quarta-feira, 9 de julho de 2008

Gestão fraudulenta, corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, suborno, tráfico de influência...


A Polícia Federal prendeu o banqueiro Daniel Dantas, o megainvestidor Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e mais 21 pessoas que gravitam em torno do Grupo Opportunity, de Dantas. Foram apreendidos dinheiro e documentos em 56 diferentes endereços. As investigações começaram há 4 anos, em apuração relacionada ao caso mensalão. Segundo a PF, o banqueiro lavava em paraísos fiscais a fortuna obtida em desvios do setor público. As informações se referem a R$ 2 bilhões movimentados pela rede. Dantas ainda tentou subornar um delegado para evitar a prisão.

Numa das maiores ofensivas desencadeadas contra a elite do mercado financeiro, a Polícia Federal prendeu ontem o poderoso banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Opportunity, o megainvestidor Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e outras 14 pessoas que gravitam em torno de um dos maiores grupos econômicos do país. Montada a partir de indícios surgidos na investigação da mesma rede de doleiros usada no esquema do mensalão, a operação transcorreu de forma silenciosa durante quatro anos e só foi deflagrada depois que a PF chegou ao núcleo da rede operada pelo banqueiro, identificado com a apreensão de um disco rígido de computador.

Dantas, segundo a polícia, usava o Opportunity Fund, com ramificações nas Ilhas Cayman, para transferir e lavar em paraísos fiscais uma ainda incalculável fortuna originária de desvios do setor público por personagens envolvidas em corrupção, cuja lista alcançaria empresários e políticos que estiveram muito próximos ao Palácio do Planalto nos últimos 10 anos. As investigações da Polícia Federal apontam que a rede operada por Daniel Dantas movimentou quase R$ 2 bilhões por intermédio do fundo e que, entre os grandes articuladores do esquema de lavagem, aparecia a figura de Nahas ­ o homem que no início da década de 1990 protagonizou um dos maiores escândalos financeiros do país ao ser acusado de quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Duas fases
Segundo a Polícia Federal e Mi- nistério Público, a quadrilha atuava em duas fases: o grupo comandado por Dantas desviava recursos públicos através de empresas de fachada e se ligava a Nahas em algumas operações de lavagem de dinheiro. ­ O líder da organização criminosa era Daniel Dantas ­ garante o delegado Protógenes Queiroz, responsável pelas investigações. Nahas chegou a estruturar uma rede de doleiros internacionais que burlavam os controles de vários países, entre eles os Estados Unidos e operava para uma constelação de políticos. Um deles era o ex-prefeito Celso Pitta, que usava o esquema para resgatar parte dos recursos que teria no exterior desde que envolveu-se com o escândalo dos precatórios, entre 1996 e 1997.

Tentativa de suborno

Daniel Dantas, sua mulher, Maria Alice, a irmã Verônica, o ex-cunhado Dório Ferman e outras oito pessoas que ocupam cargos de direção no Grupo Opportunity, foram presos pela manhã no Rio. Segundo a polícia, nos últimos dias Dantas deu sucessivos sinais de que sabia que estava sendo vigiado e, por essa razão, teria determinado um corpo-a-corpo de seus advogados para convencer autoridades do Supremo Tribunal Federal (STF) que não havia razão para ser preso. Ele tinha medo apenas que a prisão fosse autorizada por um juiz da primeira instância. Antes, porém, teria pedido a emissários que tentassem subornar um dos delegados que o investigavam,Vitor Hugo Rodrigues Alves, para que o seu nome e o de Verônica fossem retirados do inquérito. A propina seria de R$ 1 milhão e a polícia acompanhou todas as negociações, até apreender o dinheiro ontem, num dos 56 endereços vasculhados em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. Um funcionário de Dantas, Hugo Chicaroni, foi preso em São Paulo, acusado de tentativa de suborno. Tinha com ele R$ 1,3 milhão.

Nahas, Pitta e três doleiros, entre eles Lúcio Bolonha Funaro, foram presos em São Paulo, também por ordem expedida pelo juiz federal Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal. Os mesmos doleiros foram identificados nas investigações do mensalão e teriam repassado para uma conta bancária do publicitário Marcos Valério dinheiro cuja origem seria o banqueiro Daniel Dantas.

Conhecido pela atuação dura contra acusados de lavagem de dinheiro, o juiz deixou de atender vários pedidos de prisão encaminhados pelo delegado Protógenes Queiroz por entender que não havia razão para autorizar. Um deles era direcionado ao advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado pelo PT paulista, e conhecido por sua atuação na defesa de presos políticos e direitos humanos. É apontado como suspeito de intermediar contatos para o banqueiro.

A operação vinha sendo organizada há tempos, ganhou impulso nos últimos dois anos e foi feita de acordo com o Ministério Público e Justiça ­ disse o ministro da Justiça, Tarso Genro, ontem pela manhã, depois da solenidade de assinatura de um convênio para implantação de laboratórios contra lavagem de dinheiro na Polícia Federal. O diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, disse que a Operação Satiagraha ­ nome inspirado na resistência silenciosa e paciente de um dos pais da desobediência civil, Mahatma Gandhi ­ está dentro da política de enfrentamento aos crimes financeiros e à corrupção em órgãos públicos. ­ É como tantas outras ­ disse Corrêa, que não quis entrar em detalhes sobre o possível envolvimento de outras personalidades do mundo político e nem responder o argumento do advogado de Dantas, Nélio Machado, que atribuiu a prisão a uma suposta vingança.

Enrolado na rede

Conhecido pela falta de limites no trato de seus projetos financeiros, Daniel Dantas acabou se enrolando na rede de espionagem que, segundo a polícia, ele mesmo montou. O inferno do dono do Opportunity começou em 2006, quando a revista Veja divulgou lista com os nomes de várias autoridades brasileiras, apontados numa investigação clandestina da Kroll Inc como supostos titulares de contas bancárias em paraísos fiscais. Entre os citados estavam o presidente Lula, o ex-ministro da Justiça, MárcioThomaz Bastos, o senador Romeu Tuma (PR-SP) e o ex-diretor da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo a polícia, o dossiê era falso e teria sido produzido a pedido do banqueiro. Dantas negou, mas acabou indiciado. Ainda assim, sua investida pelo mundo da política não parou. Uma de suas antigas empresas, a Telemar investiu R$ 5 milhões na Gamecorp, empresa do empresário Fábio Luiz da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula. A operação era estranha aos padrões de mercado e foi interpretada pela oposição ao governo e por setores da polícia como uma espécie de assédio do banqueiro para mostrar seu poder de persuasão à elite política. Provocado por um vereador de Belém, o procurador da República Rodrigo Poerson, do Rio, pediu que a PF abrisse inquérito para apurar a transação. No despacho, Poerson pede que a polícia esclareça se o "desproporcional aporte de recursos financeiros estaria sendo direcionado à empresa Gamecorp única e exclusivamente em razão de contar com a participação acionária do filho do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva". Um ano depois, ainda não se sabe o resultado da investigação. As investigações em torno de Daniel Dantas estão sendo tratadas com cautela. A polícia suspeita que um ex-ministro tenha ligação criminosa com Dantas e Nahas.

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