O depoimento que fechou nesta quarta-feira (8) a sabatina com os ex-ministros da Saúde na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, do peemedebista Saraiva Felipe, foi mero ritual de cumprimento de agenda. Conforme o próprio relator da Comissão, senador Amir Lando, a lógica do convite a Felipe era fechar a equação política – dois ex-ministros do governo Fernando Henrique Cardoso falaram, portanto dois ex-auxiliares de Lula também deveriam ser expostos – que dar passos reais na investigação.
Pela manhã, outro ex-ministro, Humberto Costa, havia deposto e, como todos os outros, negado as acusações. Ao contrário de Barjas Negri, na véspera, Costa não teve tantos problemas com ataques da oposição, que esvaziou o depoimento ao enviar apenas quatro representantes. Segundo o ex-ministro da Saúde, se Vedoin pagou propina para receber do governo o pagamento de R$ 8 milhões relativos a dívidas, foi ludibriado, pois a empresa se enquadrava nos critérios determinados para o acerto de contas e receberia de qualquer forma.
Saraiva Felipe pôde, na pouco mais de uma hora em que falou quase sem ser interrompido, fazer apologia da reforma política. Descreveu os hábitos que parlamentares têm de pedir a liberação de emendas, por mais que não atendam a critérios técnicos, como favores pessoais. "Alguns pedidos eram apenas impossíveis. Outros, chegavam a ser até não-republicanos", afirmou. A pressão maior, contou, provinha do próprio partido, que cobrava a facilitação de projetos. Conforme o ex-ministro, além desses contatos existe ainda a cobrança de cargos sensíveis, por parte de agentes políticos, que compromete a boa administração. "Tem que fazer uma reforma que tire essa dependência mesquinha entre o Legislativo e o Executivo", defendeu.
No clima tranqüilo de debates sobre os mecanismos de controle às fraudes em que se transformou a CPI, o relator Amir Lando pediu: "Temos que coibir a facilidade no desperdício de recursos". Foi, de fato, uma resposta à constatação feita pelo ex-ministro Saraiva Felipe: "Hoje, no Brasil, deputado bom não é o que tem bom desempenho parlamentar, mas o que libera mais emendas para a sua região".
A CPI Mista dos Sanguessugas aguarda agora pelos depoimentos das testemunhas qualificadas por Lando de "protagonistas": os petistas Gedimar Passos, Valdebran Padilha e Jorge Lorenzetti, marcados para o dia 21.