sábado, 30 de agosto de 2008

Em São Paulo, "militância paga" tem salários de até R$ 900


Antes de embarcar na perua que leva os cabos eleitorais para as ruas do centro de São Paulo, a coordenadora de equipe fez as recomendações finais: "Não é para falar com os jornalistas", disse, sem saber que falava com um deles. "Os repórteres vão te assediar, vão perguntar quanto te pagam, quem te contratou... Não dê nenhuma informação".

Para me tornar um dos "militantes de retaguarda" de Geraldo Alckmin (PSDB) - seguindo o candidato com bandeiras e panfletos, fazendo "volume" em sua agenda de rua - receberia R$ 10 em vales-refeição diários, mais R$ 900 mensais

Foi o salário mais alto que encontrei em duas semanas procurando trabalho, sem me identificar como repórter, nos comitês dos três principais candidatos à prefeitura de São Paulo.

Panfletar para Marta Suplicy (PT) renderia R$ 450, mesmo valor oferecido pelo comitê de Gilberto Kassab (DEM), que paga, ainda, R$ 10 diários para refeição.

O abismo salarial de 100% entre os valores se explica pelos diferentes patamares do "plano de carreira" dos cabos eleitorais. Os militantes que atuam no corpo-a-corpo com os candidatos são recrutados pelos comitês centrais e chegam, geralmente, por indicação. Ocupam um posto "mais alto" e têm salários maiores.

Quem coordena as equipes de rua ou desempenha funções de escritório nos comitês está em posição intermediária dessa hierarquia. No comitê central da campanha de Kassab, em São Paulo, pagam-se R$ 800 para essas duas funções.

Já os cabos eleitorais que atuam nos bairros são recrutados pelos comitês regionais e ganham valores próximos ao salário mínimo, que é R$ 415.

Há, ainda, os recrutados por candidatos a vereador, que fazem panfletagem também para os candidatos à prefeitura e têm salários parecidos aos cabos eleitorais dos comitês regionais, por volta de um salário mínimo.

Esses valores, oferecidos enquanto procurava trabalho, não podem ser divulgados pelos cabos eleitorais aos jornalistas. As campanhas das três candidaturas também se negam a fornecê-los agora. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), "os candidatos são obrigados a discriminar o total de recursos gastos com cabos eleitorais ao fim na prestação de contas ao fim das eleições, mas os partidos já podem fazê-lo nas prestações de contas parciais para dar à sociedade maior transparência ao processo".

Por telefone, a assessoria de imprensa de Alckmin disse que "a maioria dos cabos eleitorais da campanha de Alckmin são voluntários, inclusive os que o acompanham nos compromissos em rua".

A assessoria de imprensa de Marta diz que "os dados a respeito das equipes de campanha são considerados estratégicos e não serão divulgados". A de Kassab também não quis dar os valores.

A "militância paga" é prática comum nas campanhas de todo país. Segundo a legislação eleitoral, os cabos eleitorais não têm "vínculo empregatício" com os candidatos nem com os partidos e, por isso, não têm direitos trabalhistas. (Uol)

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