terça-feira, 21 de novembro de 2006

FHC aguarda proposta de Lula sobre conselho


Tucano espera chamado formal de Lula antes de responder se aceita participar de conselho de ex-presidentes. Proposta de aproximação com a oposição foi feita durante viagem ao Mato Grosso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai aguardar um convite formal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se manifestar sobre sua participação no conselho de ex-presidentes da República que o petista pretende criar, do qual fariam parte também os senadores José Sarney e Fernando Collor de Mello e Itamar Franco. “Essa proposta não é nova, foi apresentada na viagem para o funeral do Papa João Paulo II (abril de 2005), mas não foi adiante devido às circunstâncias. Vou aguardar ”, disse Fernando Henrique, ontem, em conversa por telefone com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Netto.

Em gesto surpreendente, depois do funeral do senador Ramez Tebet (PMDB-MT), sábado, em Três Lagoas, o presidente Lula convidou Virgílio para acompanhá-lo de volta a Brasília, no Air Bus presidencial que a oposição batizou de Aerolula (o candidato tucano a presidente da República, Geraldo Alckmin, chegou a dizer que venderia avião, se ganhasse as eleições, durante debate na televisão). Virgílio aceitou o convite. “Não podia recusar, foi um gesto de boa vontade do presidente Lula e seria muito deselegante de minha parte”, justificou.

Lula também convidou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Pedro Simon (PMDB-RS), que foram para Três Lagoas num avião da FAB requisitado pelo Senado. A primeira conversa de Lula com Virgílio foi para quebrar o gelo, ainda durante o enterro do senador mato-grossense. “Lula se desculpou por ter me batido muito na campanha eleitoral”, disse Virgílio, que perdeu a disputa pelo governo do Amazonas para Eduardo Braga (PMDB-AM), reeleito com apoio de Lula. “Disse ao presidente que também havia batido muito nele, antes da campanha, na tribuna do Senado.”

Virgílio conta que Lula conversou durante toda a viagem com os senadores, na mesa de reuniões do avião presidencial. O bate-papo começou com comentários sobre as biografias de Lênin, que Virgílio está lendo, e de Stálin, leitura de Sarney, líderes comunistas russos. Lula elogiou a beleza de São Petersburgo, cidade símbolo da modernização da Rússia, e disse que os ditadores precisam cultivar a imagem de homens fortes, ao comentar registro feito por Sarney, de que Stálin era um homem culto e refinado, mas usava ombreiras nas túnicas militares para parecer mais robusto.

Depois, a conversa enveredou para a situação da economia brasileira e Lula se queixou muito de que o país cresce a uma média anual de 2,5% do PIB há duas décadas e é preciso um esforço de todas as forças políticas para retomar o crescimento. Foi então que o presidente anunciou que pretende promover um entendimento com todos os partidos e os ex-presidentes da República. Lula disse querer conversar com Fernando Henrique e que não vê motivos para excluir o ex-presidente Fernando Collor de Mello do conselho de ex-presidentes que pretende criar. “Ele foi absolvido pelo povo de Alagoas e pela Justiça”, argumentou Lula, numa referência ao fato de que Collor, que renunciou para evitar um impeachment, foi eleito senador em 3 de outubro. Ontem, os detalhes da conversa foram relatados por Virgílio ao ex-presidente tucano, que está em Ibiúna. “Fernando Henrique disse que vai aguardar o Lula chamar”, afirmou.

A reação da oposição à proposta de Lula, entretanto, foi de desconfiança. No Senado, senadores do PSDB e do PFL não escondiam o desconforto com o episódio. Álvaro Dias (PSDB-PR), por exemplo, argumentava que a oposição deve se manter à distância do governo, embora reconheça que o diálogo é importante. “O Arthur Virgílio é experiente, conhece bem o governo. Sabe que a distância entre as palavras e os fatos é muito grande e que os governistas não costumam honrar compromissos”, disparou. Dias quer uma reunião da bancada tucana para discutir o posicionamento em relação ao governo.

O episódio também causou certa perplexidade no PFL, que viu no gesto de Lula uma manobra para dividir a oposição e isolar o partido. O líder José Agripino (RN) disse que em lugar do tucano não aceitaria o convite. “A política tem muito simbolismo, nós acabamos de sair de uma eleição e criticamos o governo todos os dias”, avalia. Para o pefelista, Lula criou um constrangimento para Virgílio, ao fazer o convite. “Mesmo assim eu não embarcaria no Aerolula de jeito nenhum”, garantiu.

