sexta-feira, 3 de novembro de 2006

SOBRE OS CASOS “VEJA X PF” E “SADER X BORNHAUSEN”


Ao tratar desses dois assuntos, é preciso ter coerência. Não faz sentido defender o inexistente direito da imprensa acusar mentindo e ao mesmo tempo gritar em favor da livre manifestação (mesmo quando ela fere direitos).

Jornalistas da “Veja” foram ouvidos na Polícia Federal. Os jornalistas disseram que foram agredidos (verbalmente), por conta de uma coleta de depoimentos um tanto ‘incisiva’. O delegado desmentiu, disse que não foi nada disso.

Ficou a palavra de um contra o outro. Não há outro elemento, a não ser as opiniões das duas partes envolvidas.

(atualização: Há uma terceira opinião, sim, e de quem estava presente. Trata-se da Procuradora Federal Elizabeth Mitiko Kobayashi, que afirmou não ter havido qualquer irregularidade no depoimento dos jornalistas. Leiam nota da Procuradora por aqui - publicada no Terra Magazine)

Emir Sader foi processado pelo Senador Bornhausen, porque num artigo o teria chamado de ‘racista’. O racismo é crime e, quando imputamos uma conduta criminosa a alguém, é preciso comprovar o ilícito. Sader não comprovou e foi condenado por uma Vara Criminal.

Tenho visto gente anti-petista defendendo os jornalistas de “Veja” com unhas e dentes, sem ter a menor noção do que houve no tal interrogatório, acreditando piamente no relato dos jornalistas e também refutando integralmente a explicação do delegado.

Esses anti-petistas, quanto ao caso de Bornhausen, acham justíssima a condenação de Emir Sader; e aí entendem que é preciso haver algum controle em relação ao que se publica por aí.

Já os petistas, claro, vêem tudo exatamente da outra forma. Os jornalistas da “Veja” estão sumariamente errados, a Polícia Federal está certíssima. E Bornhausen está errado por ter processado Sader.

São dois lados, cada qual usando como quer os pesos e medidas para tratar de dois casos muito parecidos.

E, sim, são parecidos. Houve quem alegasse que Bornhausen tivesse tomado medida dentro do Estado de Direito, pois acionou o Judiciário. Sim, é verdade. Ele tomou, mesmo. Mas a Polícia Federal também participa do Estado de Direito; e um interrogatório, pelo que se sabe, não agride o direito de ninguém.

O delegado foi ‘grosseiro’? Talvez tenha sido. Ele diz que não. Os jornalistas dizem que sim. E, na essência, essa é a grande acusação que se faz contra ele: grosseria. Os jornalistas foram ouvidos e foram dispensados. Ninguém foi preso, nem agredido.

Claro que muitos jornalistas escrevem aquilo que o patrão manda; não somente os que acabam parando na polícia para explicar o que escreveram. Isso também serve para os que às vezes ‘defendem’ os interrogados, mesmo sem ter qualquer tipo de informação sobre o que houve na tal salinha - e mesmo não havendo evidência alguma de violação de direitos.

Mesmo o longo relato dos jornalistas da “Veja”, que evidentemente pende para um lado, não traz qualquer evidência de direito violado. Prestar depoimento? Sim, fazemos isso. Faz parte da vida.

Alguém aqui já parou para pensar em quantos negros e pobres têm que encostar suas mãos nos muros desta cidade, para que algum policial os reviste? Quem nunca viu uma cena dessas? E quantos jornalistas, desses que agora ficaram indignados, já escreveram artigos contra isso.

Pois é. Isso sim é agressão. Não um bate-papo na Polícia Federal. Mas uns e outros são tão corporativistas que nem percebem o quanto caem no ridículo.

Os jornalistas não são ‘mais cidadãos’ do que o resto do povo.

Sader x Bornhausen

Muitos leitores deste blog são ‘de esquerda’, e esperam que eu tenha uma opinião contrária à atitude do Senador. Mas não tenho. Ele se sentiu caluniado e procurou o Judiciário. Deveria fazer o quê? Ora, ele fez o certo.

Lembro bem da frase “acabar com essa raça”, e na minha modesta opinião não houve qualquer tipo de ‘racismo’ aí. Porque “acabar com a raça” não tem valor semântico de “faxina étnica”.

Na boa, todos nós sabemos que não.

Eu não gosto de Bornhausen, mas não é por isso que vou chamá-lo de “racista”. Quem aqui nunca usou a expressão “acabar com a raça”? Sejamos honestos, quem nunca usou? E isso não tem nada, nada, nada de “racista”.

A expressão é usada num contexto de disputa; e no Brasil se usa muito em partidas de futebol. Quando um time diz que vai vencer o outro de forma humilhante, é comum usar esses termos.

Sim, Bornhausen foi agressivo. Mas é uma agressividade própria das disputas políticas. Não concordo com esse tipo de discurso, mas não entro nessa de chamá-lo de ‘racista’ só porque fez um discurso mais forte.

Li e reli o artigo de Emir Sader, e sinceramente discordo dos adjetivos ali empregados. Mas não vou entrar aqui na discussão do mérito do processo, pois isso cabe ao Judiciário - houve sentença em primeira instância, mas ainda haverá recursos.

Não se pode, porém, condenar a atitude de Bornhausen, de promover uma ação judicial. Ele fez o que considerava certo, dentro das regras do jogo, obedecendo a todos os ditames legais.

Discordo de praticamente tudo que o Senador fala, mas não vou aqui condená-lo justamente por fazer a coisa certa. Desculpem, meus leitores ‘de esquerda’, mas não participo desse joguinho partidário, de pesos e medidas diversos.

Intervalo na Ressaquinha

Esse caso da Polícia Federal deu uma injeção de ânimo em muitos articulistas que quebraram a cara nas eleições. Foi uma derrota absurda, avassaladora, uma verdadeira humilhação imposta aos ‘formadores de opinião’.

Ficou provado, inequivocamente, que muitos deles não formam opinião alguma. Apenas dão chiliques em periódicos, revistas ou emissoras. Nada além. Deve ser frustrante.

Porque eles não querem apenas ganhar um bom (ou nem tão bom assim) salário. Querem prestígio. Querem passar a idéia de que têm poder de mudar a consciência da sociedade.

Mas, não. Não têm. São uns incompetentes, não servem para formar opinião alguma. Os artigos e comentários servem para que defensores aplaudam e adversários refutem. É uma briguinha besta, que passa bem longe da verdadeira opinião pública.

Articulista de jornal é mais ou menos como um ‘blogueiro’. Este último acha que é um ‘bom escritor’, só porque uns e outros o elogiam na caixa de comentários. E o articulista acha que consegue convencer meio mundo, só porque recebe meia dúzia de cartas.

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