quarta-feira, 2 de julho de 2008

"Não troco estômago por gasolina"


Em reunião do Mercosul, o presidente Lula disse que abandonará a produção de biocombustíveis se ficar comprovado que o etanol brasileiro contribui para aumentar a fome. Para Lula, a América do Sul não pode ser culpada pela instabilidade dos países desenvolvidos. Visando a aumentar a participação do Brasil na produção mundial de alimentos, plano oferece R$ 65 bilhões de crédito para produtores.

Os países da América do Sul, grandes produtores de alimentos e de energia, devem estar atentos para que não terminem sendo responsabilizados pela instabilidade econômica nos países desenvolvidos, afirmou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Argentina, onde participa da cúpula do Mercosul:

– Temos que tomar cuidado para que essa crise que estava a 8 mil quilômetros daqui não seja transformada em crise nossa – disse.

Falando na reunião de chefes de Estado, o presidente brasileiro disse que abandonará o projeto de produção de biocombustíveis caso fique comprovado que o etanol feito a partir da cana-de-açúcar está contribuindo para aumentar a fome no mundo, e lembrou que o tema será discutido em seminário internacional que se realizará em novembro.

– Se alguém me convencer de que o biocombustível vai causar o problema da fome no mundo, não trocarei meu estômago por um tanque de gasolina – enfatizou.

Em seguida, voltou a dizer que o problema na alta de alimentos é a especulação com commodities no mercado financeiro, não o aumento da demanda no mundo em desenvolvimento.

Cuidado & respeito

– Nessa questão da inflação e alimentos, nunca estivemos tão perto de resolver nossos problemas. Queremos que os países ricos nos tratem com respeito – disse o presidente do Brasil, acrescentando em seguida:

– Temos que ter cuidado para que eles não joguem com essa crise da inflação dos alimentos. Ou vamos ver logo, logo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vindo aqui e já sabemos qual é o resultado: recessão, desemprego. Já vimos essa situação – disse Lula

– Há muita coincidência entre a crise da especulação imobiliária nos Estados Unidos, que envolve bancos europeus, e a situação atual, e até agora o FMI não deu um palpite de como os Estados Unidos devem fazer para consertar sua economia, ao contrário do que fizeram aqui durante muitos anos – afirmou o presidente, diante de seus colegas do Mercosul, além dos sócios do bloco, Chile e Bolívia.

Lula disse que, estranhamente, ao contrário do esperado, os Estados Unidos não fizeram ajuste na sua taxa de juros para cuidar de sua própria economia e afirmou que os americanos estão usando a desvalorização do dólar para resolverem seus problemas na balança comercial e do déficit fiscal interno.

O banco central americano vinha cortando os juros até a semana passada, quando manteve a taxa estável em 2% ao ano.

Ontem o chefe do executivo brasileiro recebeu a presidência temporária do Mercosul, que exercerá durante os próximos seis meses. Ele voltou a dizer que o Brasil há muito tempo não enfrentava um bom momento como esse.

Manter conquistas

– Digo aos meus ministros, não me peçam para adotar medidas que possam prejudicar os avanços que nosso povo está tendo. Isso não vou fazer – relatou o presidente. A seguir, mandou recado à Argentina, que impôs barreiras às exportações de seus grãos, principalmente soja.

– Temos que ter cuidado porque o preço da soja, que hoje está alto, não sirva para que os empresários nos convençam a não entrar (na Rodada de Doha), contra os subsídios agrícolas, porque o preço sobe, mas também desce – disse Lula. – E é preciso ter clareza do que queremos, de como podemos avançar, como Mercosul.

Antes do discurso, Lula teve uma reunião a sós com a presidente argentina, Cristina Kirchner. Na conversa, esperava-se que Cristina pedisse maior fornecimento de energia ao Brasil e que Lula criticasse as barreiras argentinas às exportações de trigo para o Brasil.

Preços vigiados

Em entrevista antes de retornar ao Brasil, o presidente afirmou que o governo não brincará com a inflação mesmo que tenha que adotar o acompanhamento de preços.

– Temos de fazer o acompanhamento dos preços industriais que estiverem exorbitando na remarcação – afirmou.

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