocráticas. Na época, o delegado era diretor do Departamento de Polícia da Macro São Paulo (Demacro) e os dois investigadores eram seus subordinados.

Segundo Guimarães, dias depois de tomar posse na secretaria, Malheiros telefonou para ele com um pedido. Queria interceder em favor de Pena, para que o policial fosse transferido justamente para o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic).

O pedido do secretário-adjunto, segundo Guimarães, foi atendido, e Pena foi enviado para a Delegacia de Estelionato do Deic. De fato, no dia 11 de janeiro de 2007, o Diário Oficial publicou a transferência de Pena para o Deic. Ali, segundo sua ex-mulher, o policial se envolveu em outro caso rumoroso: o furto de uma carga de videogame PlayStation de dentro do depósito do Deic, na Avenida São João, no centro de São Paulo.

Regina Célia disse ao Estado e anteontem confirmou à Corregedoria da Polícia Civil que Pena ganhou R$ 1 milhão com o desvio da carga e entregou R$ 100 mil para Malheiros. O criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende Malheiros, disse que a acusação é uma vingança por ele ter trabalhado no processo de separação de Pena e de Regina Célia, defendendo o investigador.

Durante esse processo, a ex-mulher perdeu a guarda do filho de 6 anos para Pena. Com base na denúncia de Regina Célia, a corregedoria abriu inquérito sobre o desvio da carga.

ÍNTEGRA DA CARTA

“Senhor governador: nos últimos dias fui surpreendido por notícias caluniosas que foram publicadas pela imprensa, procurando me vincular a policiais que são objeto de investigação criminal.

Tais fatos noticiados fazem parte de uma campanha sórdida desfechada contra mim por pessoas que tiveram seus interesses contrariados no exercício da minha atividade de secretário-adjunto da Segurança Pública.

Quero dizer a V.Exa. que em nenhum momento pratiquei qualquer ato que pudesse desonrar sua administração ou trair a confiança da população paulista e repilo com indignação a tentativa de me envolver em algo que não me diz respeito.

No entanto, como homem público, tenho a plena compreensão de que é impossível neste momento ter a tranqüilidade necessária para continuar a exercer o importante cargo de secretário de Estado adjunto da Segurança Pública.

Tal pasta é de essencial importância na vida das pessoas e requer que os seus dirigentes tenham dedicação e foco integrais na condução dos problemas de Estado, o que eu estou impossibilitado de fazer agora, pelas circunstâncias narradas.

Assim, quero dizer que fui honrado pelo convite feito por V. Exa. para ocupar este cargo e pela amizade de muitos anos que tenho pelo secretário Ronaldo Marzagão.

Entretanto, preciso deixar o cargo que agora ocupo para poder me dedicar a repelir a ação sórdida das pessoas que me atacam, com interesses criminosos e subalternos e levá-los a responder na Justiça pelas suas calúnias que têm por objetivo a vingança rasteira contra a minha pessoa.

Por isso, lamentando não poder continuar a ajudar o honrado governo de V. Exa., peço que seja aceito o pedido de exoneração do meu cargo.”

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