terça-feira, 28 de novembro de 2006

Palácio pressiona e PT recua


Depois de conversar com Lula e Tarso Genro, Marco Aurélio Garcia anuncia disposição de negociar presidência da Câmara com aliados. Declaração contraria decisão tomada pelo partido no fim de semana

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou nos últimos dias estar decidido a impedir que o PT lhe crie problemas políticos, como ocorreu no primeiro mandato. Depois de arrancar uma declaração pública do partido de que aceita abrir espaço para os aliados no governo, Lula fez a legenda recuar da decisão de lançar a qualquer custo candidato à presidência da Câmara. No final de semana, durante reunião do Diretório Nacional petista, os integrantes do partido anunciaram a decisão de disputar a sucessão da Câmara.

Ontem, o presidente da sigla, Marco Aurélio Garcia, avisou que os colegas aceitam negociar o cargo para não repetir os erros que levaram à eleição em 2005 do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) (leia ao lado). O ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, foi incumbido por Lula da tarefa de enquadrar o PT. Ontem, durante reunião no Palácio do Planalto com o Marco Aurélio e com integrantes da executiva do partido, Genro recomendou ao partido que seja mais cuidadoso ao tratar da disputa pela presidência da Câmara a fim de não provocar problemas para o presidente Lula.

Marco Aurélio, que também se reuniu com Lula, saiu do encontro apresentando uma posição mais maleável do que a defendida pela direção petista. Ele garantiu que a intenção do PT de postular a presidência da Câmara “não é irredutível”. O objetivo, jurou, é encontrar um candidato de consenso na base aliada. “A eleição deve corresponder a essa política de coalizão mais ampla que estamos começando a implementar. O que haverá são negociações da bancada petista com outras bancadas para tentar encontrar uma solução comum que poderá ser essa (candidato do PT) e poderá ser outra. O que queremos enfatizar é que não haverá nenhum conflito a esse respeito”, justificou Marco Aurélio.

O presidente interino do PT avisou que o partido está aberto “a qualquer solução”. Três partidos da base — PT, PCdoB e PMDB — postulam a presidência da Câmara. O PT tentará viabilizar o nome do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). O PCdoB conta com a preferência de Lula pela reeleição de Aldo Rebelo. O PMDB apelará à tradição de ter feito a maior bancada para conquistar o cargo e tem como candidatos os deputados Eunício Oliveira (CE) e Geddel Vieira Lima (BA).

A derrota do governo e do partido na disputa do ano passado ainda está na memória dos petistas. “Esse episódio serviu de lição para todos para que não tenhamos repetição daquele episódio que houve em 2005. Mas quando se tratou da sucessão do deputado Severino, a base do governo teve a sabedoria de se unificar e ter uma boa solução. Esta será a obsessão do governo”, garantiu Marco Aurélio.

Alta qualidade
Marco Aurélio enfatizou que o PT não vai gerar conflito entre o Palácio do Planalto e o Congresso. “Os nomes que o PT dispõe e estão sendo aventados são nomes de alta qualidade que poderiam perfeitamente honrar a Câmara dos Deputados, mas não queremos fazer disso um momento de conflito entre Executivo e Legislativo”, justificou. Segundo Marco Aurélio, Lula não lhe externou a preferência por Aldo. “O candidato preferido do presidente é aquele que a base de sustentação escolher”.

Marco Aurélio Garcia negou que o governo e o PT tenham projetos para controlar a imprensa. “Nem de curto, nem de médio, menos ainda de longo prazo. A imprensa funciona normalmente no Brasil, tem liberdade absoluta de funcionamento”. Ele explicou que, mesmo não havendo nenhuma disposição nesse sentido, isso não impede tanto ele quanto o presidente Lula de expressar desconforto com determinadas afirmações e edições. “O nosso desconforto, o desconforto individual com a imprensa seguramente é bem menor do que o desconforto de certos jornalistas com o governo. No mínimo, estamos empatados”.

Memória
Derrota anunciada

A insistência do PT em lançar um candidato à presidência da Câmara em 2005 levou à vitória inesperada do rei do baixo-clero, o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). A base aliada manifestava profunda insatisfação em relação ao Palácio do Planalto e os nomes petistas eram rejeitados devido à vinculação com o governo. O PT, por ter a maior bancada, reivindicava o comando da Câmara.

Integrantes de partidos aliados bem que tentaram convencer os petistas a abrir mão da candidatura e apoiar um nome de outra sigla. Mas a bancada petista travava uma feroz disputa de correntes internas para escolher um candidato. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e os deputados Professor Luizinho (PT-SP) e Virgílio Guimarães (PT-MG) participaram de uma prévia.

A interferência do Palácio do Planalto, porém, levou à escolha da candidatura do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Para os aliados, foi desastrada a escolha de Greenhalgh. Além de ter de enfrentar a insatisfação dos colegas com o governo, ele era um nome com forte rejeição na Casa por ser considerado “elitista”. Greenhalgh nem chegou ao segundo turno da eleição.

Graças a uma plataforma cujo ponto principal era o aumento de salário dos deputados, Severino disputou e venceu o segundo turno contra José Thomaz Nonô (PFL-AL). O PT ficou sem qualquer cargo na Mesa Diretora. Depois de sete meses, Severino renunciou ao mandato sob acusação de corrupção. O governo se rearticulou e conseguiu emplacar Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que tem mandato até fevereiro. (HB e SL)

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