terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mais PIB e menos IPCA ajudam 2010

Uma nova rodada de redução dos índices de inflação (IGPs menores e IPCA-15 de outubro em apenas 0,18%) amenizou, um pouco, a ênfase do mercado em defender elevação nas taxas de juros no primeiro semestre do ano. A combinação de projeções melhores para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano com redução das estimativas para a inflação do ano cria um ambiente de maior tranquilidade para os dois primeiros trimestres de 2010, dizem alguns analistas.

O boletim Focus, divulgado ontem, consolidou essa dupla melhora nas expectativas dos agentes do mercado consultados pelo Banco Central para o crescimento da economia e para o aumento de preços neste ano. Segundo o Focus, o PIB deve crescer 0,18% e a inflação deve fechar abaixo da meta, em 4,29% - um mês atrás, o mercado previa queda no PIB (-0,15%) e maior inflação. Com a retomada econômica, o mercado previa um aumento nas taxas de juros já no começo do ano para evitar o risco de a inflação superar a meta. Esse consenso, no entanto, é aos poucos alterado, consolidando a visão de que o aumento de juros deve vir, mas para combater a inflação de 2011.

"Na hora que cair a ficha do mercado, o Focus vai espelhar uma queda ainda maior do IPCA neste ano", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. Para Gonçalves, as expectativas de IPCA acima da meta em 2010 incorrem na estratégia de incorporar a política fiscal do governo na previsão de juros e preços. Nos cálculos do mercado, a demanda interna cresce impulsionada pelos gastos públicos elevados, e é atendida pela retomada da indústria, que repõe produção e estoques após a retração provocada pela crise mundial. A margem de manobra aperta conforme o hiato do produto - a diferença entre o uso da capacidade e a maturação de investimentos - se estreita.

Para Maurício Molan, economista do Santander, o mercado analisa os dados anualizados de crescimento trimestral para realizar suas projeções. Segundo ele, o crescimento anualizado no segundo e no terceiro trimestre deste ano foi, respectivamente, de 7,8% e 8,2%. "Não existe condição da economia crescer a taxas de 8% ao ano sem gerar pressão inflacionária. Assim, segundo esta hipótese, o BC deve agir para trazer esses valores para algo como 4%", afirma.

Para Molan, que prevê Selic em alta apenas no segundo semestre do ano que vem, o arrefecimento da demanda virá "naturalmente". Os investimentos da indústria crescem acima da demanda e, além disso, problemas de oferta são facilmente corrigidos pela importação. Para Gonçalves, do Fator, "esse espaço para importar não está em nenhuma estatística". Para o economista, a "enorme" capacidade ociosa na indústria, além da possibilidade de substituição pelo importado inviabiliza o argumento de que a demanda, como está hoje, gera risco de inflação.

"Com crescimento certo de 4% no ano que vem, saindo de zero em 2009, o que realmente segura a inflação é o câmbio", afirma Nelson Marconi, professor da FGV-SP. A valorização do real frente ao dólar - que passou de R$ 2,33 no começo do ano para quase R$ 1,70 - atinge os índices inflacionários de duas formas: ao reajustar tarifas públicas, como a tarifa de energia elétrica do Estado de São Paulo; e ao baratear o produto importado.

Para Marconi, não há, no Brasil, uma demanda "super aquecida" que justifique a elevação dos juros, que valorizariam ainda mais o real em 2010. Medidas como a recentemente anunciada cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de estrangeiros que aplicam em ações e títulos públicos são positivas, avalia, ao sinalizar que o governo não vai permitir valorização maior. "Taxar o capital estrangeiro e na sequência aumentar os juros é como tomar remédio para gripe e depois passear na chuva", diz. Para o economista, o governo poderia, alternativamente, desativar as políticas anticíclicas e aumentar o superávit primário. Para Gonçalves, a reincorporação dos compulsórios - reduzidos durante a crise - é muito mais relevante na contenção da demanda que o aumento dos juros.

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