quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Produção supera emprego na maioria dos Estados


A produção industrial no primeiro semestre desse ano cresceu acima do emprego em nove dos 13 Estados que compõem a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física Regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A tendência é positiva por mostrar que a produção tem crescido com ganho de eficiência da indústria. No país, a alta da produção de janeiro a junho deste ano foi de 6,3%, enquanto a evolução de emprego formal medida pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi de 4,54% na indústria de transformação. As projeções são de que a produção industrial feche o ano com crescimento um pouco abaixo de 2007, o que deverá também desacelerar o ritmo das contratações.

Os setores que puxaram o crescimento da produção no conjunto de Estados são o automobilístico - que impacta a indústria siderúrgica, de autopeças e de borracha -, o da construção civil - com influência sobre a produção de aço e minerais não-metálicos -, o de bens de capital, com impacto sobre a indústria siderúrgica, e o de materiais de transporte. Do outro lado, alimentos, têxtil, vestuário, madeira e calçados vieram com fôlego menor. "Eles são candidatos à redução de demanda quando há inflação mais alta", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Com crescimento de 1,3% da produção, bem abaixo da média nacional, a indústria de Santa Catarina empregou 4% a mais no primeiro semestre de 2008. Essa diferença pode ser explicada pelos setores têxteis, de vestuário e de alimentos. A produção de têxteis cresceu 1,78% de janeiro a junho, e a de vestuário caiu 2,08%, mas os empregos, segundo dados do Caged, aumentaram 4,03% nos dois setores. Esse aumento pode estar relacionado ao crescimento da produção nos últimos três meses, que foram mais fortes, de 15,04%, 8,92% e 10,47%, respectivamente, em relação ao ano anterior.

A produção de alimentos também cresce menos que o emprego no Estado, o que segundo a coordenadora da pesquisa do IBGE, Isabella Nunes, pode ser reflexo dos embargos recentes às carnes, representativas na produção catarinense. "A pressão da inflação sobre a demanda ainda não está agindo", diz ela. Outros setores que cresceram no Estado também registraram forte altas de emprego, como a indústria de borracha, alta de 10,1% na produção e de 8,6% nas contratações, e o setor automotivo, que produziu 13,38% a mais, com alta de 8,96% dos empregos em material de transporte.

Em Goiás, o emprego cresceu 13% no primeiro semestre, enquanto a produção industrial teve alta de 11,1%. O setor que deu maior impulso à produção foi o de alimentos (13,83%), que no mesmo período empregou 22,55% a mais. "Alimentos é um setor intensivo em mão-de-obra e o que mais emprega em todo o país", diz Isabella. Além disso, alimentação representa 60% da indústria de Goiás, que tem se beneficiado dos aumentos de demanda, tanto interna quanto do mercado externo.

No Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, a diferença entre produção e emprego foram pequenas, e podem refletir distorções provocadas por safra, como no caso do fumo, que teve queda de 15,53% da produção no semestre no Rio Grande do Sul, e queda de produção em setores não intensivos em mão-de-obra, como o de refino de petróleo no Rio de Janeiro (menos 1,62% segundo o IBGE).

Pernambuco, diferente da tendência nacional, apresentou uma queda forte do emprego na indústria de transformação, de 11,81%, apesar da produção ter crescido acima da média do país, com alta de 7,9%. Segundo a coordenadora do IBGE, esse fenômeno deve estar ligado à safra da cana-de-açúcar, que vai de setembro até março e abril. "O refino de álcool é forte no primeiro semestre, com alta de 129,92%, mas nos últimos meses devem ter ocorrido demissões", diz Isabella. Setores intensivos em mão-de-obra também tiveram queda na produção, como o têxtil (menos 10%) e calçados (20,65%), o que pode ter contribuído para o resultado.

O Espírito Santo foi destaque em aumento da produção, com alta de 16,1%, enquanto a evolução do emprego ficou em apenas 4,69%. A produção da indústria foi puxada pela metalurgia básica (32,89%), que também foi forte no crescimento do emprego (17,73%), mas na média o emprego cresceu menos no Estado, que tem uma indústria pouco diversificada.

De maneira geral, todos os setores fortes na indústria estão presentes em São Paulo, cuja produção cresceu 9,8%, e foi a única que acelerou mais o ritmo do primeiro para o segundo trimestre deste ano (de 9,1% para 10,4%) em relação aos mesmos períodos de 2007.

Como os setores mais fracos na produção estão mais espalhados no país, e eles é que devem sentir mais fortemente os impactos da política de aumento de juros, os analistas acreditam que o segundo semestre desse ano trará uma desaceleração da produção e do emprego. "Apesar dos resultados positivos, tanto produção quanto emprego mostram sinais de desaceleração, por razões que vão desde ajuste de estoque ao impacto da política de juros", diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores. Ele estima que a produção industrial em 2008 será de 5,4%, frente a 6% no ano passado, e o emprego formal crescerá 5%, enquanto em 2007 a alta foi de 5,84%.


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