Antes reconhecido como uma das “viúvas” do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e uma das mais ferinas línguas da oposição à administração Lula, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) lidera hoje a bancada dos neogovernistas. Com a autoridade de quem participou “de forma maiúscula” da vitória de Jaques Wagner (PT) na briga com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) pelo governo da Bahia, Geddel já entrou na seleta lista de novos interlocutores do presidente Lula.
Por que o senhor mudou de posição e decidiu apoiar o governo?
Não decidi apoiar. Fiz uma aliança na Bahia, deixando claro que, onde o PFL estivesse, eu estaria do outro lado. Apoiei Wagner e, conseqüentemente, fiquei ao lado de Lula. Se as urnas me consagram com votação expressiva, aprovando o novo contrato político que fiz com a população, é evidente que devo, em fidelidade ao resultado, apoiar o governo e contribuir para que ele não cometa os erros que mereceram minhas críticas no passado.
Não é constrangedor apoiar um governo que o sr. criticou tanto?
Constrangedor é ir à praça pública defender uma posição e depois de eleito defender outra. Isso, além de constranger, traz embutida uma traição. Em 2002, defendi o projeto consolidado na figura de José Serra, que foi derrotado, e me mantive na oposição. Este ano, propus à sociedade do meu Estado um novo contrato político que trazia, também de forma clara, o apoio a Lula. Como esse contrato foi aprovado, vou apoiar o governo. Mas o farei sem retirar nada do que disse no passado, contribuindo apenas, modestamente, para que não seja necessário eu repetir o que disse.
Que virtudes têm Lula e o governo para justificar a mudança?
Não me aforo a dizer das virtudes do governo. O fato de o presidente conquistar 58 milhões de votos, depois de ter sido atacado como foi, mostra que o povo identifica mais virtudes que defeitos em sua administração, vista como voltada para o social e os mais pobres e defensora da estabilidade da economia com desenvolvimento.
O sr. é candidato a presidir a Câmara neste quadro de aliança do PMDB com o governo?
Tenho declarado reiteradas vezes que considero as especulações em torno do meu nome naturais, mas não fiz nem farei nenhum movimento para viabilizar uma candidatura na ótica do conflito. Creio que a Câmara precisa viver momento de arrumação e o novo presidente, para estar legitimado a exercer esse papel, tem de ser fruto de amplo entendimento que passa necessariamente pela opinião do presidente Lula