quarta-feira, 9 de julho de 2008

O estrago morava ao lado


Alto e elegante, moldado no laboratório do governo de Paulo Salim Maluf na Prefeitura e no governo de São Paulo para funcionar como um sucessor obediente do político que batizou seu próprio modus operandi na vida pública, o malufismo, Celso Pitta viu sua carreira política dar marcha à ré na noite de 10 de março de 2000, uma sexta-feira, quando o Jornal Nacional mostrou entrevista gravada com a então sua mulher, Nicéa, detalhando o que chamou de "mar de corrupção" em seu governo à frente da Prefeitura de São Paulo.

As denúncias – e mais tarde seu afastamento do cargo de prefeito, determinado pela Justiça paulista – marcaram a história do economista, hoje com 62 anos, laureado com títulos de mestre nas universidades de Harvard e de Leeds, na Inglaterra. Segundo negro a ser prefeito da capital paulista, Pitta deixou o cargo em dezembro de 2000 como réu em 13 ações civis públicas, acusando-o de ilegalidades, enquanto os institutos de pesquisa mostravam índices de 83% de reprovação de seu governo.

O inferno político foi gerado pelo inferno matrimonial. Pai de dois filhos, Victor e Roberta, Celso Pitta decidira pôr fim ao casamento de 28 anos com Nicéa no início de março de 2000, dando início a um processo de divórcio litigioso. Nicéa não perdoou e denunciou a compra dos votos de vereadores paulistanos por Pitta, interessado em impedir uma CPI em sua administração.

Magoada pela separação e pelas suspeitas do envolvimento de Pitta com sua secretária, a ex-miss Araras (SP) Marlene Beteghelli, e com a socialite Marina de Sabritt, Nicéa falou de fraudes na Prefeitura, em seu mandato. Destrinchou contratos irregulares firmados quando Pitta ainda era secretário das Finanças do então governador Paulo Maluf, seu padrinho político, com quem acabou rompendo publicamente em meio aos sucessivos escândalos de corrupção. Citou também a profunda relação financeira do casal com o investidor Naji Nahas – que teria intermediado uma reaproximação entre Pitta e Maluf – e com o empresário Jorge Yunes, que socorreu financeiramente o casal quando Pitta teve seus bens bloqueados por decisão judicial, sob acusação de ter realizado negócios lesivos à cidade quando era secretário do governo Maluf.

Pitta teria emitido R$ 3,2 bilhões em precatórios para pagar dívidas da prefeitura, mas só R$ 1,9 bilhão teriam realmente seguido essa destinação. Uma CPI no Senado responsabilizou Maluf e Pitta pelo desvio, mas o texto final da comissão foi suavizado e os dois acabaram salvos com a ajuda do então senador Gilberto Miranda.

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