No seu primeiro evento público desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez críticas ao governo e também à oposição, liderada pelo seu próprio partido. Alckmin disse que é patriótico ser de oposição e se esquivou de opinar sobre o apoio do PSDB à candidatura do petista Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara. O governo vai mal e a oposição também. Isso é preocupante, declarou o ex-governador, candidato derrotado nas eleições para a Presidência, durante uma palestra para médicos e residentes do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Alckmin disse que é preciso uma oposição firme e ambiciosa, mas não quis entrar em detalhes sobre as supostas fraquezas da oposição. Apenas disse que os partidos deveriam ter um trabalho articulado e cobrar as reformas do governo. Nós temos um governo que começa mal: primeiro condiciona a formação do novo governo à eleição de Mesa (da Câmara). Isso é inadmissível. Segundo, sem reforma. Onde é que estão a reforma política, a fiscal, a tributária?. Alckmin, que vai ficar até junho nos Estados Unidos, estudando em Harvard, tenta reservar seu espaço como liderança no PSDB. Na palestra, disse que vai voltar com todo o gás. Para os jornalistas, minimizou o papel dos governadores na oposição. Não é tarefa dos governadores fazer oposição. A oposição cabe ao partido e ao Parlamento, afirmou.
Apesar de os governadores de São Paulo e de Minas Gerais, José Serra e Aécio Neves, articularem o apoio tucano à candidatura de Chinaglia à presidência da Câmara, Alckmin disse que esse é assunto restrito ao Congresso: Esse é um assunto interno da Câmara Federal e dos deputados. Cabe aos deputados avaliar (o apoio). Depois de pregar por mais de seis meses um choque de gestão, o ex-governador ainda fala em abalos no país. O Brasil precisa ter um chacoalhão. E a oposição tem responsabilidade, disse ele, que completou: Uma eleição de Mesa parou o país. Não tem ministério porque não tem Mesa (da Câmara).
Diferenciando privatização de concessão pública, o ex-governador criticou a suspensão do processo de concessão das estradas federais. Segundo a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, o programa de concessões está sendo reavaliado pelo governo. O governo mandou um recado para o setor privado: não vou investir. O Brasil precisa estimular a iniciativa privada a participar da ampliação da infra-estrutura, disse Alckmin.
As férias do presidente Lula também não escaparam das críticas do ex-governador. Para ele, o segundo mandato é um novo governo e o presidente deveria estar na ativa. Lula está desde sábado com a mulher no Forte dos Andradas, em Guarujá (SP). Onde já se viu pendurar a chuteira antes de começar a partida?, reclamou, cometendo uma gafe: seu companheiro de partido, o governador reeleito Aécio Neves, também está em férias, esquiando em Aspen com a filha Gabriela.
Serra
As decisões do governador José Serra de fazer um recadastramento de funcionários e rever os contratos do governo gerou desconforto para Alckmin. Perguntado pelos jornalistas sobre sua avaliação, Alckmin tentou poupar o tucano, mas deixou escapar que o recadastramento do funcionalismo é feito todo ano e que seria desnecessário fazer uma busca aos fantasmas. Não existe isso. Você poderia ter fantasma entre inativos e pensionistas. Mas isso já é recadastrado. É rotina, é feito todo ano, afirmou, dizendo ser, de qualquer maneira, positivo o recadastramento. Geraldo Alckmin também defendeu o caixa que deixou no governo ao responder sobre a suspensão de investimentos em São Paulo, feita pelo governador Serra. Só o Executivo tem em caixa R$ 3,9 bilhões. Quando o governador Mário Covas assumiu, tinha R$ 38 milhões em caixa e R$ 2 bilhões em dívidas. Agora, medidas de boa gestão são sempre necessárias. O ajuste fiscal nunca é uma obra acabada, afirmou.
Alckmin também falou sobre os cortes do programa Escola da Família, um dos carros-chefes de seu governo. Nesta semana, Serra diminuiu o projeto à metade. O programa consiste na abertura das escolas com atividades culturais e esportivas durante os finais de semana. É uma decisão de governo. Cabe ao governo estabelecer as suas prioridades. Eu não vou comentar questões de governo. Cada governo tem a sua prioridade.