quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Sobra crédito no comércio exterior


A reunião da Federação Latino-Americana de Bancos no Rio de Janeiro esta semana demonstrou que a alta dos juros nos Estados Unidos não secou nem um pouco da abundante liquidez para os países emergentes. Nas salas de negociação paralelas ao evento oficial, bancos recusavam linhas de crédito para comércio exterior - a maior parte tem limites de duas a três vezes sua necessidade de financiamento. Cada banco adota uma estratégia diferente para lidar com a alta liquidez.

"No curto prazo está sobrando linha, mas a carteira de financiamento ao comércio exterior deve ficar no mesmo nível do ano passado", diz o diretor internacional da Febraban e do Santander, Airton Villafranca. Grandes exportadores estão muito líquidos e dificilmente tomam recursos de curto prazo. A questão não é mais de custo, que já atingiu um piso. Linhas de 90 a 180 dias custam Libor mais 0,15 ponto percentual, e de um ano, Libor mais 0,25. "Mesmo chegando a investment grade não há muito mais o que reduzir nessas linhas. O Chile paga Libor mais 0,05 a 0,08 ponto", diz. Para prazos maiores, entre dois e cinco anos, há um pouco mais de demanda das empresas para financiamento de projetos, e o custo oscila entre Libor mais 0,35 ponto (dois anos) a Libor mais 0,85 (cinco anos). Embora o 'spread' tenha caído, o custo da taxa básica (Libor de um ano) subiu de 4,8% há 12 meses para 5,34% hoje.

Com a menor demanda de grandes exportadores, bancos estrangeiros estão aumentando o financiamento à importação em suas carteiras. "Hoje o importador não segura tanto o fechamento de câmbio esperando novas quedas do dólar como ocorria há um ano".

Villafranca diz que muitas empresas estão preferindo usar o mercado de capitais para financiamento, porque o diferencial de custo de captação diminuiu (antes saía muito mais caro emitir ações, por exemplo).

"Hoje, ao contrário das reuniões anteriores, não queremos nem ouvir falar de mais linhas. Estamos tentando atuar no mercado de maneira diferente. Participar, por exemplo, de sindicatos de empréstimos de empresas de outros países da América Latina", conta o diretor do Bradesco Guilherme Lembi de Faria. O diretor do maior banco privado diz que em alguns casos as empresas preferem tomar capital de giro no curto prazo, em reais, do que fazer uma operação vinculada à exportação.

Os maiores bancos brasileiros, acredita, têm condições de participar de maneira relevante em distribuições latino-americanas, e atuar como coadjuvantes em grandes empréstimos nos Estados Unidos e Europa, como por exemplo na sindicalização do crédito concedido à Vale do Rio Doce para compra da Inco.

Por sua grande clientela de empresas pequenas e médias, o Bradesco continua com uma carteira relevante em comércio exterior - US$ 8,5 bilhões, dos quais US$ 3 bilhões são em ACC (adiantamento de contrato de câmbio) e ACE (adiantamento sobre cambiais entregues). O banco nem calcula mais quanto tem em oferta de linhas em relação à demanda. Fontes do Banco Votorantim dizem que o humor dos bancos internacionais com o Brasil é "excelente". Todas as instituições, para manter o bom relacionamento com os estrangeiros, dividem sua demanda de linhas entre os correspondentes.

A sobra de liquidez não ocorre apenas para bancos grandes, mas também para instituições de médio porte. O diretor do Banrisul, Ricardo Hingel, diz que tem limites de duas a três vezes o tamanho de sua demanda. A carteira de comércio exterior da instituição deve cair cerca de 10% neste ano, para US$ 100 milhões, por causa da crise vivida por exportadores do estado. O setor calçadista de menor valor agregado, afetado pelo câmbio valorizado, está perdendo a disputa com produtos chineses e muitas companhias estão em má situação. As do segmento mais sofisticado estão sacrificando margens para manter as exportações. A agricultura também vai mal.

A Caixa Econômica Federal (CEF) participou este ano pela primeira vez da reunião da Felaban, iniciando suas operações de comércio exterior- a autorização foi recebida em setembro. Segundo o gerente de negócios internacionais da CEF, Mário Ferreira Mattoso, a Caixa decidiu entrar no nicho, já bem atendido pelo Banco do Brasil, porque tem experiência em repassar linhas de financiamento de organismos multilaterais como o BID e o Banco Mundial. Mas este tipo de créditos é concedido a governos, com fins sociais.

Segundo Mattoso, a Caixa tem 4 mil clientes empresariais, dos quais 3 mil são exportadores. A CEF recebeu ofertas de crédito durante a reunião, disse.

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