terça-feira, 28 de novembro de 2006

Conservação da Amazônia poderá gerar lucro ao governo


A política do governo federal de formar um mosaico de unidades de conservação na Amazônia para frear o avanço da fronteira agropecuária pode gerar dinheiro dentro de um mecanismo que valorize a floresta em pé. Segundo cálculo feito por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, destinar 240 mil quilômetros quadrados em 2004 e 2005 para a preservação teve como efeito colateral positivo a prevenção do desmatamento de outros 60 mil km2, uma vez que os desmatadores tendem a abandonar a região ou mudar de atividade.

Só esta salvaguarda equivale a deixar de emitir 600 milhões de toneladas de carbono para a atmosfera. De acordo com o único inventário nacional feito até hoje, o Brasil emite cerca de 200 milhões de toneladas de carbono por desmatamento todo ano.


O carbono é um dos elementos que, acumulados na atmosfera, promovem o efeito estufa e o aquecimento global. A principal fonte hoje no mundo é a queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, especialmente nos países desenvolvidos.


Porém, o corte e a queima da mata converte o carbono estocado na floresta em um gás-estufa. É justamente essa prática que coloca o Brasil entre os maiores emissores do mundo.


No âmbito da Convenção do Clima da ONU, prevenir esta emissão tem o potencial de produzir cifrões no futuro. Não apenas pelos produtos florestais mas simplesmente pela não emissão de mais carbono na atmosfera.


O desmatamento evitado ainda não gera dinheiro, mas esta possibilidade aumenta a cada ano. “Normalmente é bastante difícil calcular quanto vale a floresta em pé e esta pesquisa traz elementos novos”, diz o biólogo Paulo Moutinho, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).


Ele é um dos autores do estudo ao lado de Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisa de Woods Hole, e de Britaldo Soares-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais. Os dados foram apresentados na última Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP), que aconteceu neste mês em Nairóbi, no Quênia.


Moutinho é também um dos autores de uma proposta, apresentada na COP de 2003, que inclui no Protocolo de Kyoto o que não foi desmatado nas florestas tropicais - o que permitiria gerar créditos a serem vendidos no mercado internacional de carbono.


Valor


Neste ano, o governo brasileiro defendeu plano semelhante, mas que desvincula o desmatamento evitado do protocolo: o dinheiro viria de um fundo alimentado por países ricos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esboçou interesse por tal fonte de renda numa reunião sobre mudanças climáticas que aconteceu neste mês em Brasília.


Deixar de cortar a floresta e, conseqüentemente, evitar a emissão de carbono na atmosfera depende, claro, da capacidade de o governo implantar e fiscalizar as unidades de conservação criadas.


Segundo o biólogo, as últimas ações de comando e controle conduzidas na Amazônia mostram vontade, pelo menos. “Ainda está longe do ideal, mas cria uma sensação de insegurança no grileiro”, diz.


Existe também outra questão, esta de fundo científico. Ainda não se chegou a um número consensual de quanto corresponde o desmatamento de florestas tropicais na conta do efeito estufa. Os valores globais variam de 20% a 30%, mas um grupo de cientistas brasileiros acredita que o índice pode ser muito menor, na faixa dos 10%.


Moutinho afirma que, a despeito da taxa, o desmatamento deve ser reduzido - seja para gerar crédito, seja para contribuir na luta mundial contra o aquecimento global. “A gente tem de buscar acurácia científica, mas do ponto de vista moral continua sendo a principal fonte de emissão do Brasil”, diz. “Desmatamento tropical é parte do problema, então deve ser também parte da solução.”


Novas Áreas


A quantidade de carbono a ser colocada na conta dos pesquisadores deve aumentar na próxima semana. O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), prepara um pacote ambiental para o fim de seu mandato.


No dia 4, ele promete criar um gigantesco mosaico de unidades de conservação na calha norte (acima do Rio Amazonas). Serão 12,7 milhões de hectares protegidos, que vão se unir a outras áreas já existentes, num total de 27,2 milhões de hectares protegidos de forma contínua - uma área equivalente aos territórios de Bélgica, Dinamarca e Portugal juntos.


A Floresta Estadual Grão-Pará será a maior área de proteção integral do mundo, com 4, 2 milhões de hectares.

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