sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Richa mira o governo do Paraná

O prefeito de capital mais popular do Brasil já fala como governador eleito. Beto Richa (PSDB), em seu segundo mandato em Curitiba, dizia antes que era preciso esperar 2010 para tomar alguma decisão sobre as próximas eleições, que não tinha obsessão por cargos e que a população iria dar o rumo a ser tomado. Agora que 2010 chegou e, com ela, pesquisas que o colocam como um dos prefeitos mais bem avaliados do país, o tucano não disfarça mais e diz que vai levar experiências bem-sucedidas de Curitiba a municípios do interior.

O caminho até aqui não foi isento de percalços. Embora ele nunca tenha dito isso antes, depois de ter sido acusado por crime eleitoral e ver seu nome ser ligado ao escândalo em programa dominical de televisão e jornais locais e nacionais, Richa pensou em deixar a política. Era junho, poucos meses depois de ter obtido 77% dos votos e sido reeleito prefeito em primeiro turno.

"Várias vezes pensei em largar a vida pública e esse episódio do PRTB [partido envolvido nas denúncias] foi uma delas. Me atingiu profundamente", disse Richa ao Valor. "Conversei com a Fernanda [a esposa] sobre a possibilidade de abandonar a carreira. Ser escrachado em programa nacional e em jornais de forma maldosa, me estampando com dinheiro na cara, eu não aceito."

As denúncias contra ele foram arquivadas pelo Ministério Público Eleitoral pela "ausência de qualquer indício de participação pessoal nos fatos investigados" e Richa foi mais uma vez apontado como o melhor prefeito do país em pesquisa divulgada recentemente pelo Datafolha. Recebeu 84% de conceitos ótimo e bom para a sua administração e teve 7,9 de nota geral , maior que a obtida pelo governador mais bem avaliado, o mineiro Aécio Neves (7,5), e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (7,7). Na mesma semana, o instituto Paraná Pesquisas mostrou que ele lidera as intenções de voto para o governo, resultado que também havia sido apurado pelo Datafolha.

Foi o apoio popular, manifestado em contatos pessoais e por meio de pesquisas, que fez com que Richa mudasse o tom de seu discurso e mostrasse disposição de disputar o governo do Paraná.

Ontem, em nota, Beto Richa defendeu que o partido indique em reunião da executiva estadual, marcada para 18 de janeiro, de que forma escolherá seu candidato. "Inicialmente, achei que se pudesse postergar um pouco, mas fui convencido por argumentos muito objetivos. Um deles é que a definição de um nome vai ajudar na busca por alianças", disse Richa.

Além de Richa, o senador Alvaro Dias disputa a indicação tucana. De acordo com o Datafolha, Richa tem 40%, seguido do senador Osmar Dias (PDT) - irmão de Alvaro -, com 38%. Num cenário sem Richa, a liderança fica com Osmar (42%) seguido de Alvaro (28%). Mas, os dois irmãos dizem que não vão concorrer um contra o outro.

O diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, chama a atenção para o fato de que, se um deles sair vencedor, o Estado vai manter no poder uma das quatro famílias que se alternam no governo desde as eleições de 1982: Dias, Lerner, Requião e Richa. "Minha candidatura é nova", discorda o tucano, que costuma lembrar o nome do pai, o ex-governador José Richa, nas campanhas políticas.

Os prefeitos de Curitiba sempre foram bem avaliados em pesquisas nacionais e dois deles - Roberto Requião e Jaime Lerner - tornaram-se governadores após administrar a capital. Curitiba e região metropolitana representam quase um terço do eleitorado do Estado, segundo o TRE.

Richa tem viajado com frequência para o interior, onde Osmar Dias é mais conhecido, e o trabalho começa a dar resultado. Ele passou a virada do ano em Foz do Iguaçu (PR) com a família e, numa das três festas de que participou, foi anunciado como o futuro governador do Paraná por um cantor. De acordo com o Datafolha, Richa tem 61% das intenções de voto em Curitiba e região contra 20% de Osmar. No interior, Osmar tem 46% contra 30% do tucano.

