quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Briga pelo poder: PT ameaça lançar candidato próprio à presidência da Câmara


Apesar de o PMDB ter a maior bancada e o Palácio do Planalto sinalizar que prefere a reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a presidência da Câmara dos Deputados, o PT planeja lançar candidatura própria, colocando em risco a manutenção do comando da Casa pelo governo. Em 2005, o racha na bancada petista da Câmara dividiu a base aliada e foi fundamental para a derrota dos dois candidatos petistas e para a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE). O PT, então com a maior bancada da Câmara, ficou fora da Mesa Diretora.

Chinaglia: "Este é um período de muita especulação. O PT sempre defendeu a proporcionalidade e o PMDB tem a maior bancada. Mas ainda é muito cedo para fazer análises"

Embora não tenha havido uma deliberação formal da bancada, surge com força o nome do atual líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Ex-líder do partido na Câmara, Walter Pinheiro (PT-BA) também cogita disputar o cargo, aproveitando-se da onda de "despaulistização" do PT e da força que os petistas baianos adquiriram na legenda; outro nome que sempre surge em situações de conflito mas que acaba não concorrendo de fato é o de José Eduardo Cardozo (PT-SP), que já avisou que, se o PT tiver mesmo direito à vaga, colocará seu nome como pré-candidato.

O Planalto acompanha com preocupação o episódio. Não interessa ao presidente Lula começar o segundo mandato com uma crise política na Câmara - o governo já não tem a maioria no Senado, mas aposta na reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidir aquela Casa. Na Câmara, o governo tem uma maioria folgada, mas que pode entrar dividida dependendo da composição política para a eleição da Mesa da Câmara.

"Se dependesse apenas do Lula, Aldo estaria garantido. Mas contra o atual presidente pesam a cláusula de barreira e o diminuto tamanho da bancada do PCdoB", reconhece um petista próximo do presidente. "Lula está com um cuidado extremado em não arrumar marola neste momento favorável", prossegue. O PCdoB de Aldo Rebelo não cumpriu a cláusula de barreira e, com isso, há interpretações de que não teria direito a funcionamento parlamentar e, conseqüentemente, não poderia ter um candidato à Mesa da Câmara.

Alguns assessores parlamentares ouvidos pelo Valor buscam interpretações de que a cláusula de barreira só serviria para o fundo partidário e tempo de televisão. Que seria uma injustiça podar os parlamentares eleitos de disputar cargos no Congresso. "Isso é uma loucura, apesar da lei estar sendo contestada no STF. Já pensou se levam essa interpretação a sério e, na véspera da eleição da Câmara - ou depois, que seja - surge uma liminar ou uma decisão judicial e anula a eleição"? questiona um petista diretamente envolvido na disputa pela presidência da Casa.

Fiel ao seu estilo, Aldo fica quieto. Afirma que todos os partidos têm direito a lançar candidatos. Garante que ele mesmo não é um nome em jogo para a reeleição. Mas conta com o apoio do Planalto, de seu partido e do PSB, especialmente, que, fortalecido pela vitória nas urnas e pela superação da cláusula de barreira, não pretende ver o PT com força demais no Parlamento. "Antes do primeiro turno, havia a possibilidade de PSB e PCdoB unirem-se numa federação, caso não obtivessem os 5% de votos nacionais. O PCdoB vai cobrar isso agora", reforça um deputado da bancada governista.

Chinaglia também adota discurso cauteloso. Afirma que ele ainda não lançou seu nome, que a bancada do PT não deliberou nada. "Este é um período de muita especulação. O PT sempre defendeu a proporcionalidade e o PMDB tem a maior bancada. Mas ainda é muito cedo para fazer qualquer análise", esquivou-se Chinaglia. Petistas admitem que o líder do governo tem força na base aliada, mas que é Aldo que tem conversado mais com o presidente, o que lhe daria vantagem nesta corrida.

Aos seus críticos, Chinaglia responde que a Câmara é uma Casa independente e que, no passado, o Planalto errou e perdeu muitas vezes por não ouvir seus aliados no Legislativo. Os mesmos adversários de Chinaglia reclamam que ele pretende acumular o cargo de líder do governo e candidato à presidente da Casa. "Se ele está se articulando para presidir a Câmara, quem está articulando para defender o governo"? questionam.

Toda essa discussão tem que incluir o PMDB, partido que tem a maior bancada na duas Casas. No Senado, a fatura está decidida em favor de Renan Calheiros (PMDB-AL). Na Câmara, dois nomes reivindicam o posto para suceder Aldo: Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Eunício Oliveira (PMDB-CE). "Não podemos dizer que o PMDB vai abrir mão da prerrogativa de escolher o presidente da Câmara até sabermos qual o tamanho do partido no governo", defendeu o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE).

Os petistas têm em mente que seu principal adversário é mesmo Aldo Rebelo. Que o PMDB ensaia uma pressão na Câmara apenas para cacifar-se na Esplanada. Quanto maior o número de ministérios a legenda receber, menos trabalho os pemedebistas dariam para apoiar Aldo. Eunício, inclusive, teve uma longa reunião com Aldo na manhã de terça. "Mas temos que negociar com o PMDB. Antes nós tínhamos a maior bancada. Não temos mais, ficamos reféns deles", admite um petista com bom trânsito na legenda e no governo.

Os petistas sabem que Lula vai empenhar-se diretamente na disputa. Um assessor palaciano já confessou que o presidente tem a exata noção de que Congresso e Esplanada precisam ser negociados num mesmo pacote. Com a enfermidade do vice-presidente José Alencar - na terça-feira ele foi submetido a mais uma cirurgia para retirada de um novo tumor -, o cargo de presidente da Câmara ganha importância na linha de sucessão presidencial.

0 Comentários em “Briga pelo poder: PT ameaça lançar candidato próprio à presidência da Câmara”

Postar um comentário

 

Consciência Política Copyright © 2011 -- Template created by Consciência Política --