quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Regime militar: Ditadura só acabou com eleição de 2006. É o que diz Cláudio Lembo


Frasista, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), cunhou seu veredicto para as eleições deste ano. Egresso da Arena, Lembo afirma que o "ancien régime", seu sinônimo para a ditadura militar, chegou ao fim apenas com o resultado das urnas em outubro, sepultando lideranças e práticas partidárias surgidas naquele período (1964-1985).

"Na minha visão de mundo, o regime militar terminou nesta eleição. Porque foi nesta eleição que foram afastados os agentes que vinham do regime militar. Os agentes políticos que se integraram na democracia, mas vinham do 'ancien régime"', disse o governador à Reuters.

O termo é referência ao antigo regime que vigorava na França antes da Revolução Francesa. "Todos os partidos são fruto do regime militar, ou contra ou a favor, então agora acabou isso tudo, começa uma caminhada de auto-afirmação."

O diagnóstico, obtido 20 anos depois da abertura democrática, atinge o PFL, derivado da Arena que apoiava os militares, que fez apenas um governador no último pleito. Mas, para Lembo, alcança também o PSDB, que nasceu logo após a democratização, e o PT, que combatia o regime.

"Os partidos seguem o darwinismo, vai caindo fora quem não tem mais qualidade", diz, apostando na regra da cláusula de barreira, que limitou o número de siglas.

Sobre seu partido, é otimista e diz que "haverá uma nova fase para o PFL", com maior participação de lideranças jovens, enquanto aponta os perdedores na sigla: o senador Jorge Bornhausen (SC), que não se recandidatou e deverá ser substituído à frente da legenda em março; o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que viu seu candidato ser derrotado ao governo da Bahia para o PT; e ele próprio, que deixa o governo de São Paulo depois de chegar ao Palácio dos Bandeirantes em março com a saída do candidato derrotado à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB). Coloca ainda na lista seu principal aliado, o senador Marco Maciel (PE).

O PFL, considerado por analistas o grande derrotado nas últimas eleições, fez apenas o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, contra quatro em 2002. A sigla tem 17 senadores, e pode disputar com o PMDB a primazia da Casa, e na Câmara elegeu bancada de 65 deputados.

"O PFL se consolida como partido de Parlamento. É a primeira vez que a bancada é originária do voto conferido ao PFL, porque sempre houve adesão após as eleições", analisa.

PSDB perdido
Duro com o próprio partido, ainda mais com o PSDB. Para o governador, o aliado está "mais perdido que o PFL". Diz que não vê um rumo claro nos tucanos. "O PSDB tende a um colapso, porque há divisões internas nítidas."

Ele critica a nova estratégia do PSDB após a derrota na disputa pela Presidência, que é manter um diálogo mais próximo com a sociedade. "O povo não quer conversar com eles. O PSDB também veio do 'ancien régime', combateram os militares, envelheceram e, no entanto, querem continuar na ribalta... Nada mais patético quando o velho artista não percebe o traço da decadência e é isso que está acontecendo com algumas figuras do PSDB."

Prega ainda uma nova relação PFL-PSDB. "Não existe aliança incondicional, senão vamos unir os partidos. A política é feita de momentos, os partidos têm que ser autônomos, ter identidade e personalidade para fazer coligações com este ou aquele partido ou partir sozinho numa grande luta."

Afirma também que a derrota de Alckmin não tem grande peso nesse novo relacionamento e traça um perfil ácido do aliado. "Alckmin era um neófito em política nacional, tanto quanto Lula 20 anos atrás. Deve ter aprendido muito. Se jogou no Brasil sem conhecer os Estados brasileiros, foi um gesto ousado e não tinha nem o partido a seu favor."

Sobre a vitória de Lula, diz que "o discurso ético, udenista, não atingiu a sociedade; já o discurso da solidariedade, do Bolsa Família, atingiu."

Fé em Serra
Já em relação ao governador eleito José Serra (PSDB), Lembo demonstra confiança e arrisca ser mútua a deferência, ao relatar que o tucano lhe saudou com um telefonema ao retornar do exterior nesta semana.

"Sai o italianinho do Bixiga e entra o italianinho da Mooca", diz, em referência aos bairros da capital paulista. "Tenho uma expectativa positiva quanto ao Serra, foi um voto que dei em confiança total."

Evitando dar conselhos, sugere ao novo governador atenção especial à área da segurança, o setor que mais lhe causou sobressaltos em sua curta gestão de nove meses, em função dos violentos ataques comandados pelo PCC, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital.

"Há três situações que ele tem que tratar com grande cuidado: segurança pública, sistema penitenciário e menor infrator (Febem). O resto da máquina é muito boa." Sobre o PCC, diz que há controle: "A situação hoje é de equilíbrio, porém a qualquer momento poderão ocorrer situações desagradáveis."

No ano que vem, Lembo, que aos 72 anos recusou convite do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), para ocupar a pasta dos Negócios Jurídicos, volta a dar aulas na faculdade de Direito do Mackenzie. Sem preocupação com a segurança pessoal, diz que irá ao trabalho dirigindo seu Ford Ka. Antes, lança novo livro, "A Pessoa e seus Direitos", na terça-feira.

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