sexta-feira, 25 de julho de 2008

Inflação desacelera em julho no Brasil


O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de julho confirmou a expectativa de um cenário mais favorável para a inflação no segundo semestre. Os alimentos ainda foram a principal fonte de pressão, respondendo por 63% da variação de 0,63% do IPCA-15, mas a alta desses produtos perdeu força. Com a expectativa de que as commodities agrícolas vão se acomodar num nível inferior ao da primeira metade do ano, os alimentos devem subir a uma velocidade mais moderada daqui para frente. Ainda assim, os analistas apontam para um IPCA, o indicador que baliza o regime de metas de inflação, na casa de 6,5% ou mais neste ano - acima do teto da banda de tolerância (de 6,5%). Os preços administrados (como tarifas públicas) terão um segundo semestre pior do que o primeiro.

Uma das boas notícias do IPCA-15 foi a menor disseminação das pressões inflacionárias, como nota a economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada. O índice de difusão, que mostra o percentual de itens do indicador que registraram alta, ficou em 62,8% em julho, abaixo dos 70,6% de junho, quando o IPCA-15 subiu 0,9%. No ano, o índice aumenta 4,33% e em 12 meses, 6,3%.

Os preços de alimentos e bebidas subiram 1,75% em julho. "É um percentual ainda alto, mas que confirmou a tendência de queda desses produtos", diz Marcela. No IPCA-15 anterior, a variação dos alimentos atingiu 2,3%, recuando para 2,11% no IPCA de junho. O IPCA-15 mostra a inflação entre o dia 15 do mês anterior e o dia 15 do mês de referência, enquanto o IPCA reflete o mês fechado.

Os preços do arroz e do pão francês mostraram desaceleração significativa. O primeiro passou de uma alta de 17,09% no IPCA-15 de junho para um aumento de 2,82% em julho. O pãozinho, por sua vez, teve variação de 0,11% em julho, abaixo do 3,43% do mês anterior. Outros produtos alimentícios, porém, ainda pressionaram bastante a inflação: o feijão carioca subiu 17,07% e o grupo carnes, 6,86%.

Para o economista Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg & Associados, a alta mais fraca dos alimentos ainda não se deve à queda recente das commodities no mercado internacional. Ele atribui o resultado ao comportamento mais favorável de produtos como o arroz. O impacto do recuo das commodities, caso os produtos de fato se acomodem num nível mais baixo, deve se sentir nos próximos meses. Azevedo trabalha com uma alta de alimentos na casa de 4% a 5% no segundo semestre, o que implica uma perda de fôlego em relação ao 8,65% de janeiro e junho.

Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da SLW Asset Management, também acredita que o cenário para a inflação no segundo semestre do ano será mais "tranqüilo". O principal motivo para o seu otimismo é a queda do preço das commodities. "Preocupar-se com a alta dos alimentos agora é olhar pelo retrovisor."

Ele não tem receio de contaminação do IPCA pelo IPA agrícola, porque acredita que a defasagem entre atacado e varejo diminuiu. Segundo ele, o varejo repassou a alta de preços antes de acabarem os estoques por temor de que a inflação corroesse as margens.

Azevedo acredita que, com commodities mais comportadas, as pressões de repasse do atacado para o varejo tendem a diminuir. "A valorização do câmbio também ajuda a conter a alta no atacado."

Para o economista Raphael Castro, da LCA Consultores, o IPCA vai alternar resultados favoráveis e preocupantes nos próximos meses. Ele também avalia que haverá uma "descompressão" do índice, porque os preços dos alimentos tendem a subir em um ritmo menos intenso, embora se mantenham em patamares elevados. A LCA projeta alta de 0,63% para o IPCA em julho e 6,8% no ano.

O economista ressalta, no entanto, que há fatores de preocupação, como aço e combustíveis. Ele lembra que as siderúrgicas já discutem com os clientes a quarta elevação do preço do aço e estima que os combustíveis devem subir de novo até o fim do ano, para compensar parcialmente a defasagem com o mercado externo. Além disso, os preços administrados tendem a subir com mais vigor, porque muitos são reajustados com base nos Índices Gerais de Preços (IGPs), que acumulam altas próximas a 15% em 12 meses. No IPCA-15 de julho, os administrados tiveram alta de 0,39%, mais que o 0,27% do mês anterior. Nos 12 meses até julho, subiram 2,04%. Azevedo aposta que eles devem fechar o ano com aumento de 4%.

Por conta do novo cenário das commodities, Gomes Filho está revisando suas projeções. Ele estima que o IPCA deve encerrar julho com alta de 0,53%, mas não descarta variação abaixo de 0,5%. Para 2008, a projeção do IPCA ainda está em 6,8%, mas deve cair para algo entre 6,4% e 6,5% em breve.

Marcela mudou a sua previsão para o IPCA de julho de 0,75% para 0,67%, mas acha cedo para alterar a estimativa de uma alta de 6,7% para o ano, "Ainda há muitas incertezas no cenário", afirma ela, que viu outras boas notícias no IPCA-15 além da desaceleração dos alimentos. O núcleo calculado pela exclusão de preços administrados e alimentos, por exemplo, teve alta de 0,42%, bem abaixo do 0,74% do IPCA-15 anterior e do 0,54% do IPCA de junho. Já os preços livres - que excluem os administrados - subiram 0,72%, bem menos que o 1,17% do IPCA-15 de junho.



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