quarta-feira, 30 de julho de 2008

Inimigos muito íntimos


O PT não gosta de dar publicidade aos acordos com os partidos de oposição, mas tais acertos fazem parte da estratégia petista para as eleições municipais deste ano. O objetivo é ocupar o maior espaço de poder possível no interior do país, seja elegendo prefeitos e vices, seja compondo alianças com chances de vitória que contribuam para o aumento do número de vereadores filiados à legenda. A aliança entre PT e PSDB, por exemplo, é mais comum do que se imagina.

As duas siglas estão juntas em 1.130 municípios, segundo dados compilados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e chancelados por dirigentes do PT. É praticamente uma parceria em cada cinco cidades brasileiras. O PSDB é o cabeça-de-chapa em 164 municípios, entre eles Pirenópolis — com Rogério Figueiredo. Já o PT, em 132. Nas demais localidades, estão lado a lado no palanque, mas o candidato é de outras legendas (ver quadro). Não chega a ser uma novidade. Em 2004, a aliança entre tucanos e petistas ajudou a eleger 149 prefeitos. Em 51 municípios, um dos dois partidos tem o prefeito ou o vice.

“Numa eleição municipal, prevalece a lógica local”, diz um dirigente do PT. “A direção nacional não tem condições de avaliar o quadro em mais de mil cidades do país”, acrescenta. Só sobem ao comando partidário os acertos mais polêmicos. O Diretório Nacional julgou cerca de 160 casos específicos este ano. A estratégia eleitoral do partido se divide em duas linhas: uma para as capitais e as cidades-chave, outra para os municípios no interior. Na primeira, há um filtro de qualidade nas alianças. Na segunda, vale a quantidade.

“As alianças (em pequenos e médios municípios) feitas com partidos de oposição ao presidente Lula ficaram subordinadas a autorizações das executivas estaduais. As bases do PSDB, DEM e PPS, em geral, aprovam o governo Lula e, localmente, muitos querem estar com o PT”, afirma Gleber Naime, secretário nacional de Comunicação do PT.

Nas capitais, o PT brigou pela cabeça-de-chapa sempre e evitou legendas de oposição no palanque. A insistência em ter o candidato a prefeito foi responsável por atritos com aliados importantes. Como em Salvador, onde os petistas abandonaram o prefeito João Henrique (PMDB), ou no Rio de Janeiro. Lá, se recusaram a apoiar Jandira Feghali (PCdoB) e insistiram na candidatura própria. A prioridade é ter visibilidade. A campanha nas maiores cidades representa para o PT uma espécie de cartão-postal.

Visibilidade foi a chave para explicar a resistência à aliança em Belo Horizonte. Dirigentes petistas disseram abertamente que o problema desse acerto é que passaria a ser visto como uma vitória política do governador Aécio Neves (PSDB) e um reforço à sua candidatura presidencial em 2010. Isso explica porque foram dadas decisões diferentes sobre dois casos parecidos. Em Belo Horizonte, a chapa proposta era encabeçada por um nome vindo de um aliado preferencial: Márcio Lacerda, do PSB. O PT teria a vice, e o PSDB se integraria à aliança. A Executiva petista vetou a adesão formal dos tucanos.

Em Aracaju, o candidato a prefeito é Edvaldo Nogueira (PCdoB), que busca a reeleição. O PT tem a vice, e os tucanos entraram formalmente na coligação. A diferença decorre do fato de o acordo de Aracaju ser visto como uma questão local pelos petistas, enquanto a aliança em BH teria reflexos nacionais. No interior, a visibilidade é pequena. Por isso, embora tenha feito uma recomendação para que fossem evitados os acordos com adversários do governo Lula, o comando nacional do PT liberou, na prática, as negociações e só agiu em casos especiais. O critério variou caso a caso.

Em Campos (RJ), para enfrentar o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) em sua base eleitoral, PT, PSDB e DEM estarão na mesma aliança. Em Campinas, DEM e PT também ficarão juntos no palanque do candidato do PDT, o atual prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Doutor Hélio. Nesse caso, o adversário é um tucano, o deputado federal Carlos Sampaio. Por outro lado, foram vetados acordos em Xanxerê (SC), onde um nome do PT seria vice de um cabeça de chapa do PSDB, e em Boa Vista. Na capital de Roraima, o PT integraria uma coligação onde o vice seria da oposição, e o candidato a prefeito seria o deputado federal Luciano Castro, atual líder do PR na Câmara.

PT e PSDB não estão aliados em nenhuma outra capital além de Belo Horizonte e Aracaju. Os dois partidos são adversários diretos, com candidatos próprios, na disputa pelas principais prefeituras de oito estados: São Paulo, Rio Branco, Maceió, Curitiba, Teresina, Porto Alegre, Porto Velho e Salvador.


PARCERIAS PT-PSDB

Região Norte
Rio Crespo (RO) — candidata Ediane (PTN*, PR, PCdoB, PSDC, PSDB, PPS e PT)
Cantá (RR) — candidato Paulo Peixoto (PSDB*, PT, PCdoB, PR, DEM, PRTB, PRP, PTB, PPS e PTN)
Laranjal do Jarí (AP) — candidata Meire Serrão (PMDB*, PSL, PSDB e PT)

Região Nordeste
Nova Iorque (MA) — candidato Zé Mário (PTB*, PSDB, PP e PT)
Canavieiras (BA) — candidata Alda Sobral (PT* e PSDB)
Água Branca (PB) — candidato Dr. Lula (PSDB* e PT)

Região Centro-Oeste
Várzea Grande (MT) — candidato Nico Baracat (PMDB*, PSDB, PCdoB, PTdoB e PT)
Esperantina (TO) — candidato Padre Ramildo (PT*, PSDB e PMN)
Pirenópolis (GO) — candidato Rogério Figueiredo (PSDB*, PR, PMDB, DEM, PPS, PT e PTB)

Região Sudeste
Linhares (ES) — candidato Zé Carlos (PTB*, PCdoB, PSDC, PSDB, PDT e PT)
Natividade (RJ) — candidato Taninho (PSDB*, PT, PTN, PRB, PCdoB, PSDC, PTC, PV, PSB, DEM, PHS e PTdoB)
Bragança Paulista (SP) — candidato Jango (PSDB*, PTC, PTN, PTB, PPS e PT)

Região Sul
Arroio dos Ratos (RS) — candidato José Carlos Azeredo (PDT*, PSDB e PT)Rio das Antas (SC) — candidato Lirio (PP*, PSDB, DEM e PT)
Paraíso do Norte (PR) — candidato Beto Vizzoto (PT*, PR, PMDB, DEM, PSB, PSDB e PTB)

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