sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A piada sem graça dos piscinões que viram lixões

Reportagem de Felipe Oda publicada no jornal da Tarde na segunda-feira 14 de dezembro mostra o lastimável estado de grande parte dos piscinões em céu aberto construídos para evitar pontos de alagamentos em locais em que a impermeabilização do solo e a topografia favorecem o empoçamento da água das chuvas.

Dez dos 18 reservatórios não têm condições de cumprir o objetivo para o qual foram construídos, em obras nas quais se gastaram recursos públicos retirados do bolso do contribuinte por impostos, pois o espaço a ser ocupado pelo excesso de água já não está mais disponível. Ocupam-no garrafas pets, restos de móveis, entulho e terra suja. Esses piscinões não merecem mais a denominação que lhes foi dada, pois não passam de lixões.

E o pior é que os responsáveis por esse incrível descaso não têm sequer consciência do que ocorre. Uma semana antes de o repórter do Jornal da Tarde percorrer os 18 piscinões existentes (e insuficientes para resolver em definitivo o desconforto e a tragédia das inundações), o chefe do Executivo municipal, Gilberto Kassab (DEM), garantiu que os “piscinões estavam com a limpeza realizada adequadamente” quando o toró caiu.

Felipe Oda ouviu testemunhos mais confiáveis de que o prefeito não sabe o que diz. “Faz muito tempo que a Prefeitura não limpa isso aí. Basta olhar para os muros e ver a quantidade de lodo e garrafas pets. A sujeira junta ratos, baratas e mosquitos, que acabam indo para as casas”, contou a vendedora Luzinete de Souza, de 24 anos, que mora nas proximidades do piscinão Jardim Maria Sampaio, no Campo Limpo, na zona sul. “É tanta sujeira que ninguém aguenta o cheiro. Pede para o prefeito vir aqui e ver se está limpo. Fora o matagal, que está cheio de ‘noias’ (consumidores de drogas)”, desafiou o comerciante Antonio Padilha, de 37 anos, referindo-se ao estado obviamente lastimável em que se apresenta o piscinão do Bananal, na Brasilândia, no lado oposto da cidade, a zona norte.

A exceção a essa situação de sujeira e abandono é o piscinão subterrâneo da Avenida Pacaembu, que, não por acaso, ao contrário de outras vias (como as Marginais dos Rios Tietê e Pinheiros), não se torna sob tempestades autêntico rio. O coordenador da área de drenagem da Secretaria de Subprefeituras de São Paulo, Domingos Gonçalves, reconhece que a cidade precisa de pelo menos mais 10 piscinões e a Grande São Paulo, segundo ele, que tem 40, demandaria pelo menos uma centena, e comemora a sujeira dos piscinões, que não evitam as inundações, mas impedem que o lixo neles depositado chegue aos leitos dos rios, assoreando-os. Aparentemente produto do humor peculiar do gestor, sua afirmação é um achincalhe aos moradores das ruas próximas aos piscinões com a falta de higiene. Além de não desempenhar sua tarefa comezinha, o burocrata ainda faz blague com a desgraça do cidadão de quem são cobrados os impostos que garantem seu salário.

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