quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Partidos nanicos ganham força com troca de filiações

PR e PSC, dois dos três partidos que mais se beneficiaram do último troca-troca partidário para as eleições de 2010 ficaram maiores, respectivamente, que PSB e PV, filiações de dois presidenciáveis, o deputado Ciro Gomes (CE) e a senadora Marina Silva (AC).

A trinca é liderada pelo PR, que saltou de 25 para 44 deputados federais. Tornou-se o quinto partido da Câmara Federal e o terceiro da base governista, atrás apenas do PT e do PMDB. Tem 16 deputados a mais que o PSB de Ciro Gomes.

O vice-presidente nacional do PR, Milton Monti, que esteve nesta terça-feira no jantar oferecido pelo partido à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, reivindica participação nas decisões proporcional ao tamanho de sua bancada, caso fechem aliança com o PT. "A pergunta no PR hoje é: vamos apenas apoiar ou vamos participar de um futuro governo? Esperamos manter em 2010 os números da bancada atual, uma das cinco maiores do Congresso Nacional. É claro que, caso apoiemos Dilma e ela vença as eleições, queremos maior participação".

O articulador da aliança será o ministro do Transportes, Alfredo Nascimento, único representante do partido na Esplanada dos Ministérios e pré-candidato ao governo do Amazonas.

O PSC, fundado em 1985 e considerado um "nanico" da política nacional engordou suas fileiras com mais sete deputados: dois logo após a eleição; um em 2007 e mais quatro agora, chegando a 16, sem perder nenhum. Passa a ser maior que o PV de Marina.

O partido passa a ter também representação no Senado, com Mão Santa (PI) , recém-saído do PMDB. Seus motivos são semelhantes àqueles que levaram tantos parlamentares ao PSC.

Mão Santa irritou-se com a cobrança de dirigentes pemedebistas à sua postura no Senado. Crítico costumaz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador foi procurado por líderes do partido, com pedidos para que reduzisse os ataques ao presidente.

Também com problemas junto à direção estadual do partido, que teria lhe negado legenda para disputar a reeleição ao Senado pelo Piauí, mudou-se para o PSC. Assumirá a presidência do partido no Estado.

Marcondes Gadelha assume o comando do partido na Paraíba. Egresso do PSB, leva consigo boa parte da família para o PSC. O filho Leonardo, deputado estadual, e seu irmão, o presidente da Federação das Indústrias da Paraíba (Fiep), Francisco "Buega" Gadelha confirmaram filiação.

No PR, também vale usar o comando estadual da legenda como atrativo. O partido é novo e carece de nomes de expressão nos Estados: "Quem sai de um partido grande para um menor quer visibilidade. É o caso do deputado federal José Carlos Vieira, que sai do DEM e vem para o PR. Comandará nosso partido em Santa Catarina", diz Monti.

Outro motivo que leva deputados de grandes siglas a partidos menores é a fidelidade ao projeto de parceiros poderosos. Laerte Bessa (PSC-DF) não comandará diretório, mas tem uma missão no Distrito Federal: ajudar Joaquim Roriz, quatro vezes governador, porém sem espaço no PMDB - que deve apoiar a reeleição de José Roberto Arruda (DEM-DF) - a alcançar o posto pela quinta vez.

Depois de conversar com PSB e PDT, sem obter garantias de candidatura, Roriz foi para o PSC depois de Valério Campos, seu braço direito, também acertar filiação, com possibilidade de presidir o partido no Estado. A ex-mulher de Arruda, Mariane Vicentini, também se filiou ao PSC e deve concorrer à Câmara Federal.

Caso semelhante aconteceu com Geraldo Pudim (PR-RJ), que impetrou junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedido de justa causa para deixar o PMDB, alegando sofrer discriminação pessoal do diretório estadual do partido. Parte do grupo de pemedebistas que apoiava o lançamento do nome do ex-governador Anthony Garotinho ao Palácio da Guanabara em 2010, Pudim vai para o PR, onde Garotinho, que deixou o PMDB em junho deste ano, já está.

E há quem encontre outras soluções para se livrar da possibilidade de perder o mandato. O deputado federal Carlos Alberto Canuto sai do PMDB após costurar um acordo em família. Presidido em Alagoas por Marcos Calheiros, Canuto vai para o PSC depois de ouvir do senador Renan Calheiros (PMDB) a promessa de que não teria seu mandato cassado. Em troca, se manterá aliado do antigo partido.

O vice-presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo Pereira, reclama do rótulo de nanico: "Em 2006, o PCdoB tinha dois candidatos a mais do que nós, e ninguém o chamava por esse nome. Era considerado um partido com ideais, enquanto nos chamavam de "partido de aluguel". Temos ideais baseados em preceitos cristãos". A declaração de Everaldo contrasta com a do presidente do partido, Vítor Nósseis, que em entrevista ao "O Estado de São Paulo" disse: "Quem não é alugado que atire a primeira pedra (...) aceitamos todo mundo. Se tiver recursos, melhor", causando um mal-estar velado em seus correligionários.

O terceiro dos partidos mais beneficiados pela migração de parlamentares, o PRB, colheu uma leva de evangélicos, como os deputados Antonio Bulhões e Flavio Bezerra, ambos membros da Igreja Universal do Reino de Deus e saídos do PMDB. O partido conta com o senador Marcelo Crivella (RJ), também da Universal: "Não é uma exigência. Temos apoio natural da ala evangélica e esses deputados se sentirão à vontade conosco", afirma Crivella, um dos fundadores do partido, junto com o vice-presidente José Alencar, ambos egressos do PL.

Empolgado com o crescimento do partido na Câmara - que passou de três para nove deputados federais - Crivella afirma sem pudores que o partido nasceu para ser grande, e projeta: "Vamos fazer, pelo menos, o dobro de deputados em 2010. Do fundo de sua tragédia (na luta contra o câncer), a presença de José Alencar é tão inspiradora que ele mesmo já nos afirmou, em particular, que, caso esteja curado, pode até concorrer ano que vem a deputado federal por Minas Gerais, nos ajudando a fazer uma grande bancada".

O PRB ainda não definiu se fará aliança com o PSB, de Ciro Gomes (já que ambos os partidos fazem parte do chamado centrinho) ou se, como é da vontade de Alencar, apoiará o PT e Dilma Rousseff à Presidência.

Em comum na doutrina partidária de PR, PSC e PRB, estão a "valorização do ser humano" e recorrentes citações a passagens do Evangelho. No discurso de seus representantes há o anseio por uma nova rodada de negociações com o governo, que contemple seu crescimento. Unidos na base governista, o discurso também é uniforme em relação às próximas eleições: não querem mais ser nanicos, mas partidos "em ascensão". Segundo suas lideranças partidárias, o tempo a que cada partido terá direito na propaganda eleitoral gratuita - fator importante na hora de negociar alianças - será de 20 segundos para o PRB; 58 segundos para o PSC e 2 minutos e 10 segundos para o PR. O cálculo é baseado no número de deputados eleitos em 2006, sem levar em consideração as aquisições recentes.

PR, PSC e PRB engordaram às custas de PMDB e DEM, os que mais perderam parlamentares na reta final. Na Câmara, 28 deputados trocaram de legenda desde o fim de agosto, sendo que outros dois já haviam feito a mudança em maio. No Senado, foram quatro os senadores que mudaram de partido. Dos 11 partidos que perderam parlamentares, apenas três (DEM, PDT e PTB) têm se mostrado dispostos a reaver os mandatos na Justiça.

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