sexta-feira, 26 de setembro de 2008

PSDB busca unidade para enfrentar PT em 2010


Apesar da radicalização da disputa interna em São Paulo, os tucanos planejam conversar depois do primeiro turno das eleições com a intenção de manter o PSDB unido. Essa é a disposição de José Serra, padrinho da candidatura do prefeito Gilberto Kassab, do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que apóia a candidatura do tucano Geraldo Alckmin a prefeito, e de gurus como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Dividido, o PSDB avalia que não terá chances contra o candidato do governo com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na eleição de 2010.

A estratégia tucana - nem sempre lembrada pelo PSDB paulistano - está nas entrelinhas de uma declaração feita por Aécio sobre a disputa em São Paulo, na qual o governador mineiro defendeu o fim das hostilidades em São Paulo e afirmou que se eles (os tucanos) têm um projeto para o Brasil, ele passa pela aproximação do PSDB com o DEM e até com forças hoje situadas no campo governista. Essa é a estratégia; as escaramuças fazem parte da tática.

A disputa de fundo é na realidade entre Serra e Aécio, que estão em plena campanha pela maioria que indicará o candidato tucano para a sucessão de Lula em 2010. O PSDB acredita que tem perspectiva real de poder para daqui a dois anos - Serra ou Aécio - e avalia que não há alternativa: ou se mantém unido em torno dos dois ou vira uma federação de caciques regionais. Mas neste particular, não é páreo para o PMDB, que domina com maestria a tecnologia federativa.

A cada dia mais parecido com o PMDB, o desafio dos caciques tucanos é evitar se transformar na criatura a que renunciaram em 1988. No processo com vistas a 2010 é provável que o PSDB possa perder quadros, segundo avaliações internas, mas não se vê no horizonte a fuga de uma corrente expressiva para se abrigar ou fundar uma nova sigla, como ocorreu com Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, para citar só os pemedebistas paulistas, no fim dos anos 80.

O momento, segundo entende o PSDB, seria bem diferente daquele de 1988, quando, devido a uma grande incompatibilidade com o quercismo, um grupo de cardeais com prestígio e potencial - tanto que acabou dando um presidente da República - rompeu com o PMDB e fundou o PSDB. De parecido apenas o fato de que um grupo (os futuros tucanos) se sentia alijado e com o caminho bloqueado por outro (quercista) no PMDB. À época, era forte também a rejeição ética, o que, pelo menos por enquanto, não se verifica hoje a não ser por maledicências esparsas de um lado ou outro. Atualmente, tucanos e quercistas são sócios na candidatura kassabista.

Alckmin, de fato, tem alternativa ao PSDB, mas os tucanos são capazes de arrumar mais de uma razão para ele não se animar a deixar o partido. Uma delas: se Fernando Henrique Cardoso e José Serra deram o lustro intelectual, quem botou a mão na massa para formar o partido, no Estado, foi Geraldo Alckmin. Uma atividade intensa que chamou a atenção de Mário Covas sobre o médico e prefeito de Pindamonhangaba. Em resumo, Alckmin tem um patrimônio que dificilmente seguiria com ele, inteiro, para outra legenda: São Paulo é um Estado em que o PSDB está efetivamente enraizado.

A opção imediata de Geraldo Alckmin seria o PSB. O deputado Márcio França, presidente da seção regional da sigla, é um entusiasta da mudança, mas a cúpula é refratária. O ingresso de Aécio no PSB poderia ser uma senha para a debandada. Mas os movimentos de Aécio em direção ao governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, e do deputado Ciro Gomes, por enquanto, sinalizam mais para eventual tentativa de aliança em 2010 do que para a cooptação.

O PSB tem decisão tomada: ou terá candidato próprio em 2010, que seria Ciro Gomes, ou faz uma composição com o PT na condição de vice da chapa (fala-se em Eduardo Campos, mas o governador parece mais inclinado a pensar na reeleição). Além disso, o PSB decidiu que não ficará contra Lula na sucessão, o que é provável, a menos que se evapore a popularidade do presidente. E Lula já tem candidato: se não houver imprevisto na rota, ele será Dilma Rousseff, a ministra da Casa Civil, mãe do PAC e madrinha do pré-sal.

