segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O PT e a oposição


É incrível, mas a oposição esqueceu tudo o que aprendeu na vida e adotou a dispersão de forças como linha de atuação

Tratar o PT como cachorro morto, como se fez na crise do mensalão, foi um equívoco político da oposição. O partido sobreviveu à crise ética e emergiu das urnas robusto. Agora, usa tudo na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, inclusive os cargos e verbas oficiais. Não poderia ser muito diferente, pois o que está em jogo é a hegemonia petista no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, em decorrência, a construção de uma candidatura do próprio partido para sucedê-lo.

Nessa disputa entre o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o atual presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), porém, é que o PT implementa uma nova política de alianças no Congresso. Mais avançada em relação à anterior, que se sustentava no bloco PTB,PP e PL, a nova estratégia está sintonizada com a proposta de governo de coalizão com o PMDB, daí a sua força. O resto é o resto.

Aliado principal
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) sempre foi o preferido do presidente da República, embora Lula tenha se comprometido com Aldo Rebelo porque avaliava que contra a reeleição do comunista o petista não teria chances de vitória. Artífice da viabilidade de sua candidatura, o líder do governo se revelou também o construtor da nova política de alianças. Chinaglia conseguiu reagrupar as fações petistas, sempre a partir de São Paulo (onde todas atuam), e operou a ruptura com a velha política de alianças do partido. A idéia do “caroço” da coalizão, em que o PT buscaria se fortalecer dentro do governo de coalizão formando um bloco com o PCdoB e o PSB, aliados históricos, contra o PMDB foi para a lata do lixo. O aliado principal é mesmo o PMDB. Todos os demais partidos — inclusive o PTB, o PP e o PL — vêm em segundo plano.

É óbvio que o velho hegemonismo petista, que sempre canibalizou os aliados à esquerda, continua mais vigoroso que nunca. Mas a nova política de alianças é mais ampla e consistente. É o que o governo precisa para ter governabilidade. E seria feita por Lula de qualquer maneira, mesmo com a resistência dos petistas. Quando condenado ao isolamento, o PT deu a volta por cima graças à candidatura de Chinaglia. Se for vitorioso na disputa pela presidência da Câmara, o partido estará no melhor dos mundos. O cargo garantirá ao PT e ao presidente Lula a capacidade de inciativa política no Congresso, sem que o governo fique refém dos aliados, principalmente do PMDB. Por isso, o Palácio do Planalto desembarcou com tudo na candidatura de Chinaglia.

Dispersão de forças
Madri, Varsóvia, Stalingrado, Paris, Santiago. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, não precisa ir tão longe no tempo e no espaço para buscar exemplos de resistência e continuar sua queda-de-braço com os petistas. Os melhores exemplos para convencer a oposição de que seu nome é a melhor opção estão por aqui mesmo, no Congresso brasileiro. O principal deles foi eleição do presidente Tancredo Neves no colégio eleitoral. É incrível, mas a oposição esqueceu tudo o que aprendeu na vida e adotou a dispersão de forças como linha de atuação. Ao invés de construir a unidade das forças antipetistas, optou pela própria desagregação. Aturdidos pela derrota eleitoral, veteranos políticos da resistência democrática não estão entendendo nada.

A velha tática da frente única, “o golpe principal deve convergir contra o inimigo principal”, nunca esteve tão desprestigiada. Em vez de explorar a contradição aberta entre o PT e seus velhos aliados, PCdoB e PSB, e a divisão do PMDB, a oposição dá um espetáculo de incompetência política. Desestabiliza a candidatura de Aldo, fortalece a de Arlindo. E deixa de abrir espaço para sua própria atuação política, pois poderia bloquear o hegemonismo petista no Congresso. Os tucanos arquivam todas as diferença e decidem apoiar o candidato do PT, a pretexto de defender a proporcionalidade e a institucionalidade. O PPS, o PV e o PSol trocam a luta parlamentar pelo ato midiático e marcham para anticandidatura histriônica. Quem sabe mesmo o que quer o PFL, que nasceu de uma costela do antigo PDS (ex-Arena) exatamente para viabilizar a eleição de Tancredo Neves, a mais bem sucedida operação política da oposição para derrotar o regime militar.

Largada
“Olha a sucessão aí, gente!”. O carnaval nem chegou, o novo ministério sequer foi anunciado, mas a sucessão do presidente Lula está no horizonte. PT, PMDB, PSB e PCdoB, partidos que protagonizam o racha na base governista, nada mais querem do que cacife para negociar com Lula e uma boa posição de largada para 2010. A oposição, ao que parece, prefere se acomodar nos interesses localizados. Vai largar no rabo da cobra.

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