O PT quer recuperar os ministérios da Saúde e das Cidades, hoje nas mãos do PMDB e do PP, respectivamente. A comissão política do partido se reúne na tarde de hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a reforma ministerial. Vai também manifestar insatisfação com a pequena queda da taxa de juros — 0,25% — estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Os petistas defendem uma maior sintonia entre a política de juros e os programas do governo.
A decisão foi tomada ontem, durante a primeira reunião da Executiva do PT desde que o deputado federal Ricardo Berzoini reassumiu a presidência do partido. Ele ficou mais de três meses afastado por conta do caso dossiê contra tucanos — a suposta ação de petistas para a compra de informações sobre a participação de José Serra (PSDB) na máfia das ambulâncias. Na reunião de ontem, havia a expectativa de discutir a expulsão de dois “aloprados” que ainda permanecem no partido e também tiveram o nome envolvido no escândalo: Expedito Veloso e Oswaldo Bagras. Mas o assunto sequer foi tratado. “É um assunto de menor importância”, avaliou o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana.
A prioridade dos petistas na reunião, além de discutir a eleição da Presidência da Câmara, foi debater a relação do partido com o governo federal. Para o encontro com o presidente, na tarde de hoje, ficou combinado que o partido vai pleitear pastas que já ocupou no primeiro mandato de Lula. “Queremos manter a que já ocupamos e recuperar outras. Já tivemos Cidades e Saúde. São áreas onde temos tradição de atuação”, argumenta a líder do PT no Senado, Ideli Savatti (SC), que estará com o presidente hoje.
O deputado federal Maurício Rands (PT-PE), que participou da reunião de ontem, lembra ainda que, além dos ministérios, existem secretarias, diretorias e empresas. “O partido vai se reafirmar como eixo de sustentação do governo”, observa. A princípio, o PT não abre mão de nenhuma pasta. “Temos a obrigação de manifestar desejos. É legítimo”, completa Ideli Savatti.
Dirigentes do PT estão descontentes com a condução da política de juros do Banco Central, tocada por Henrique Meirelles, que consideram estar na contramão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado por Lula na semana passada. Apesar da insatisfação com a política de redução de juros, os petistas prometeram não pedir a substituição de nenhum integrante da equipe econômica de Lula. “Não vamos pedir cabeças porque acreditamos que uma mesma pessoa possa realizar ações mais ousadas”, argumenta Rands. Mas o deputado federal e integrante da Executiva Fernando Ferro pondera que “é uma contradição querer acelerar o crescimento e reduzir a queda da taxa de juros”.
Lula, o azarado
O corintiano Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, fez ontem à noite homenagem especial ao
ex-jogador Rivelino – “o meu maior ídolo no futebol brasileiro” —, durante entrega do 3º Troféu Mesa Redonda, da TV Gazeta de São Paulo, aos melhores jogadores do campeonato brasileiro de 2006. Lula se disse um “azarado”, por ser escolhido para entregar troféus “quando o Corinthians não ganhou um”.
O presidente também lamentou que um de seus filhos era corintiano e passou a torcer para o São Paulo por causa da mulher, e o outro, Luiz Cláudio Lula da Silva, que decidiu estudar Educação Física, está fazendo estágio como auxiliar técnico nas categorias de base
do São Paulo.
Dirigindo-se ao técnico Leão, Lula disse que sempre “chora às segundas-feiras” e “depois de ver o Corinthians jogar” no fim de semana (sábado o clube perdeu para o Ituano, por 2 a 1).
O presidente disse que o governo tem que ajudar os clubes: “Fico triste de não poder segurar esses meninos (jovens jogadores) no Brasil”, reclamou. Lula elogiou o prefeito Gilberto Kassab (PFL) por declarar que é são-paulino. “Político que diz que torce para todos os times é mentiroso”, considerou. (Gilberto Nascimento)
Agripino ironiza Renan
Ofuscada pelo barulho em torno da eleição para presidente da Câmara, a briga pela Presidência do Senado teve ontem mais um dia de discretos movimentos dos candidatos Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Agripino (PFL-RN). O governador do Rio, Sérgio Cabral, esteve em Brasília para visitar Renan e garantiu o apoio dos três senadores da bancada fluminense à reeleição do peemedebista. Ainda mantendo sob o mais absoluto sigilo os votos que acredita ter conquistado, José Agripino passou o dia preparando um manifesto com compromissos e intenções, que começa a entregar hoje nas mãos de todos os senadores.
