A crise financeira que assola os mercados internacionais não deve ter grande efeito na oferta de crédito para o Brasil desenvolver as reservas petrolíferas na área do pré-sal. O maior risco de haver escassez de recursos para o setor passa por incertezas em relação às mudanças analisadas pelo governo para o marco regulatório na exploração de petróleo e gás no país. A opinião é de executivos e especialistas do setor presentes na Rio Oil & Gas 2008, que começou ontem e vai até quinta-feira no Rio.
"Pode haver turbulências, mas o projeto do Brasil é tão bom, tão sólido, que não acredito que faltarão recursos (para desenvolver a produção de petróleo)", disse João Carlos de Luca, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). Armando Guedes, presidente do conselho de energia da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), também entende que a crise dos mercados não vai reduzir a oferta de crédito para a exploração e produção de petróleo no Brasil. "Não vejo grande efeito da crise financeira sobre o setor. Se o Brasil tiver juízo e fizer regras bastante claras, com percepção de que elas vão ser cumpridas, o recurso não vai faltar", disse Guedes. Na visão dele, o crédito só será escasso para a indústria brasileira se os investidores estrangeiros perceberem que as regras "não são muito para valer".
O governo estuda a definição de novas regras para a exploração do pré-sal que podem, inclusive, alterar a lei do petróleo (9.478/97). Uma comissão interministerial analisa o assunto e deverá concluir os trabalhos até o dia 30. "O complicado é que a crise coincide com discussão sobre mudança no marco regulatório. Há que ter juízo de fazer as mudanças de maneira bastante clara para que não haja dúvida. É preciso ter cuidado com a definição do marco regulatório", disse Guedes, que já ocupou a presidência da Petrobras.
Guedes também previu que o crescimento da demanda por petróleo no mundo deverá manter os preços do petróleo em patamar próximo aos US$ 100 por barril. Ontem, o barril do tipo WTI fechou com queda de US$ 5,47, fechando a US$ 95,71.
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, diz que o mercado continua ajustado entre oferta e demanda. "Há demanda crescente nos países fora da OCDE (industrializados)", afirmou. Ele acrescentou que a oferta internacional não tem como crescer a curto prazo e, portanto, não há como esperar queda ou aumento significativos nos preços do petróleo. As flutuações resultam, segundo ele, de movimentos financeiros de curto prazo. "Por isso entendo que as variações de curto prazo não afetam decisões de investimento e não devem ser retransmitidas para o mercado brasileiro", disse Gabrielli. Ele não quis fazer projeções sobre as necessidades de financiamento para o pré-sal, o que vai depender, na visão dele, do volume de investimentos a ser feito.
Para o presidente da multinacional petrolífera Devon no Brasil, Murilo Marroquim, a convergência da abertura da Rio Oil & Gas com o virtual derretimento dos mercados financeiros ocorrido ontem foi apenas "uma infeliz coincidência" que, a longo prazo, não vai interferir nas expectativas de investimentos no pré-sal. "Tudo isso aqui é a longo prazo. O Nepomuceno (Francisco Nepomuceno Filho, da Petrobras) falou em sistema piloto para 2014 (do pré-sal). Até lá, espero que a economia já viva outro momento."
Para Paulo Cesar de Araújo Lima, diretor da Eletro Primus, distribuidora da multinacional alemã Sick, fabricante de sensores industriais, o tempo também está a favor das boas expectativas da feira. "Acho que em dois anos as coisas (na economia) devem se reequilibrar. Como estamos falando em investimentos para 18 anos, é muito pouco (o tempo da crise do mercado)." Na sua opinião, o que preocupa é a queda contínua do preço do petróleo. "O pré-sal não é viável com o petróleo abaixo de US$ 98."
No mesmo sentido das cotações do petróleo, os metais negociados na Bolsa de Metais de Londres (LME) terminaram o dia em baixa. A tonelada do alumínio com entrega em três meses fechou em queda de 5,96%, a US$ 2.571. O cobre recuou 3,34%, a US$ 6.820,50, o chumbo caiu 4,25%, a US$ 1.815, e o estanho perdeu 3,29%, cotado a US$ 18.525. Níquel e zinco registraram as maiores baixas, de 5,24% e 5,18%, valendo US$ 18.005 e US$ 1.730,50, respectivamente.