Recentemente Richa foi alvo de críticas por ter pouca intimidade com a agricultura, já que almeja administrar um Estado agrícola. Mas já tem resposta para o caso. "O que eu conhecia de educação e da área médica? Você acha que vou ser secretário de Agricultura? Vou ter um bom secretário", diz ele, que é engenheiro civil. Alguns segundos depois, emenda: "Agricultura não é tudo. A prioridade dos paranaenses é saúde, segurança pública, educação e depois agricultura".

Sobre outro questionamento, o de que teria quebrado a aliança que fez em 2008 para apoiar Osmar Dias em 2010, ele é enfático: "Nunca houve pacto". Mas Richa adianta que vai guardar a melhor resposta para o momento adequado, se o assunto incomodar durante a campanha. "O caldo entorna se eu abrir a boca", afirma, sem dar detalhes. "Paguei caro por apoiá-lo. O [governador Roberto] Requião passou a me perseguir e perdi recursos para a cidade."

Requião (PMDB), que teve o nome lançado como pré-candidato à Presidência, tem dito que vai apoiar seu vice, Orlando Pessuti, para sucedê-lo. O tucano, no entanto, garante que terá a adesão de parte dos pemedebistas. "Muitos deputados, a grande maioria dos prefeitos do PMDB e lideranças do partido querem vir comigo", diz.

Pessuti aparece nas pesquisas com 4% a 5% do eleitorado. A intenção de Richa é formar uma grande aliança em torno de sua candidatura como fez em 2008, quando contou com a força de 11 siglas (PSDB-PSB-PDT-PP-PPS-DEM-PR-PSDC-PRP-PTN-PSL). "O PMDB é bem-vindo."

Para a cientista política Luciana Veiga, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Beto Richa ainda não teve de enfrentar uma oposição forte, o que deve acontecer nos próximos meses. Segundo ela, a aprovação dele é surpreendente e pode ser creditada, em parte, ao enfraquecimento de Requião - que ficou em sétimo no ranking de governadores, com 51% de conceitos ótimo e bom e nota 6,4 - e ao fato de Richa ter família estruturada, ser jovem e bem-sucedido, o que inspira confiança aos eleitores. "Mas até agora a imagem dele não foi testada e há toda uma campanha pela frente, que deve ser dura", avalia Luciana.

Para outro cientista político, Adriano Codato, os prefeitos de Curitiba costumam ser bem avaliados porque a capital "não tem nada insolúvel e possui um orçamento fabuloso de R$ 4 bilhões". "Mas acho um absurdo alguém que teve 77% dos votos deixar a prefeitura", opina Codato. "Vai governar a cidade por mais de dois anos uma pessoa que não ganhou nenhum." No caso, o vice Luciano Ducci, médico pediatra.

Beto Richa diz ser contra a reeleição, que "na maioria dos casos não deu certo" e, embora seu filho mais velho e sua esposa tenham trabalhado em sua última campanha, garante que não gostaria que ninguém mais da família entrasse na política. "Há desgaste, falta de privacidade. É uma carreira de sacrifícios para pessoas bem intencionadas", reclama. Questionado sobre por que continua, responde: "É gratificante realizar coisas, mas lamentavelmente se faz política com armações, maldades, desonras."

Quando Richa candidatou-se ao governo, em 2002, conseguiu 17,3% dos votos e Requião venceu Alvaro Dias - à época, no PDT - no segundo turno. Decidiu, então, fazer um caminho mais longo, na prefeitura. Antes de afastar-se do cargo, terá de avançar em dois assuntos sobre os quais será cobrado pelos opositores: a construção do metrô e a licitação do transporte coletivo, marcada para fevereiro.Valor Econômico

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