O governo avalia que poderá ter uma relação menos belicosa com boa parte da oposição no segundo mandato do presidente Lula. Tal percepção foi reforçada depois do encontro entre o presidente e o senador Arthur Virgílio, que foi um dos críticos mais veementes do governo no primeiro mandato. O presidente acredita que se até com Virgílio foi possível ter uma conversa de “alto nível”, não haverá problemas em manter um diálogo com o restante do partido.
A política tem muito simbolismo. Eu não embarcaria no Aerolula de jeito nenhum

O comportamento comedido do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) surpreendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos quatro anos, foi um dos mais aguerridos opositores do governo petista e chegou ao ponto de ameaçar dar uma surra no presidente. Em outubro do ano passado, Virgílio disse que ele e sua família estariam sendo investigados por um suposto ex-policial contratado pelo PT. O senador disse que o ex-policial afirmou que agrediria o seu filho e teria oferecido R$ 100 mil a um sindicalista para fazer acusações para manchar a imagem do senador.

Alterado, Virgílio foi à tribuna do Senado reclamar da suposta perseguição por parte do PT. “Se ameaçarem um filho meu, dou uma surra no próprio Lula. Sou de escorpião. Jamais desonraria o meu signo. Sou inesquecível como inimigo”, disse na ocasião. “Vou descobrir quem é o vagabundo que contrataram lá em Manaus e vou dar uma surra nele pessoalmente”.

O policial teria procurado um integrante da Força Sindicale oferecido R$ 100 mil por informações que denegrissem a imagem de Virgílio. “Mexer comigo, com minha família, é como passar a mão no bumbum da mulher do Mike Tyson num bar”, disse o senador. Virgílio pediu proteção policial para sua família e acusou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de não levar a sério seus requerimentos. Um ano depois, Virgílio levou uma surra nas urnas ao ficar com 5,51% dos votos para o governo do Estado. Lula teve 86,80%.
Aécio pede primeiro gesto

Ao contrário do tom conciliador adotado pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, o governador Aécio Neves voltou a dizer que é oposição e que, antes de sentar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é preciso criar uma agenda de consenso dos governadores. Aécio também lembrou que não se trata de conciliação e o primeiro gesto precisa ser feito pelo governo federal.

O governador mineiro tem liderado um movimento de governadores, que busca inserir na pauta do Congresso Nacional assuntos de interesse dos estados, como a reposição da perdas provocadas pela Lei Kandir, o repasse integral da Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) para os estados e a conseqüente estadualização das rodovias, a unificação das alíquotas do ICMS e o aumento de um ponto percentual no Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

“O presidente da República tem todas as oportunidades de buscar diálogo, de buscar convencer não apenas seus aliados, mas os atores da oposição. Mas não se trata de conciliação. Nós somos oposição e esse é o papel que as urnas, a população brasileira, nos delegou por esse próximo período. Mas isso não impede que nós ajudemos o Brasil a avançar naquilo que pudermos fazer”, afirmou o governador. “Eu acho que caberá sempre ao governo (federal) o primeiro gesto. Da nossa parte, tenho como objetivo a negociação pontual em cima de matérias importantes para o país”, declarou.

Yeda Crusius
Aécio informou que hoje recebe a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, no Palácio das Mangabeiras e está trocando informações com outros governadores por telefone. Depois das eleições, Aécio já conversou pessoalmente com os governadores eleitos José Roberto Arruda, do Distrito Federal, Paulo Artung, do Espírito Santo, e Sérgio Cabral.

Para Aécio, o objetivo desses encontros é “amadurecer uma proposta, para que ela possa, logo no início da próxima legislatura, em fevereiro do ano que vem, estar posta à mesa”. A partir dessa proposta, o governador admite que será necessário negociar com o governo federal e discutir com os líderes partidários do Congresso, “com as forças das bancadas estaduais”. O governador também chamou a atenção para a necessidade de unidade entre os estados para que não repetir, segundo ele, o que aconteceu no passado, quando uns se colocaram em oposição a outros.

O governador negou que já tenha um encontro agendado com o presidente Lula. Ele garantiu que não houve nenhum contato por parte do presidente. “Nesse instante, pelo menos, a minha prioridade é essa: construir essa agenda, até para que o governo possa saber aquilo que é efetivamente prioridade para que os estados e municípios se fortaleçam”, frisou Aécio, para quem Lula tem consciência de que o país somente voltará a crescer quando os estados retomarem a condição de investir.

Ele ressaltou que alguns sinais nesse sentido já foram dados pela União, mas agora falta transformá-los em propostas concretas.

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