quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Nada é mais antidemocrático que os monopólios de mídia


Liberdade de imprensa” para eles é a liberdade de manipularem em favor de seus interesses

Os monopólios de mídia, após a impressionante vitória do presidente Lula, dedicaram-se a uma catadupa de berros, arengas, chiados, acusações ao governo, guinchos, reclamações sobre os e-mails de leitores, xingamentos ao PT – ou, já que nem todo mundo é petista, aos “lulistas” – e outras manifestações de equilíbrio e serenidade.

FALSIFICAÇÃO

Eles estavam acostumados a manipular e falsificar eleições. A colocar no governo quem lhes agradasse ao paladar - elementos da cepa de Collor ou um poste eleitoral como Fernando Henrique. Sempre, invariavelmente, em nome dos nobres e desinteressados ideais de passar o dinheiro do Tesouro, a propriedade pública, as riquezas naturais e, de resto, o Estado, para alguns bandidos estrangeiros. Portanto, ainda não se conformaram com a vitória do presidente, ou seja, com a sua própria derrota.

No entanto, toda essa alaúza é feita em nome da “liberdade de imprensa”, que, como sempre, é aquela que, na “Carta Capital”, Mino Carta bem definiu como “a liberdade das empresas midiáticas deitarem e rolarem no esforço concentrado de servir o poder, ou, por outra, a si próprias”.

Dizem eles que a “liberdade de imprensa” está em perigo no Brasil. Realmente, é preocupante a situação da liberdade de imprensa. E quem a está colocando em perigo não é o governo, mas, exatamente, os monopólios de mídia. No Brasil, apenas 6 grupos controlam 667 estações de rádio e canais de televisão. Três ou quatro deles, com seus jornais e agências de notícias, determinam quase tudo o que sai publicado na imprensa escrita, de norte a sul do país. Uma única rede de televisão impõe o que quer à maior parte da população.

Mas os monopólios de imprensa berram pela “liberdade de imprensa”. Não pela verdadeira, mas pela liberdade de alguns barões manipularem as informações a bel prazer de seus interesses políticos e econômicos. Pela liberdade de algumas prostitutas de redação – como diria Balzac – serem promovidas a oráculos para propalar o que há de mais reacionário e estúpido no mundo. Pela liberdade de excluir qualquer opinião, idéia ou personalidade progressista de acesso aos meios de comunicação. E, inclusive, bradam pela liberdade de mentir, como se viu reiteradamente na “Veja”, incluindo a recente ficção sobre a Polícia Federal.

Naturalmente, não há nada mais antagônico à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão do que essa súcia de falsários e seus mercenários. Para isso, só há um remédio: a democratização dos meios de informação, a começar pelo acesso da imprensa livre e independente à publicidade. Os monopólios de mídia querem monopolizar todas as verbas publicitárias. Para isso são monopólios. Segundo sua exótica opinião, eles devem ter toda a publicidade do governo que querem derrubar. Realmente, acham que o governo tem a obrigação de bancar com dinheiro público o golpe contra si mesmo.

Os critérios publicitários hoje são feitos somente para beneficiar esses monopólios. Há quem chame isso de “critérios mercadológicos”. O único problema é que não há mercado onde três ou quatro, ou, vá lá, seis, controlam quase tudo. Portanto, tais critérios existem apenas para manter o monopólio de mídia com dinheiro do povo, e, ao mesmo tempo, para discriminar a mídia independente, a que se atém à verdade, a que não é submissa à reação nem aceita ser um mero panfleto no estilo da “Veja”.

Porém, desde antes de 1964, não se via a imprensa reacionária em tal situação. Com todo esse monopólio, não se pode dizer nem ao menos que o povo a ignorou: com maior ou menor consciência, votou contra ela, aos milhões, dezenas de milhões, como nunca se viu em toda a História do Brasil.

Não é fortuita, aqui, a menção ao infeliz ano de 1964. Os monopólios atuais são crias da ditadura. Que venham agora falar de “liberdade de imprensa”, seria somente uma piada de mau gosto, se não fosse desarrazoado cinismo.

É verdade que desde 1950 o Departamento de Estado já havia enviado ao Brasil o ítalo-americano Victor Civita, “residente em Nova Iorque com passaporte tirado em Washington”, como observou o notável publicitário e jornalista brasileiro Genival Rabelo.

No entanto, foi apenas sob a ditadura que, de editor das histórias de Walt Disney, ele passou a dono de “Veja” e de 80% das revistas que se encontram nas bancas.

A Globo nem existia até 1965. O máximo que Roberto Marinho conseguira até a ditadura, fora editar um jornal reacionário que quase foi destruído pelo povo após o martírio do presidente Getúlio Vargas. De repente, com uma certa ajuda do grupo Time-Life, contra as leis brasileiras, mas protegido pela ditadura, a Globo liquidou com as TVs nacionais: Excelsior, Rio, Continental e até a Tupi, de Chateaubriand, desapareceram, quebradas por uma concorrência ilegal, isto é, montada no dinheiro americano.

A “Folha de S. Paulo” era apenas a mal acabada e provinciana “Folha da Manhã”, antes de se tornar um boletim da Oban, DOI-CODI e outros antros de tortura e assassinato.

É essa gente que vem agora gritar pela “liberdade de imprensa”, apesar do governo e das leis do país mostrarem, em relação a eles, uma tolerância que, daqui a algumas décadas, provavelmente será tida como inacreditável.

MEIA-DÚZIA

Mas, berrem o que berrarem, o fato é que não há nada mais antidemocrático do que ter os meios de comunicação do país dominados por meia-dúzia – e, aqui, não se trata de uma figura de linguagem: são meia-dúzia mesmo, e, às vezes, menos. Não há nada mais lesivo à Nação do que ter os meios de comunicação dominados por um monopólio sempre a serviço dos interesses mais antinacionais, mais antipopulares e, vale repetir, mais antidemocráticos. O charivari atual promovido por esses monopólios só demonstra que a vitória de Lula é o início da verdadeira liberdade de imprensa e de expressão em nosso país.

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