terça-feira, 29 de julho de 2008

Classe emergente


A classe média que vem tirando proveito das baixas cotações do dólar, do aumento da renda e da criação recorde de emprego formal está ajudando a ampliar o buraco das contas externas do país, que, nos primeiros seis meses do ano, registraram o pior resultado da história. Essa camada da população engrossou o número de brasileiros que viajam para o exterior e gastaram, de janeiro a junho, US$ 5,534 bilhões, despesas sem precedentes para o período. Com essa disposição, a conta viagem ficou negativa no semestre em US$ 2,635 bilhões, depois de descontados os USS 2,899 bilhões que os estrangeiros trouxeram para o país. Somente em junho, o rombo na conta viagem atingiu US$ 621 milhões, o maior para todos os meses desde 1947, quando o Banco Central passou a fazer esse tipo de levantamento.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, não há qualquer perspectiva de reversão nesse quadro tão cedo. “Com certeza, o déficit na conta viagem continuará aumentando, devido ao câmbio favorável e ao aumento da renda”, afirmou. “Quando o mês de julho fechar, veremos outro déficit recorde, pois é mês de férias, período em que, tradicionalmente, as viagens aumentam”, emendou. Os dados preliminares do BC, até 28 de julho, confirmam o que ele diz. As despesas de brasileiros no exterior totalizaram US$ 1,104 bilhões, resultando em um saldo negativo de US$ 711 milhões. “Esse é um dos motivos, inclusive, de o déficit em transações correntes ter ficado, no primeiro semestre, acima do que imaginávamos”, destacou.

O governo, no entanto, vê com bons olhos esses números. Acredita que o fato de a classe média, que mostrou tanta resistência ao presidente Lula, sobretudo na disputa pela reeleição, em 2006, estar podendo viajar para o exterior é um sinal importante da significativa recuperação da renda e do emprego que se viu nos últimos anos. “Quer um sinal mais importante de melhoria nas condições de vida do que esse?”, indaga um assessor de Lula. É por isso, ressalta ele, que a aprovação do governo se mostra firme em todas as classes sociais, mesmo com a recente alta da inflação. “O dólar barato dá uma sensação de riqueza. E o melhor é que ela não é passageira, pois o governo está fazendo de tudo para controlar a inflação”, acrescentou.

Saque em ações
No mercado acionário, porém, o clima é de desânimo. Pelas contas de Altamir, em junho, os investidores estrangeiros deixaram um saldo negativo de US$ 402 milhões nos investimentos em ações de empresas brasileiras aqui e no exterior, dando início ao processo de baixa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em julho, até ontem, os mesmos estrangeiros haviam resgatados US$ 3,435 bilhões do mercado acionário local, fazendo com que o Ibovespa, o índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, desabasse. Mas a conta de ações neste mês está positiva em US$ 473 milhões, por causa da emissão de American Depositary Receipts (ADRs) feita pela Vale do Rio Doce no exterior, que movimentou US$ 3,908 bilhões.

Nas aplicações em renda fixa, que incluem os títulos públicos, o apetite dos estrangeiros voltou a crescer, graças aos três aumentos consecutivos na taxa básica de juros (Selic), o último deles, na semana passada, de 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano. Com essa alta, os juros reais, que descontam a inflação, saltaram para 7,2%, patamar sem precedentes no mundo. Em junho, o saldo dos investimentos em renda fixa ficou positivo em US$ 907 milhões. Neste mês, até o dia 28, subiu para US$ 3,227 bilhões.

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