Criar um novo partido, para contornar a eventual indicação de Serra pelo PSDB, seria uma opção que colocaria Aécio na mesma trilha do avô, mas sem a mesma grandeza: Tancredo Neves rachou o PMDB e fez o PP para ganhar a Presidência dos militares e fazer a transição democrática. Não só as condições de hoje são outras, como é muito difícil criar um novo partido, especialmente a apenas dois anos da eleição - ou menos, pois é algo que só começaria a ser tramado a partir de março de 2009. O exemplo de Heloísa Helena e seu P-SOL é eloqüente demais para ser ignorado.

O jogo deve ser com os partidos que estão em campo. Lula aposta na divisão tucana ao incentivar Aécio a sair candidato pelo PMDB. Ao mesmo tempo procura manter os pemedebistas sob controle, de olho no tempo de TV do partido. O PMDB, que já tem a Pasta do pré-sal (Minas e Energia), pode efetivamente ficar com a Saúde, com a designação de Geddel Vieira Lima para o lugar de José Gomes Temporão e Eunício Oliveira para a Integração Nacional.

O presidente vai precisar do tempo de TV do PMDB em 2010, assim como Serra ou Aécio devem precisar do tempo do Democratas: São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife reiteraram a importância da televisão a eleição do "poste", quando alguns marqueteiros já diziam que a propaganda gratuita era uma fórmula esgotada que já não atendia as expectativas do eleitorado na tomada de decisão do voto.

A disputa entre Serra e Aécio só deve clarear à medida que 2009 avançar e forem caindo os prazos eleitorais - o prazo de filiação partidária, por exemplo, será no início de outubro do próximo ano. Para este ano, os tucanos avaliam que quem perder o primeiro turno da eleição em São Paulo enfia a viola no saco e apóia o vencedor, com ou sem muxoxos, até mesmo porque se estará falando praticamente da mesma fatiado eleitorado.

Enquanto isso, Serra e Aécio continuam com a disputa que hoje ocorre paralela às eleições municipais, sem as caneladas abaixo da linha de cintura que se vêem na disputa paulistana. Por ora, Serra investe mais em São Paulo - na hora do almoço, esta semana esteve em Botucatu, Guarulhos e Praia Grande - e promete ser mais ativo no segundo turno, seja Kassab ou Alckmin o candidato. De certa forma, Serra já mede forças com Lula no estado, mas dificilmente se licenciará do governo do estado para fazer campanha. Se tem algum problema com a movimentação de Aécio, não fala ou fala só para os mais íntimos. "Eu não vou brigar com o Aécio", tem repetido em suas conversas, como se fosse um mantra.

Aécio, por seu turno, desde o início da campanha tem evitado por os pés em São Paulo - o puxão de orelhas que deu nos caciques tucanos para que eles contivessem os soldados rasos da infantaria, em nome da unidade, foi uma exceção. Mas também uma emboscada na guerrilha a que se dedicam os dois tucanos. Enquanto Serra investe em São Paulo, o governador mineiro, que tem a retaguarda bem mais tranqüila, passou a semana agradando a grandes eleitores do Nordeste na convenção tucana que escolherá o candidato do PSDB a presidente.

Os dois deveriam estar juntos na segunda-feira em Maceió, para uma homenagem a Ruth Cardoso. À última hora, Aécio mandou avisar que não iria pois estava afônico. Serra, depois da homenagem, foi para um shopping fazer campanha para a candidata tucana Solange Jurema, que tem 6% das intenções de votos contra 81% do prefeito Cícero Almeida (PP).

0 Comentários em “PSDB busca unidade para enfrentar PT em 2010”

Postar um comentário

 

Consciência Política Copyright © 2011 -- Template created by Consciência Política --