terça-feira, 22 de julho de 2008

Força-tarefa e muita calma


Depois de dias de tensão e muita divergência, a nova equipe de delegados da Polícia Federal, encarregada de dar prosseguimento às investigações da Operação Satiagraha, começou a semana tratando de apagar de vez o clima de fogo cruzado que havia sido instalado entre polícia, Ministério Público Federal em São Paulo e Justiça Federal. Tão logo encerrou seu expediente na Superintendência da PF, o delegado Ricardo Saadi, que passou a comandar os trabalhos em substituição ao colega Protógenes Queiroz, foi ao prédio do MPF para se encontrar com o procurador da República em São Paulo, Rodrigo de Grandis.

Acompanhado de integrantes da nova equipe, o delegado chegou pouco antes das 19h para uma conversa cordial e a portas fechadas, que teria, entre outros objetivos, acertar arestas, afinar discursos, reconduzir o trabalho das duas instituições a linhas de investigação comuns e, principalmente, ao clima de normalidade. Econômico nas palavras, Saadi concordou que houve mudança no foco central do trabalho, basicamente em razão do interesse da mídia pela divulgação das divergências em torno da condução do caso.

O delegado falou sobre os dois procedimentos que vão dar continuidade à apuração de crimes, como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas e corrupção, entre outros delitos, além do envolvimento de novos suspeitos de participação no esquema que teria desviado, em 12 anos, cerca de US$ 2 bilhões.

Foi sob o argumento de aprofundar e agilizar essa apuração restante de forma eficiente que a PF montou uma força-tarefa composta por mais de 50 profissionais. O pequeno batalhão começou a trabalhar ontem na análise do material recolhido ao longo do cumprimento dos 58 mandados de busca e apreensão.

São mais de uma tonelada de documentos, incluindo CDs e DVDs, que ficaram isolados e protegidos em uma das salas da PF, a serem analisados e periciados. O grupo é formado por agentes da PF, procuradores do MPF, funcionários da Receita Federal, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e até do Banco Central. Antes do início do trabalho, a equipe se reuniu para definir procedimentos de atuação desejados para essa etapa da operação.

Obstrução
A chegada da força-tarefa ocorre apenas dois dias depois da divulgação da informação de que o Ministério Público Federal iria instaurar procedimento para investigar se houve suposta tentativa de obstrução da PF ao trabalho da própria PF. O MPFP foi provocado a apurar os fatos por um ofício no qual Protógenes se queixou de falta de recursos humanos e materiais para o bom andamento dos trabalhos no inquérito da Satiagraha e, também, de vazamento de informações.

O ofício foi distribuído internamente ontem para o procurador da República em São Paulo, Roberto Antônio Dassié Diana, coordenador do Grupo de Controle Externo do MPF. Ele decidiu instalar dois procedimentos. Um para apurar a suposta obstrução e outro para investigar se houve ou não vazamento ao longo da Satiagraha. O procurador já encaminhou ofícios solicitando informações à superintendência da PF, às diretorias de Crime Organizado e de Crime Financeiro e à Corregedoria-Geral da PF.

O procurador também quer que seja entregue a fita com a gravação da reunião de semana passada entre Protógenes Queiroz e a cúpula da PF, quando teria sido decidida a saída do delegado do caso. Ele requereu ainda uma relação de eventuais procedimentos disciplinares que já tenham sido instaurados pela PF para apurar condutas ao longo de toda a investigação. O TRF negou ontem pedido de liminar em habeas corpus impetrado pela defesa de Humberto Braz, que permanece preso na sede da PF, assim como Hugo Chicaroni.

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