segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Estreantes querem a presidência


Deputados distritais que começarão mandatos em 2007 montam grupo para tentar garantir espaço. Entre os planos dos calouros estão a mais importante cadeira da Casa e o comando de comissões

Eles foram eleitos para o primeiro mandato na Câmara Legislativa do Distrito Federal, estão a pouco mais de um mês de tomar posse como deputados, mas já demonstram ansiedade para ocupar cargos na Mesa Diretora. Manifestação disso é que uma parte dos futuros distritais formou uma panela — o grupo dos novatos — para unir esforços e votos na disputa por espaço. Alguns sonham com a presidência da Casa, outros se imaginam em alguma secretaria importante e há aqueles que acreditam ter perfil para ocupar algumas das comissões com maior poder de decisão.

Capitaneada pela estreante Jaqueline Roriz (PSDB), filha do ex-governador Joaquim Roriz , a turma dos novatos já se reuniu algumas vezes com o objetivo de se entrosar. O primeiro encontro foi na casa de Jaqueline, que ofereceu um almoço para os colegas do Legislativo. Dos 13 convidados, compareceram seis. “É que foi tudo organizado muito em cima da hora”, diz a anfitriã. Em uma nova tentativa, dessa vez na casa de Christianno Araújo (PTB), o quorum aumentou. Os poucos ausentes foram o petista Cabo Patrício, Reguffe (PDT) e Benedito Domingos (PP), que já teve mandato parlamentar.

O segundo encontro foi premiado com a visita do governador eleito José Roberto Arruda (PFL). Ele apareceu na reunião acompanhado de seu coordenador político durante a campanha, Antônio Gomes, para dizer que via com muita simpatia a renovação da Câmara Legislativa. Em outra oportunidade, os novatos se encontraram em um restaurante da Vila Planalto para um happy hour. O resultado é que, na semana passada, quando participaram do seminário de apresentação à Câmara Legislativa, na sede do Poder Legislativo local, eles pareciam velhos amigos.

Desejo da filha
É com muita naturalidade que Rogério Ulysses, eleito pelo PSB, explica o motivo das reuniões dos novatos. “A gente precisa constituir uma força dentro da Câmara”, afirma. Na visão do recém-eleito distrital, é legítima a busca por espaços de destaque no Legislativo. “Os eleitores esperam da gente uma posição de protagonistas e não de coadjuvantes”, afirma.

O calouro do PSB diz que tem gabarito para ocupar qualquer um dos cargos da Mesa, mas que em função de ser o único representante do partido na nova legislatura talvez seja difícil conseguir uma vaga cobiçada logo em início de mandato. “A Mesa Diretora tem cinco cargos disputados, eu me sinto em condição de ocupar qualquer um deles e até acho que a presidência deveria ser exercida por uma cara nova”, defende o parlamentar eleito.

Na dança das cadeiras, Jaqueline Roriz tem se apresentado como uma estrategista. Apesar de ser uma das encorajadoras da panelinha dos iniciantes, ela diz que a disputa por cargos é uma conversa posterior ao fortalecimento da turma. “O primeiro passo é tornar o núcleo forte e, depois, a disposição dos cargos virá naturalmente. Teremos problemas se surgirem dois candidatos à presidência dentro desse grupo”, argumenta. Colegas de Jaqueline, no entanto, avaliam que ela é candidatíssima ao posto.

Como cada um quer o seu espaço à Mesa e, às vezes, trata-se do mesmo lugarzinho, o grupo dos novatos já tem exposto suas dissidências. Algumas delas explícitas, caso do petista Cabo Patrício. Ele faz parte de uma bancada com quatro parlamentares e não vê vantagem em integrar outro grupo, não comparecendo às reuniões dos estreantes. “Me dou bem com os novos e com os antigos”, resume. E há outras situações mais discretas, como a de Raimundo Ribeiro, eleito pelo PFL que, ao lado do PT, também fez quatro deputados. Ribeiro até participa dos encontros com os marinheiros de primeiro mandato. Mas também se confraterniza com os veteranos. “Criar sectarismos é contraproducente”, avalia, pragmático.

O pefelista diz que está preparado para ocupar qualquer cargo na Câmara Legislativa. Na análise dele, tradicionalmente a presidência da Casa é exercida por pessoa que tenha trânsito fácil com o governador. Ele diz ter esse contato. “Eu preencheria o requisito”, garante. Mas, ressalta: “Não significa que eu estou pleiteando o cargo”. Ainda assim, a experiência de Ribeiro como advogado também o credencia, segundo ele mesmo anuncia, a outros postos, como a chefia de alguma das secretarias. “Eu tenho experiência administrativa”. Ou, quem sabe, até poderia presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). “A minha formação é na área”, explica Ribeiro.

Conselho da mãe
Currículo à parte, tem calouro que mergulhou com força total no grupo dos novatos, mas ouvindo a voz da experiência saiu de fininho. É o caso do petebista Christianno Araújo. Alertado pelos veteranos do partido — e pela própria mãe — de que não seria “inteligente” se indispor com os mais antigos e que só deveria entrar em um grupo se fosse dos amigos do governador Arruda, o caçula do time de novatos mudou de idéia. “Não vou fazer parte de grupo nenhum, fui eleito deputado para apresentar as minhas propostas”, disse por meio de sua assessoria de imprensa.

Quem também tem colocado o pé para fora do barco dos iniciantes é Reguffe. Ele recrimina a discussão por cargos. “O que me aborrece é que tem muita gente mais preocupada em saber qual o espaço de poder terá na Câmara do que em discutir projetos”, critica. Mesmo assim, deixa escapar um desejo íntimo. “Se eu pudesse ser presidente, é claro que eu gostaria, mas ninguém vai querer votar em mim, afinal um dos meus projetos é reduzir a verba de gabinete dos deputados”, avisa o pedetista.

para saber mais
Cargos muito disputados

Nove cargos na Câmara Legislativa dão status a deputados e despertam o interesse dos distritais. Cinco deles são os da Mesa Diretora: presidência, vice-presidência, primeira, segunda e terceira secretarias. Dos últimos três cargos, o segundo é o mais cobiçado. Quem o ocupa fica encarregado de gerenciar a parte administrativa da Câmara Legislativa, como a conservação do patrimônio, obras, reformas. O primeiro secretário é responsável pela folha de ponto e outras questões ligadas a recursos humanos, e o terceiro secretário cuida do protocolo legislativo, de apoio ao Plenário.

Há ainda as vagas de corregedor e ouvidor, que existem para controlar a qualidade do processo legislativo. Os deputados à frente desses postos têm a missão de indicar outros cargos dentro da estrutura da Câmara, o que aumentoa o poder dos distritais escolhidos. Também disputados na Casa são os dois colegiados com poder de dar decisão final sobre aprovação de projetos: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof). Existem outras comissões, as temáticas, como de educação, saúde, segurança, em que as decisões tomadas precisam ser submetidas ao plenário.

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