sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

O ANO DA HABITAÇÃO


A estabilidade econômica deve fazer com que os financiamentos habitacionais superem uma marca histórica em 2007. A previsão é de que pelo menos R$ 17,8 bilhões — incluindo apenas recursos da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) — sejam destinados ao setor neste ano. Esse número é 18,1% maior do que a previsão inicial para 2006 de R$ 15,1 bilhões e mostra que os bancos vêem esse tipo de empréstimo como um negócio rentável e não mais como um “mico”, como antes.

Para o superintendente técnico da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), José Pereira Gonçalves, as quedas dos juros e da inflação deram “coragem” aos clientes para entrarem em financiamentos de longo prazo. Além disso, as operações de crédito imobiliário em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) são muito baixas e o déficit habitacional é elevado, o que demostra que há muito espaço para crescer. No Distrito Federal, os empresários esperam que haja um crescimento de 35% no volume de financiamentos bancários destinados à compra da casa própria (leia matéria abaixo).

Cálculos da Abecip apontam que as instituições financeiras devem aplicar cerca de R$ 11 bilhões em habitação este ano, só com recursos da caderneta de poupança. Esse valor daria para construir de 140 mil a 150 mil unidades. Em 2006, a previsão de fechamento era de R$ 9,3 bilhões. Com os R$ 6,850 bilhões do FGTS previstos para 2007, o volume de investimentos sobe para R$ 17,850 bilhões. Esse número, no entanto, é conservador pois não inclui recursos do orçamento, possibilidade de suplementação no FGTS e medidas que o governo federal anunciará no final do mês para incentivar o crescimento econômico.

Em 2006, por exemplo, a previsão inicial de aplicação em habitação com dinheiro do FGTS era de R$ 5,8 bilhões e fechou próximo de R$ 7 bilhões. Considerando isso, os empréstimos no ano passado devem ter chegado a R$ 16,3 bilhões.

Segundo o diretor de crédito imobiliário do HSBC, Roberto Sampaio, o interesse pelo setor imobiliário tem crescido devido a mudanças na legislação que deram mais garantias para os bancos. Para o superintendente-adjunto de crédito imobiliário do Santander, Fernando Baumeier, os juros reais precisam cair mais para estimular os financiamentos. Já o diretor de crédito do Itaú, Luiz Antonio Rodrigues, acredita que os negócios do banco devem apresentar um crescimento de 20% a 22% em 2007. A partir de 2004, a instituição financeira tem aplicado uma média de R$ 1,4 bilhão ao ano no setor.

O casal Marlus Silva, 27 anos, e Alessandra Rodrigues, 24 anos, conseguiram comprar sua casa própria no final de 2006. Depois de muitos anos no aluguel, pegaram dinheiro emprestado para adquirir um apartamento em Águas Claras. O pagamento será feito em 20 anos e os juros são salgados. Da prestação mensal de R$ 1.230,00, R$ 757 são referentes a juros. “Daria para comprar dois apartamentos, mas não tem outro jeito. É difícil economizar para pagar à vista”, afirmou Marlus.

Dê olho nesse mercado promissor, o BRB, segundo o gerente-executivo do departamento de crédito do banco, Antônio Cardozo de Oliveira, prepara-se para retomar os financiamentos imobiliários para pessoa física, que estavam interrompidos e para lançar um cartão de débito para a construção civil. Já o Banco do Brasil deve começar a atuar no setor a partir do segundo semestre.

Material de construção
A Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) divulgou ontem que o setor deve crescer 8% neste ano porque a habitação será uma das áreas escolhidas pelo governo para alavancar o crescimento nos próximos quatro anos. Em 2006, o segmento avançou 5,5%. O Índice de Preços da Construção Civil (INCC), do IBGE, registrou desaceleração em 2006. No ano, o índice apresentou uma variação de 5,13% ante 6,98% de 2005.

Otimismo em Brasília

A possibilidade de crescimento do número de financiamentos imobiliários deixa empresários da construção civil no Distrito Federal ainda mais otimistas para este ano. Pela estimativa da Associação de Diretores de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi), o número de negócios fechados por financiamento bancário deve crescer 35% até o fim do ano. “As relações contratuais estão mais seguras e os juros mais baixos, o que aumenta a procura pelos financiamentos”, justifica Adalberto Valadão, presidente da Ademi.

Para Elson Póvoa, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF), as mudanças sentidas no mercado financeiro quanto ao crédito habitacional vão favorecer o desenvolvimento do setor no DF. “Além da queda da taxa de juros temos um aumento do otimismo do comprador”, diz Póvoa.

As estimativas de expansão do setor alegram o empresariado local. Wildemir Demartini, diretor da Royal, empresa especializada em revender imóveis, espera que as vendas por financiamentos bancários — 17% do total em 2006 — dobrem neste ano. “Os bancos estão concorrendo pelos clientes, o que favorece a compra de imóveis”, diz Flávio Fatureto, diretor comercial da JC Gontijo. Para Marcelo Carvalho, diretor da Paulo Octávio, o ideal para o setor é que os financiamentos bancários atinjam 100% das vendas.

O incremento das facilidades de pagamento dos imóveis promete aquecer ainda mais a venda de apartamentos novos no DF, que, no ano passado, movimentou R$ 1,2 bilhão. Segundo Valadão, mesmo com vendas em alta, a quantidade de imóveis novos no mercado se mantém estável. Pelos cálculos da entidade são 7,8 mil unidades por ano.

A criação do setor Noroeste e do Jóquei Clube deve aumentar a oferta de imóveis na capital, mas isso, de acordo com Valadão, vai refletir no mercado imobiliário apenas no segundo semestre do próximo ano. “Mesmo que o governo coloque os lotes em licitação, não há como o setor privado começar as obras imediatamente”, afirma o presidente da Ademi. “Mas isso não significa que a aceleração do lançamento do Noroeste não seja importante”, pondera.

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