Ameaçado por aliados do primeiro-secretário de ser envolvido na crise das licitações fraudulentas, corregedor isenta colega. Mas a PF espera a Justiça para continuar a investigação
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), confirmou as expectativas do colega Efraim Morais (DEM-PB). Conforme o Correio antecipou no último dia 4, Tuma cedeu às pressões e, sem ouvir qualquer testemunha, enterrou a investigação interna sobre as suspeitas de envolvimento de Efraim nas irregularidades em licitações na Casa.
Tuma entregou ontem cedo um relatório e seguiu direto para o aeroporto sem dar entrevistas. Sua conclusão de três páginas foi lida em plenário pelo senador Mão Santa (PMDB-PI), que destilou elogios ao corregedor. “Ninguém melhor do que ele para salvaguardar a ética e a grandeza da história do Senado”, disse. Depois, sobraram palavras a Efraim. “A contribuição de Efraim Morais à democracia foi assim como a de Rui Barbosa. Ao senador Efraim, então, os aplausos”. Ao lado de Mão Santa, Efraim manteve o silêncio.
Para livrar o senador do DEM, Tuma afirmou que o colega foi “explícita” e “inteiramente” afastado da investigação policial. Os documentos da PF, porém, apontam que o corregedor está desinformado. Somente o relatório final da Operação Mão-de-Obra cita Efraim 14 vezes. O delegado Matheus Rodrigues afirma ser “nítido” que o lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado de negociar os resultados das licitações, era o “representante/assessor direto do senador Efraim”. A polícia pede ainda que o caso seja enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para “apurar as eventuais responsabilidades do senador Efraim Morais”. “O mesmo supostamente estaria envolvido na organização criminosa”, sustenta o delegado, que aguarda a manifestação da Justiça para continuar a investigação.
Tuma desconsiderou os relatórios de inteligência da PF que mostram o lobista cumprindo expediente no gabinete do primeiro-secretário da Casa em 2006, logo após a vitória das empresas Ipanema e Conservo de licitação do Senado para a contratação de mão-de-obra terceirizada. No mesmo período, Ferreira foi flagrado em encontros com os empresários. O lobista não era funcionário do Senado na época.
Tuma preferiu não investigar também uma procuração, registrada em cartório, em que Ferreira transfere a Efraim cotas de capital em uma empresa de consultoria.
O corregedor seguiu o entendimento da procuradora da República Luciana Marcelino Martins, que também optou por não avançar as investigações em torno da relações entre o lobista e o senador do DEM. Efraim é responsável pelos contratos no Senado. Nos últimos meses, ele prorrogou os serviços sob suspeita, que somam R$ 35 milhões, sem licitação até 2009. Tuma também poupou o diretor, Agaciel Maia, outro que aparece nos relatórios da PF. Agaciel nega ligação com as irregularidades.
Comemoração
A decisão de Tuma era esperada pelos aliados de Efraim. O corregedor vinha sendo chantageado em conversas reservadas porque era o primeiro-secretário em 2004, quando as empresas suspeitas assinaram contratos emergenciais com o Senado. Aliados do paraibano ameaçaram arrastar Tuma ao centro da crise.
Ontem, Efraim não escondeu a satisfação com Tuma e correu para o plenário. O senador cumprimentou os colegas, entre eles Renan Calheiros (PMDB-AL) e Pedro Simon (PMDB-RS). Durante a divulgação de informações da PF sobre Efraim, eles e outros senadores preferiram não cobrar explicações do primeiro-secretário. Adotaram a tática do silêncio.
Acima, relatório de tuma diz que efraim foi afastado da investigação da polícia federal. abaixo, relatório final da pf o contradiz e mostra que há uma suspeita sobre o senador, incluindo até um pedido para que o supremo entre no caso.(Correio Braziliense )