Os quatro nomes mais cotados para concorrer à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010 defenderam ontem seus projetos em um debate em São Paulo e deram uma mostra do tom dos discursos a serem adotados para a disputa.
José Serra, governador de São Paulo, do PSDB, criticou a política econômica do governo federal, disse que o Brasil precisa aumentar os investimentos e pediu a aplicação da Lei de responsabilidade Fiscal também para a União. Correligionário de Serra, o governador de Minas, Aécio Neves, pregou a conciliação entre o governo e oposição, nos moldes da costura política feita em Belo Horizonte, que uniu em torno do mesmo candidato PT e PSDB. A petista Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, fez uma ampla propaganda das obras de infra-estrutura do governo e falou sobre os recursos que serão obtidos com o petróleo da camada do pré-sal. Ciro Gomes, do PSB, disse que sua candidatura é "natural", mas já fala abertamente em uma possível aliança com Dilma ou Aécio.
Em evento promovido pela revista "Veja", os quatro foram convidados a falar sobre o futuro do Brasil. Serra abriu seu discurso falando que o Brasil vive desde os anos 80 o "maior período de semi-estagnação" em muitas décadas e que até 2020 o país precisará gerar cerca de 21 milhões de empregos para garantir melhores condições de vida à população. O governador tucano disse que há uma "armadilha que é dada" pelos juros reais" excessivamente elevados", do câmbio "super valorizado", do déficit em conta corrente e dos gastos do governo federal que "aumentam vertiginosamente". Segundo ele, "os gastos do governo federal devido a despesas de custeio (...) deverão ser 130% mais altos em 2010 do que em 2002". "O que entra por uma mão sai por outra", disse ontem. "Isso conspira contra o crescimento."
O também tucano Aécio Neves disse que o país vive hoje uma "polarização absolutamente artificial", devido à "mera disputa pelo poder". "Eu acho que o PT e o PSDB, que governaram o Brasil nos últimos 14 anos, têm uma responsabilidade maior do que os outros atores (políticos) porque esses partidos conhecem a agenda que o Brasil precisa", disse. O tucano defendeu que os partidos "criem um clima" que possibilite a criação de uma agenda comum entre os partidos no pós 2010, "independente de quem seja o vencedor".
Principal aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra Dilma falou sobre o crescimento dos investimentos do governo federal no país, sem deixar de lado a distribuição de renda. Ela comentou a mobilidade social e a formação de uma nova classe média no Brasil, mas destinou a maior parte de seu discurso para os avanços do país em obras de infra-estrutura. O petróleo da camada do pré-sal também foi comentado pela ministra, que hoje participou da primeira extração de petróleo dessa camada em Vitória. Segundo ela, é uma mostra de que o país está "vivendo o futuro".
Ciro Gomes foi o único entre os quatro que falou abertamente sobre a possibilidade de ser candidato em 2010. Ele considera que sua pretensão por disputar a presidência é natural, mas logo demonstrou apreço por compor chapa com Dilma ou com Aécio Neves. Ele elogiou ambos e ressaltou que a aliança com Dilma é mais fácil, já que seu partido, o PSB, apóia o governo Lula.
Marta Suplicy, do PT, pode entrar no cenário da sucessão do presidente Lula caso vença na disputa pela Prefeitura de São Paulo neste ano, analisou o governador da Bahia, Jaques Wagner. "Se ela ganhar, vai bulir com um monte de coisas", comentou Wagner. "Vencer em São Paulo aguça todo mundo".
O governador da Bahia não escondeu sua vontade de também ser um dos cotados para 2010, mas disse que o presidente Lula já deu mostras de que a ministra Dilma é a sua candidata. "Ele (Lula) dá demonstrações claras de que aposta na ministra Dilma. Então eu estou encaixado nesse processo", disse, explicando que seguirá a escolha do presidente.
Também cotado para a sucessão, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, responsável pelo Bolsa Família, disse não ser presidenciável e que em 2010 estará "onde o presidente estiver".