Para Agripino, o lançamento do manifesto vai consolidar definitivamente seu nome como o do candidato do PSDB e do PFL. “Vou apresentá-lo em conjunto com Tasso Jereissati (presidente do PSDB), Jorge Bornhausen (presidente do PFL) e Arthur Virgílio (líder do PSDB no Senado)”, anuncia Agripino. Apesar da disposição do pefelista, ontem, Renan Calheiros deixou claro que ainda pretende lutar por uma candidatura única no Senado. “Eu vou buscar até a última hora uma candidatura de consenso”, enfatizou.
O peemedebista recebeu a visita do governador do Rio de Janeiro, na manhã de ontem. Cabral levou os votos e os três senadores da bancada do Rio — Marcelo Crivella (PRB), Francisco Dornelles (PP) e Regis Fichtner (PMDB). Fichtner é chefe de gabinete de Cabral e será exonerado do cargo apenas para votar em Renan, na próxima quinta-feira. “O Rio está fechado com o Renan com os seus três senadores. Não houve um fato sequer em que o Renan não estivesse ao nosso lado, ele que sempre foi uma espécie de quarto senador da bancada”, afirmou Cabral.
O encontro foi ironizado pelo adversário de Renan. “Para quem diz que está eleito, faz ato para anunciar apoio da próprio base? É mais que natural um peemedebista defender a candidatura de outro”, observou Agripino, que continua preferindo o silêncio a falar sobre os apoios que já ganhou. “Só posso dizer que não tenho razão para não confiar em todos os votos do PFL e do PSDB, só mesmo o João Tenório (PSDB) pelas relações com Alagoas”, completa Agripino, referindo-se ao estado de Renan.
Agripino acredita que tem chances de virar as eleições. Pelo menos 73 dos 81 senadores já haviam fechado, até a semana passada, com um dos candidatos: 39 com Renan e 34 com Agripino. Com mais dois votos, Renan estaria eleito. Nesse cenário, Agripino precisaria de pelo menos sete para vencer a disputa.
Bastidores
Ao contrário da disputa na Câmara, a eleição no Senado passa despercebida pelos holofotes. A estratégia dos dois candidatos é atuar nos bastidores, mantendo ao máximo em segredo o mapa eleitoral. Até ontem Renan Calheiros insistia em dizer que ainda falta o PMDB indicar oficialmente seu nome para concorrer, o que deve acontecer amanhã. “É um apoio importante pelo peso político do estado. Os governadores do PMDB fecharão apoio à indicação do partido se for efetivado o meu nome”, disse Renan.
Tarso agora quer reforma
O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, voltou atrás e defendeu ontem a necessidade de uma ampla reforma política no país. Na última quinta-feira, o ministro havia dito que “o governo Lula não precisa das reformas política e tributária para governar”. Agora, ele argumenta que o sistema político brasileiro está “esgotado” e precisa de acordo para que as mudanças sejam realizadas.
Tarso disse que o governo federal tem "consciência" de que a reforma política não será feita por iniciativa de um partido ou mesmo de um campo político. “É necessário trabalhar um consenso majoritário, uma hegemonia interna no Parlamento, em cima de alguns pontos fundamentais que possam desobstruir o atual sistema político e encaminhá-lo para um novo patamar democrático, de qualificação jurídica e de qualidade institucional, que coloque a democracia brasileira num outro nível.”
O ministro participou de seminário sobre o tema “Reforma política e pacto Federativo: o desafio da informação e o papel da sociedade”, na Assembléia Legislativa gaúcha. “Existe a possibilidade de haver um grande consenso em torno de temas como fidelidade partidária, votação mista, financiamento público das campanhas e na regulamentação de instrumentos que combinem a democracia direta com a democracia representativa”, disse ele.
Segundo Tarso, as mudanças podem sair ainda neste primeiro semestre do ano. O ministro afirmou, porém, que o governo federal não vai encaminhar novo projeto sobre o tema para o Congresso