sábado, 30 de agosto de 2008

Usar o instinto ou a tática para vencer.


O que está se passando com aquele homem que reúne multidões, que fala em esperança e diz que "sim, nós podemos"? Nada que esteja muito longe do previsível. Barack Obama está perdendo espaço para as forças estabelecidas. Barack Obama não é aceito por aqueles que comandam o poder, tanto à esquerda como à direita. Não se faz política do jeito de Barack Obama, por isso a sua campanha se desequilibra quando esse poder mais alto se levanta e começa a trabalhar lenta, mas inexoravelmente para esmagá-lo.


Eles estão ganhando e Barack Obama caiu na cilada: começa a agir usando técnicas dos inimigos. Troca o instinto pela tática. E isso pode ser a sua perdição. O instinto do candidato democrata era a sua única tática e foi assim que ele conquistou os jovens, os novos eleitores, os intelectuais, os artistas, os boêmios, los locos y también los noble elaburantes, a classe média que não concorda mais com governos forjados pela truculência, pela arrogância e também pela mentira. A armadilha daqueles que querem neutralizar Obama foi posta no caminho. E ele está prestes a cair nela.

O problema do candidato à presidência dos Estados Unidos mais importante das últimas duas décadas não está no seu opositor, John McCain. O republicano é apenas uma peça da engrenagem. O problema de Barack Obama são todos aqueles que não aceitam uma outra forma de fazer política. Aí incluídos Hillary Clinton, sua companheira de partido que disputou com ele a indicação para a candidatura. E, por incrível que pareça, o problema está principalmente nos eleitores que transformam o voto numa relação mercantil, numa transação de compra e venda de valores de consumo, que antes já foram valores morais.

É preciso saber até onde vai o compromisso de Barack Obama com aqueles que tornaram a sua candidatura irreversível. Não havendo um limite para o recuo, para o abandono dos princípios que nortearam a "obamania", não vale a pena. É melhor deixar pra lá.

Michael Moore, o diretor de "Tiros em Colombine", "Fahrenheit 9/11", no seu blog, aconselhou Obama a não se alinhar com a direita. Moore não tem postura isenta para ser consultor de coisa nenhuma. Mas o que ele diz faz sentido. Segundo o ativista político a sociedade norte-americana adotou os valores do Partido Democrata, a defesa do meio ambiente, os direitos das mulheres, o aumento do salário mínimo, a luta pelos planos de saúde para todo mundo. No entanto, diz ele, "o establishment democrata só consegue entregar as eleições para o Partido Republicano". Michael Moore pede a Obama que se concentre em recuperar o voto feminino e proponha como candidata à vice-presidência Caroline Kennedy, filha do ex-presidente assassinado John Kennedy.

O desabafo de Moore tem fundamento porque não é só ele que reclama da maneira como a cúpula dos democratas trata as coisas. Dick Morris, o conhecido homem de marketing político que fez inúmeras campanhas inclusive a de Bill Clinton, explica que os democratas falam coisas bonitas, mas quem ganha as eleições são os republicanos. Outro motivo de estranhamento é a forma com que Hillary Clinton, que faz parte do grupo que controla o partido, ainda interfere na campanha, embora tenha sido derrotada por Obama.

O caso é que Barack Obama prometeu repetidas vezes que não usaria métodos de disputa da política convencional. Mas logo em seguida da divulgação das pesquisas em que ele está em segundo lugar começou a aparecer propaganda negativa contra McCain. São anúncios vinculados em estados fundamentais na eleição de 4 de novembro porque tem uma parcela expressiva de indecisos. Os filmetes tratam o adversário republicano como um elitista, distante dos problemas e do sofrimento da classe trabalhadora do país. Obama quer ligar de forma mais estreita McCain com George W. Bush. Sua campanha faz ironia ao anunciar um livro inexistente: "Economia por John McCain: apóiem Bush 95% do tempo, sigam gastando 10 bilhões de dólares na guerra contra o Iraque".

É uma resposta clara aos ataques de McCain feitos quando Obama estava de férias no Havaí e foi acusado de ser evasivo no caso do ataque russo à Geórgia e ser mais "falador" do que "fazedor". Mas um grupo de assessores de Obama acha que a reação ainda é tímida. A campanha negativa tem que tornar-se pessoal contra McCain, tem que explicar que ele teve uma aventura adultera antes de se separar da primeira mulher, que desfruta de oito casas em todo o país e que tem aviões à sua disposição. Esse pessoal que quer partir para a briga também acha que é preciso chamar a atenção dos votantes para as mudanças do candidato republicano em temas como imigração, diminuição de impostos para os ricos e tortura.

Por tudo isso Barack Obama vai ter que tomar a sua decisão. Uma decisão difícil e que pode significar a vitória ou a derrota. Mas o que importa para a imagem que foi construída em volta do democrata é saber: como será essa vitória, ou como será essa derrota? E qual será o custo dessa decisão.

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